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O que aprendi com os games: Persistência

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“Videogame torna as pessoas violentas”.

“Videogame vai te deixar burro”.

“Videogame faz mal para a vista”.

“Videogame estraga a televisão”.

Se você nunca ouviu uma frase como essa é provável que tenha vindo de uma família que apoiava sua jogatina e enxergava a beleza dos jogos eletrônicos em uma época onde a tecnologia apenas engatinhava no Brasil. Contudo, a probabilidade de você já ter ouvido essas e outras dezenas de frases preconceituosas é extremamente alta. O pior é que essas pessoas que pensam que jogos eletrônicos não servem para nada estão imersas em seus aplicativos de redes sociais expostos aos efeitos da gamificação por todos os lados e nem se dão conta.

Para um garoto franzino que cresceu solitariamente em uma fortaleza de concreto, as aventuras de Mario, Sonic, Cloud Strife, Lara Croft e muitos outros personagens importantes dos games foram mais do que apenas diversão. 

Que jogo difícil!

Estava lendo um livro tranquilamente na cadeira da sala de jogos da escola em que trabalhava enquanto um de meus alunos se aventurou a jogar Super Mario World em um emulador baixado sem autorização em um dos computadores. Como um bom e véio gamer, decidi deixá-lo quebrar as regras em prol de uma nostálgica jogatina. Ouço um desabafo após duas tentativas mal-sucedidas.

– Não quero mais!

Era apenas a terceira fase. O garoto havia perdido duas vidas e já estava de saco cheio do pequeno encanador. Ouço-o dizer que Mario é um péssimo jogo. Naquele momento, resolvi intervir e saber o porquê daquela conclusão precipitada. O motivo principal foi que “o jogo era muito difícil”. O garoto extremamente frustrado pegou seus materiais, levantou-se e disse que ia embora.

“Mario é um jogo difícil?”, pensei. Como eu tinha algumas horas livres, resolvi sentar na frente do computador e relembrar os velhos tempos.

Aproveitando cada segundo

Fazia anos que não jogava Super Mario e me surpreendi por ainda conseguir jogar tão bem. Depois de várias fases parei para refletir um pouco e me vi com oito anos de idade jogando Super Nintendo na casa de um amigo.

Naquela época não havia internet em casa, poucas pessoas possuíam um computador e ninguém sabia da existência de emuladores. Para jogar algo, era necessário comprar o cartucho ou ir na casa de algum amigo que o tinha. As locadoras também eram uma opção, mas nunca fui uma criança sociável e preferia o conforto da minha casa. Era dono de Mega Drive, então tive pouco contato com Super Mario World. As poucas horas de jogatina na casa de um colega de escola me levaram a um mundo desconhecido e cheio de coisas a explorar.

Os anéis espalhados pelas fases se transformaram em moedas. O objetivo principal era salvar a princesa ao invés de libertar os inofensivos animais presos em carcaças robóticas. O controle tinha 4 botões ao invés de três. Todas essas diferenças não me impediram de amar ambos os mundos. O importante era aproveitar todo o tempo possível na presença do SNES.

Minha primeira aventura no console da Nintendo não foi muito próspera, como a do garoto de 15 anos na escola. Perdi todas as vidas rapidamente, voltando à tela de título. Bom, e o que foi que eu fiz? Comecei novamente. Com os erros da primeira tentativa havia aprendido formas de não vencer os desafios que as fases propunham. Logo, passando pelos mesmos caminhos, tentava reproduzir os antigos acertos e mudava a estratégia nos lugares onde havia falhado. Lentamente, com o passar dos dias, fui aprendendo a desviar com eficácia dos inimigos.

Esse deveria ser o processo básico de aprendizado para qualquer coisa na vida: cair 10 vezes, levantar 11. Perder 3 vidas, ver a tela de Game Over e começar novamente. É assim que se supera os maiores desafios.

Como seria o mundo se desistíssemos?

Já imaginou se o Mario resolvesse que a princesa Peach não merece ser salva e se dedicasse a plantar cogumelos ao invés de ir enfrentar um mundo de dor e sofrimento para resgatar sua amada? O impacto não seria dos maiores, mas perderíamos uma bela aventura de superação.

Agora imagine a seguinte conversa no mundo de Dragon Ball:

– Goku, você precisa salvar o mundo!

– Ah, não tô a fim! O Majin Buu é forte demais.

Talvez você não estivesse atrás da telinha lendo esse texto se não fosse pela persistência do nosso herói que morreu várias vezes para nos salvar. Vale lembrar que eu o ajudei a fazer a Genki Dama. E você?

Um dos anti-heróis dessa mesma saga nos ensinou algo que passou despercebido e vale a pena conferir. Vegeta, durante a luta contra Freeza, diz que seu poder de luta aumenta sempre que passa por situações de vida ou morte. Parece insanidade à primeira vista, mas é nas derrotas que ficamos mais fortes e aprendemos a lidar com desafios que aparentemente são impossíveis. O nosso medo de falhar é uma das coisas que alimentam nossas fraquezas.

Jogar Street Fighter II, por exemplo, com um amigo que é pior que você somente pelo conforto da vitória não irá torná-lo melhor no jogo. Entretanto, após várias derrotas, é capaz de seu amigo superá-lo. Então, fique esperto! Invista um pouco nas derrotas contra um adversário melhor para poder aumentar seu poder de luta.

O efeito placebo

Quando era pequeno e tive meu primeiro contato com o PlayStation presenciei um certo medo de jogar Resident Evil. A ideia de morrer para aqueles zumbis nojentos me assustava. Resolvi recorrer ao GameShark para ter mais confiança. Com vida infinita, nada de mal poderia ocorrer, e mais tarde eu estaria confiante o suficiente para jogar normalmente.

Joguei durante muito tempo assim e consegui passar por dezenas de desafios. Eu era invencível. Após finalizar o jogo com a Jill, resolvi tentar com o Chris. Com o jogo finalizado por duas vezes, fiquei sabendo que era possível testar vários finais diferentes, então joguei mais algumas dezenas de vezes.

Em uma dessas jogatinas acabei sendo decapitado por um Hunter e fiquei intrigado. “Mas o Game Shark não me dá vida infinita? Como foi que eu morri?”, pensava. Resolvi deixar que os zumbis me atacassem para testar a veracidade dos cheat codes que estava utilizando. Descobri que a trapaça não passava de balela, lorota, conversa para boi dormir.

Então, como foi que consegui finalizar o jogo várias vezes se tinha medo de tudo o que se encontrava naquela mansão? Aparentemente, a única coisa que me ajudou foi a confiança que tive em mim mesmo. Estava tão decidido a finalizar Resident Evil e conhecer os diferentes finais que nem me dei conta da possível dificuldade que enfrentaria. Apenas fui desvendando um puzzle atrás do outro e exterminando os inimigos em meu caminho.

Por fim, o maior aliado que você poderá encontrar é a sua própria confiança e determinação para completar os objetivos, por mais difíceis que estes pareçam ser no começo da sua jornada.

Como encarar os jogos antigos?

Como um bom e véio retrogamer barrigudo e cheio de cabelos brancos, você já deve ter encarado jogos difíceis como Battletoads, Ghouls ‘n Ghosts, Contra e muitos outros. Já os finalizou ou parou na primeira fase?

Aparentemente, conhecemos muitas pessoas que passam longe desses títulos por insegurança. Garanto que o máximo que pode acontecer é você falar vários palavrões durante o gameplay, se irritar e jogar o controle no chão, pois não há situação de perda maior que um controle quebrado (pelo contrário, as tantas vidas perdidas nos jogos aumentarão sua destreza e contribuirão para uma melhora significativa na sua formação gamer). Os únicos vitoriosos em uma situação difícil são aqueles que não desistem. Você perderá 100% das batalhas que resolver não lutar.

Se você tem preguiça de finalizar aquele ótimo jogo apenas por ele ser difícil, não há problema. Sabemos que boa parte das pessoas que recorrem aos jogos digitais a procura de conforto e algumas horas de distração no fim de semana. Mas, já parou pra pensar como aquela boa dose de desafio pode colocar sua motivação lá em cima e transformar-lhe em uma invencível máquina finalizadora de jogos?

Aproveite o próximo fim de semana para zerar aquele jogo que você tanto queria quando era criança e acabou abandonando-o simplesmente por frustração. Não há sensação melhor que a de dever cumprido!


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Lucas Rodrigues

Lucas Rodrigues

Gamer desde que tem memórias de sua infância, a paixão pelos videogames iniciou-se no Mega Drive e teve seu ápice no PS1 com os JRPGs (a franquia Final Fantasy foi a protagonista). Trabalha como analista de sistemas e designer de jogos. Possui mestrado em Imagem e Som em andamento pela Universidade Federal de São Carlos, onde desenvolve pesquisas sobre o mercado independente de jogos brasileiros. Sempre escolheu o Squirtle como pokémon inicial e possui alinhamento Neutral Good.

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