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Gamificação -Act 1: A vida dentro e fora dos jogos

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Se eu lhe disser que o mundo real e os jogos possuem muito em comum, você acreditaria, caro leitor?

Como assim?

Já ouviu falar no termo gamificação? Para muitos, isso é igual caviar na letra da música de Zeca Pagodinho. Mas sabia que o mundo ao seu redor está sendo gamificado e nem nos damos conta? Estudos científicos por todo o mundo apontam incríveis aumentos de produtividade, organização, auto-estima e até mesmo aprendizado em vários contextos diferentes, como recrutamento de funcionários, atividades físicas, técnicas de marketing, sistemas educacionais e todo tipo ambiente corporativo que você puder imaginar.

Se você quer aprender mais sobre game design, o conceito de gamificação é um dos primeiros que você precisa dominar. Neste episódio da coluna de Game Design do Jogo Véio, você aprenderá a ver o mundo de forma gamificada para melhorar sua capacidade de analisar todos os processos que ocorrem ao seu redor e poder aplicar os conceitos em suas futuras criações. E, caso você seja um véio que não tem interesse em criar seus próprios jogos, que tal aprender algumas técnicas para tornar-se mais produtivo no dia-a-dia?

Dica: seu progresso durante o texto será mensurado. Vamos ver se você consegue chegar ao nível 2. Valendo!

O mundo é um grande MMORPG (+3 XP)

Se o mundo está sendo gamificado como dito anteriormente, quer dizer que vou poder correr pelas ruas pulando na cabeça de tartarugas e coletando cogumelos?

Não. Vá com calma, jovem padawan. A gamificação do mundo que nos cerca não significa que vivemos em um jogo, e sim que alguns elementos de game design podem ser implementados no mundo real para trazer-nos resultados extraordinários.

Como primeiro exemplo, tomaremos o conceito de LEVEL UP dos queridos JRPGs. No mundo imaginário dos games, você mata criaturas malígnas para conseguir pontos de experiência (mais conhecidos como XP) e passar para o nível seguinte, ficando mais forte para progredir no jogo. Em uma antiga escola que trabalhava, implementei este conceito para melhorar a produtividade dos meus alunos, que não possuíam engajamento algum com as atividades propostas diariamente. Cada tarefa cumprida forneceria entre 10 e 50 pontos de XP. Também calculamos o nível de XP necessário para alcançar o nível seguinte e começamos a mensurar a evolução de cada um. Adivinhe só: apenas com esse conceito, a quantidade de exercícios que eram entregues dentro do prazo saltou de 20% para 92%. Raramente alguém deixava de fazer alguma atividade, pois cada aluno comprometia-se consigo mesmo a fim de buscar o próximo nível.

Como explicar esse fenômeno?

Bem, nossos objetivos precisam ser mensurados de alguma forma. Quando estamos aprendendo algo e não podemos ver com clareza a evolução que isso nos proporciona, sentimo-nos extremamente desanimados. Quando o crescimento não é visível a curto prazo, os alunos tendem a desanimar e desistir do curso. Se você é estudante com certeza já passou por isso. Quantas vezes pensou em desistir daquele curso de inglês ou até mesmo da faculdade por achar que não estava aprendendo nada? Na verdade, o que acontece é que você só enxerga os resultados a longo prazo. É como se não fosse possível enxergar em que level o Cloud está durante todo o gameplay de Final Fantasy VII, ou até mesmo quanto de experiência falta para atingir o próximo nível. Ficaríamos loucos e muita gente desistiria de salvar o planeta das garras de Sephiroth.

DICA: quando os objetivos forem alcançáveis somente a longo prazo, quebre-os em vários objetivos que podem ser alcançados de forma rápida. Checkpoints são sempre úteis e darão um gás em sua jornada!

Conquistas (+ 3 XP)

Alguns jogos nos fornecem badges ou achievements para marcar certos pontos durante a jornada. O fato é que alguns jogadores adoram ter uma prateleira cheia de prêmios, que demonstram o quão vitoriosa suas jornadas foram. Como no exemplo anterior, este conceito mensura um pequeno trecho da evolução do personagem e o premia quando o objetivo final for alcançado, sendo um método extremamente eficiente para manter o foco do jogador em determinada ação.

Na vida real, posso citar o exemplo dos meus ex-alunos novamente. Eles recebiam insígnias em diferentes casos, como:

  • Entregar 5 tarefas seguidas dentro do prazo;
  • Obter 95% de aproveitamento em um exercício;
  • Obter nota 9 (ou maior) em algum teste;
  • Obter nota 10 em algum teste;
  • Estar presente em 10 aulas consecutivas.

Você poderá criar quantas conquistas conseguir. O importante é não negligenciá-las a fim de deixar todas elas muito fáceis (senão os alunos não enfrentarão desafios) ou muito difíceis (para evitar a frustração daqueles que não conseguirem nenhuma). O ideal é deixar uma boa quantidade de conquistas para todos os níveis a fim de agradar a todos.

Tem um filho e quer testar este sistema? Atribua tarefas simples à ele, como arrumar a cama, estudar e limpar o quarto durante 5 dias seguidos em troca de uma pequena recompensa. Também faça isso com suas tarefas diárias e veja como sua produtividade pode aumentar drasticamente. Abuse de sua criatividade como gamer!

Também é importante não negligenciar o sistema de recompensas para evitar criar um monstro mimado que só faz as coisas por interesse. Se possível, utilize recompensas sem valor comercial.

Gerenciamento de recursos (+3 XP)

Será que eu mato o Nemesis para conseguir um prêmio? Mas eu tenho pouca munição, corro o risco de não ter nada para matar os zumbis que estarão à frente…

Quem nunca passou por essa situação em Resident Evil 3? A série clássica do Survival Horror raiz de PS1 nos ensina que, embora você possa atirar em tudo o que se mexe, há situações que é melhor não fazer isso para pouparmos tempo, energia e recursos escassos durante o jogo.

Pois é, véios amigos, gerenciar recursos é outro dos conceitos que podemos trazer dos games para a vida real. Se somos tão bons em calcular quantos zumbis eu preciso deixar de matar para não passar aperto no fim do jogo, porque não conseguimos fazer isso com nosso salário?

Já passou da hora de gamificar seu dinheiro também…

Apenas uma amostra – há muito mais por vir (+3 XP)

Caso você seja um entusiasta dentro da área de jogos, deve estar curioso para saber onde aplicar os conceitos de gamificação na vida real e vice-versa. Esse episódio da coluna de Game Design teve como objetivo apenas incitá-lo a pensar no que pode ser feito com conceitos simples que são estudados dentro dos jogos, além de mostrar que nosso trabalho não é só desenhar um bonequinho e sair fazendo animações. Há todo um planejamento por trás da criação de jogos que variam desde o estudo de conceitos pedagógicos até a escolha dos melhores componentes eletrônicos, se você optar por trabalhar com hardware (um problema que estamos enfrentando neste momento e que futuramente renderá boas dicas para os leitores).

Que tal escolhermos um jogo para analisar estes conceitos na prática? Deixe suas sugestões nos comentários e escolheremos alguns para fazer um texto especialmente sobre suas mecânicas, incluindo análise gráfica e de programação para mostrar como os games imitam a vida.

Como lembrado no texto anterior, não deixem de dar seu feedback para que possamos postar conteúdo de qualidade para vocês, veiarada.

Fim de jogo, companheiro (+3 XP)

Caso você tenha chegado até aqui, parabéns. Confira como seu progresso pode ser mensurado através da tabela abaixo:

Bônus (+3 XP)

Deixe nos comentários um exemplo de atividade presente em sua vida que utiliza conceitos de gamificação para seguir sua aventura com 18 XP.


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Lucas Rodrigues

Gamer desde que tem memórias de sua infância, a paixão pelos videogames iniciou-se no Mega Drive e teve seu ápice no PS1 com os JRPGs (a franquia Final Fantasy foi a protagonista). Trabalha como analista de sistemas e designer de jogos. Possui mestrado em Imagem e Som em andamento pela Universidade Federal de São Carlos, onde desenvolve pesquisas sobre o mercado independente de jogos brasileiros. Sempre escolheu o Squirtle como pokémon inicial e possui alinhamento Neutral Good.

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