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Castlevania: Rondo of Blood e o apogeu da série no PC-Engine

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Sombrio, desafiador, com trilha sonora incrivelmente bela e lindos gráficos, Castlevania: Rondo of Blood fez história no PC-Engine, apresentando umas das melhores, se não a melhor, aventura da saga antes da liberdade de exploração vista em Symphony of the Night.

Nascendo das trevas

A série Castlevania já era uma das mais importantes da indústria de videogames na primeira metade da década de 1990 quando a Konami lançou um título da saga dos Belmont contra Drácula para um console de mesa que não era da Nintendo, como todos esperavam. O console da vez era o PC-Engine (TurboTurboGrafx-16, no ocidente), da NEC. O jogo em questão era Akumajo Drácula X Chi no Rondo, ou Castlevania: Rondo of Blood, publicado em 29 de outubro de 1993.

O título é o elo definitivo entre a ação linear que caracterizou a origem da série com a livre exploração de cenários com rotas alternativas que definiria Castlevania a partir de Symphony ofthe Night. Tudo isso envolvido em um requinte técnico impressionante que criou uma aura de mistério e culto sobre esse game tão adorado pelos fãs.

Eterno confronto

Mesmo lançado longe dos consoles da Nintendo, Rondo of Blood não abandonou as origens da série. A trama segue o embate milenar entra a família Belmont e o Conde Drácula, o lorde das Trevas que renasce de seu sono eterno a cada cem anos para levar caos e destruição ao mundo.

Agora o caçador de vampiros responsável por enfrentar o vilão é o jovem de 19 anos Richter Belmont, herdeiro do famoso chicote Vampire Killer e descendente de Simon Belmont, herói que lutou contra as hordas do mal no passado.

A luta de Richter tem início quando ele descobre que Shaft, servo de Drácula, havia sequestrado Annette, o seu grande amor. Assim, querendo salvar sua amada e derrotar o lorde das sombras, Richter Belmont parte em uma intensa e violenta jornada pelos arredores da Transilvânia, enfrentando todo o exército de seu eterno algoz para salvar as donzelas que Drácula abduziu desde o seu retorno.

Aventura sangrenta

Rondo of Blood é um típico jogo de ação com progressão lateral, em que o jogador controla apersonagem por cenários 2D — algo familiar para qualquer um que tenha experimentado os Castlevanias anteriores. Andar, saltar, atacar com o chicote e usar os itens especiais que consomem corações fazem parte da aventura.

Porém, o jogo traz algumas novidades na jogabilidade. A primeira delas é o movimento do próprio protagonista, que agora pode dar um salto no ar que ajuda e escapar de inimigos e alcançar outras plataformas com facilidade. O novo salto duplo acrescentou camadas novas e interessantes para a jogabilidade, tornando a jogatina mais ágil— necessária para superar alguns desafios dos cenários.

É indispensável ter precisão para os trechos de plataforma e agilidade nos combates, principalmente em chefes com padrões de combate diversos e cheios de surpresas — é bom ficar atento quando derrotar cada chefe.

A segunda novidade está nos itens especiais que ganharam um poder extra que gasta mais corações para gerar um golpe muito mais poderoso. Além do tradicional arremesso de cruzes, águas bentas e machados, agora é possível conjurar especiais que, muitas vezes, acertam todos os inimigos na tela.

Sangue fresco

As novidades não param por aí. Em Rondo of Blood, também podemos controlar outro personagem. Outra, aliás. Ela é Maria Renard, parente distante de Richter que é desbloqueada após ser libertada no jogo.

Com Maria, o jogador ganha mais agilidade na movimentação, um salto duplo e mais poder de fogo graças aos seus ataques que “vão e voltam” acertando os inimigos. Infelizmente, ela é bem mais frágil do que o herói principal, sofrendo grandes danos com mais facilidade.

O fato de controlar outro personagem além do protagonista, como em Bloodlines do Mega Drive, traz novas possibilidades para o gameplay, ajudando a prolongar o interesse do jogador, já que permite uma nova e interessante forma de explorar os cenários e desbravar novas rotas.

Sem rota certa

Clastlevania Rondo of Blood permite ao jogador explorar os vastos cenários do jogo, com liberdade para transitar entre plataformas e vencer os inimigos do jeito e no tempo que precisar. Dá para enfrentar os adversários com calma e procurar por segredos em cada cantinho do cenário. Além disso, durante as fases, temos como encontrar rotas diferentes dentro do mesmo cenário, que levam para fases novas com inimigos próprios e desafios únicos.

Embora Clastlevania III já tenha trabalhado esse conceito, em Rondo of Blood a opção de seguir a missão por um caminho diferente não é feita após a conclusão do estágio, mas dentro da própria fase, tornando tudo muito mais orgânico. Não se deixe enganar pela estrutura aparentemente linear do jogo. Cada estágio esconde uma quantidade enorme de segredos, como passagens secretas, abismos que levam a outros lugares da fase e muitas paredes quebráveis que revelam itens.

Quem jogou Symphony of the Night se identificará com a constante busca por paredes falsas. Será comum você passar por toda a fase tentando quebrar cada cantinho em busca de segredos, entre eles, as jovens sequestradas por Drácula e seu exército de criaturas das trevas que povoam toda a jornada do caçador de vampiros.

Saga sangrenta

A jornada de Richter começa em um prólogo no qual ele enfrenta a Morte enquanto cavalga até o Castelo do Drácula. Em seguida, o primeiro estágio traz as ruínas da cidade de Aljiba, um cenário bastante familiar para os fãs de Simon’s Quest —só que, dessa vez, com todas as representações religiosas que a Nintendo americana tevede censurar por fazerem apologia ao cristianismo. Já nessa fase, podemos seguir duas rotas diferentes que levam a outras duas fases distintas. Dependendo da escolha, o segundo estágio pode ser o salão principal de um Castelo ou as lindas pontes do Lake Brige.

Também existem duas possibilidades de rota na 3ª fase. A primeira, a rota convencional, o levará para a imponente Capela; para quem encontrar o barqueiro escondido na fase do lago, será levado até um cemitério repleto de monstros. Na fase 4, o jogador percorrerá as masmorras, mas, caso opte por seguir uma linha alternativa, o desafio será nas lindas cachoeiras de águas azuis e troncos que servem de plataforma.

O estágio 5, por sua vez, reservam alguns dos trechos mais tensos do jogo. Na rota principal, temos um imponente navio fantasma dominado por esqueletos e, no caminho secundário, percorremos as docas ocultas com uma enxurrada de inimigos. Perto do confronto final, o estágio 6 é um grande salão de mármore onde Shaft está escondido. Aqui é possível recarregar o arsenal e enfrentar o PhantomBat, a Medusa, a Múmia, o Frankestein e, finalmente, Shaft. Depois da maratona de lutas, é a vez da Torre do Relógio na fase 7, tradicional cenário da série e, para os fãs de Symphony ofthe Night, um trechinho incrivelmente familiar.

A batalha final do jogo é contra o próprio Drácula no alto de seu castelo. A caminhada pelas escadas fará os mais saudosistas jogadores de Castlevania no PS1 finalmente entenderem o início de Symphony of The Nigth. A luta contra o Conde das Trevas é épica, com direito a uma transformação destruidora que consumirá muito da sua paciência — nada que um pouco de atenção e agilidade não resolvam,só não espere facilidade.

De matar

Este exclusivo de PC-Engine é tecnicamente surpreendente e considerado, por muitos gamers, um dos melhores títulos (se não o melhor) para o console. A justificativa está na excelente combinação entrejogabilidade, visual, trilha sonora e ambientação.

Logo de cara, a história é apresentada por meio de cenas (quase)animadas, com direito a dublagem. Junte a isso efeitos sonoros “quase reais” (como chamávamos na época) e terá a combinação perfeita que gerou um dos melhores e mais convincente ecossistema da série Castlevania até aquele momento.

Visualmente, o jogo é um dos mais bonitos do PC-Engine, com personagens bem animados, estágios variados e diversas camadas de fundo e sobreposição. Cada detalhe parece pensado para impressionar — e olhe que são muitos detalhes mesmo, principalmente escondidos pelos cenários.

Outro destaque, se não o maior, é a trilha sonora. Graças ao poder de armazenamento e qualidade de reprodução do CD, os arranjos do jogo são de arrepiar. Tem música cantada e todas as canções tocadas com instrumentos de verdade. Dá para ouvir claramente cada virada de bateria, instrumento de sopro, órgãos antigos, riffs e solos de guitarra e linhas de baixo marcantes.

O estilo da trilha é o mesmo que caracteriza a série, com músicas agitadas, fortes e melódicas, confrontando com outras mais obscuras e calmas. Dá para imaginar facilmente uma bela banda de rock tocando cada faixa como se estivesse gravando um disco de estúdio.

Versões

Com a excelente recepção da mídia especializada e, talvez, os pedidos dos fãs ocidentais da série que queriam Rondo of Blood por aqui, a Konami resolveu adaptar o título para o Super Nintendo.

A versão desse clássico para o 16-bit da Nintendo foi lançado em 1995 e se chama Castlevania: Dracula X. O game aproveita o enredo, alguns gráficos, itens, inimigos e cenários do jogo original, ao passo que reinterpreta os designers das fases e muda um pouco a jogabilidade para criar uma nova e controversa aventura de Richter Belmont no Super Nintendo.

À primeira vista, o visual salta aos olhos, com gráficos bem detalhados, efeitos interessantes e uma trilha sonora bela, mas com pequenas variações do tema principal em cada fase e uma porção de temas novos e repaginados. O problema, na verdade, está na jogabilidade truncada, desconstruindo as melhorias apresentadas por Super Castlevania IV e entregando uma jornada muitas vezes injusta e pouco agradável de terminar. Porém, mesmo com pequenas falhas e uma clara redução na qualidade técnica quando comparado ao original, Dracula X ainda é um bom jogo de SNES e merece ser jogado e apreciado.

Outra versão de Rondo of Blood também foi lançada, dessa vez para o portátil da Sony, o PSP. A grande novidade fica por conta do visual 2.5D, que trazia gráficos 3D em perspectiva 2D, sem perder a fórmula original. Além disso, o pacote do jogo ainda trazia a versão original do PC-Engine.

Anos mais tarde, foi a vez do Nintendo Wii receber o jogo original em sua loja virtual, sendo uma das primeiras grandes oportunidades dos fãs jogarem o título de forma oficial— até porque uma cópia de Rondo of Blood de PC-Engine custa uma verdadeira fortuna

Pérola negra

Cultuado pelos fãs da série Castlevania e carregando o posto de “prequela”para um dos jogos mais aclamados dos videogames, Castlevania: Rondo of Blood permanece como um dos melhores títulos para o PC-Engine, trazendo, mesmo depois de tantos anos do lançamento, uma aventura gratificante, divertida e desafiadora na medida certa.

Se nunca jogou, dê um jeito. Qualquer um que goste de jogos clássicos e que queira conhecer mais a história dos videogames precisa, pelo menos, experimentar essa caçada.

Castlevania: Rondo of Blood
Desenvolvedora: Konami
Publicadora: Konami
Plataforma: PC-Engine
Lançamento: 1993

Longplay

Revisão: Rafael Belmonte

Ítalo Chianca

Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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