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Vamos jogar de dois?

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Quando a mesada estava curta para jogar na locadora todos os dias, o jeito era apelar para os amigos. Com jeitinho, tranquilidade e uma boa conversa, era só chegar do lado e dizer: vamos jogar de dois?

Sem gentilezas

Segundos os contos gamers, os primeiros relatos de jogadores tentando “descolar” uma partida multiplayer grátis remontam à época dos fliperamas, principalmente aqueles presentes em mercadinhos, bares e rodoviárias.

Sem dinheiro para comprar novas fichas, alguns jogadores costumavam ficar no fliperama apenas observando a movimentação até que alguém resolvesse colocar algumas fichas a mais na máquina. Quando isso acontecia, o sujeito corria para o segundo controle, apertava start e entrava no jogo, assim, sem qualquer aviso.

Geralmente, a intromissão acontecia sem que ao menos os jogadores se conhecessem antes. Isso acabava gerando duas situações bem distintas. Primeiro: quando o jogo em questão era um Metal Slug, por exemplo, às vezes a intromissão vinha bem a calhar, com os dois jogadores seguindo a jornada juntos

A segunda situação, contudo, poderia ser um pouco mais tensa, principalmente se a jogatina fosse com algum game de luta, como Street Fighter II. Nesse caso, o segundo jogador entrava no game para tirar o dono das fichas da máquina. Aí já viu, dava até briga.

Nos dois casos – mesmo com algumas desavenças –, a entrada repentina de um segundo player também poderia significar o início de uma grande amizade. Durante o jogo, ou mesmo após o duelo, os garotos podiam conversar sobre seus títulos favoritos e sobre a experiência que acabaram de vivenciar, criando um laço de amizade fortalecido pela paixão pelos videogames que até o tempo não costuma romper.

Dividindo aventuras

Da imprevisibilidade dos fliperamas, o pedido para jogar de dois foi parar no conforto da locadora de videogame, onde se tornou um dos maiores responsáveis por unir pessoas através dos jogos eletrônicos.

Assim como nos fliperamas, a garotada também gostava de passar horas na locadora, mesmo que não tivesse nenhum centavo para gastar. Conversar com os amigos, assistir o pessoal jogando ou simplesmente passar para ver os novos jogos, já valia a visita. Porém, quando a oportunidade de jogar de graça aparecia…

Quando algum garoto – normalmente crianças que ainda lutavam para segurar o controle com destreza – entrava na locadora com o bolso cheio de moedas para jogar, um espertinho logo surgia se oferecendo como ajudante.

“Olha, tem um jogo do Mario bem maneiro. Dá pra jogar de dois. Cada um vai em uma fase. Se você jogar comigo, a gente zera”. Era quase sempre assim que os garotos tentavam ganhar alguns minutos de jogatina grátis.

Em alguns casos, o moleque resistia a essa primeira investida. Porém, quando ele começava a perder muitas vidas, o outro jogador já encostava, trazendo algumas dicas: “segurando esse casco e jogando nessa fileira de tartarugas, você ganha uma vida extra. Mas, se você quiser, podemos passar da fase juntos, é só colocar de dois”.

Querendo avançar no jogo, a criança aceitava o pedido e os dois passavam horas se divertindo juntos. Essa experiência, aliás, servia como aprendizado. Era uma espécie de ritual, onde os mais velhos iniciavam os novos jogadores na arte dos games.

Pela união dos controles

Além de uma forma eficiente de ensinamento para novos gamers, o pedido para jogar de dois também era feito entre jogadores experientes. Nesse caso, o pedido para jogar de dois podia vir até do jogador que já estava jogando.

Isso acontecia quando alguém estava com muita dificuldade para passar de determinada fase e o game permitia um segundo jogador. Ai o jeito era convocar o amigo que estava só de passagem pela locadora para se juntar ao time. Um das minhas melhores lembranças desse caso, é de quando ajudei um amigo a superar um trecho de Herc’s Adventures. Depois disso, ele passou a me chamar para jogar todos os dias, até terminarmos o jogo.

O pedido para jogar de dois também era uma das melhores formas de se enturmar quando o jogador estava em outro bairro ou cidade. Bastava chegar em um lugar novo, para logo sair perguntando onde ficava a locadora mais próxima.

Depois de encontrar, era só convidar um dos garotos para uma partida de dois e rapidamente fazer parte da turma local, com direito a convite para a pelada depois da jogatina e tudo mais. Em pouco tempo, o visitante já era de casa.

O chato da locadora

Como tudo na vida, o pedido para jogar de dois também tinha o seu lado ruim. Alguns garotos passavam o dia inteiro na locadora, sem comprar nada. Mas, quando alguém chegava para jogar, o cidadão sentava do lado e passava o tempo inteiro insistindo: “vamos jogar de dois? Bora, só um pouco? De dois é muito melhor? Eu jogo muito, você vai ver. Bota de dois, vai…”

Nas locadoras que frequentei, esse tipo de jogador era chamado de “godera”. Fosse o jogo de dois ou não, ele estava lá, insistente, tentando conseguir jogar alguns minutos de graça com alguém.

Às vezes o godera insistia tanto, que o único jeito de tirá-lo de perto era chamando o dono da locadora: “Seu Tadeu, tira esse godera daqui. Não tô conseguindo jogar com ele “atazanando”. Se ele não sair, eu paro o tempo”.

Bastava ameaçar parar de jogar para o dono da locadora tirar o garoto de perto. Mas, de lá, o maldito já saia para outra locadora, querendo “goderar” o tempo de alguém que caia na insistência dele. Mas uma coisa é certa, até eles eram grandes apaixonados por videogames e figuras que adorávamos nas locadoras  – pelo menos até começar a goderar o meu tempo.

O valor da amizade

Tanto nos fliperamas quanto nas locadoras, o pedido para jogar de dois gerou, mais do que divertidas partidas, grandes amizades. Foi assim comigo, com todo o pessoal do Jogo Véio e, provavelmente, com você também.

Bastava um simples pedido de “vamos jogar de dois?”para que um mundo de possibilidades se abrisse em nossas vidas. Bons tempos…


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Ítalo Chianca

Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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