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Marvel vs Capcom: confronto na locadora

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No Papo de Locadora de hoje, inspirado no terceiro episódio do nosso Podcast Jogo Véio sobre a série Marvel vs Capcom, relembro a inusitada história de dois irmãos que não paravam quietos na locadora e que, com suas ações, provocaram uma confusão inesquecível.

Sonho inesperado

Enquanto que hoje os crossovers são bastante comuns, sonhar com uma junção de universos na década de 1990 era coisa rara e inusitada. Lembro com muita clareza do alvoroço que foi na locadora quando o senhor Toinho falou que tinha comprado um game com os personagens de X-Men e Street Fighter lutando uns contra os outros.

Ninguém acreditava enquanto não via. Como assim? Ryu contra Ciclopes? Não tem como. Todos diziam. Mas bastava ela puxar o CD nº 42 dos jogos de PlayStation para a galera delirar de emoção com aquele game cheio de efeitos luminosos, poderes que tomavam toda a tela e uma seleção completamente inusitada de personagens.

Em pouco tempo, X-Men vs Street Fighter era o disco mais jogado da locadora. Foi uma febre sem precedentes, contagiando os fãs das lutas virtuais e até a turma que não tinha muita familiaridade com o gênero, devido a facilidade de aplicar os golpes, combos e especiais.

Febre anual

Com o sucesso de X-Men vs Street Fighter, os jogos de super-heróis eram a nova sensação da locadora. Até o Super Nintendo, que já perdia espaço para os consoles de 32-bit na época, teve o interesse renovado por parte dos jogadores que voltaram a atenção para o ótimo X-Men: Mutant Apocalypse.

Entre 1998 e 1999, era difícil entrar na locadora e não dar de cara com uma disputa frenética de X-Men vs. Street Fighter ou Marvel Super Heroes vs. Street Fighter. Esse último, aliás, foi o responsável por algumas das minhas maiores derrotas nos videogames para o meu amigo Anderson.

A mania dos crossovers, contudo, encontrou o seu auge na locadora do Toinho na primeira metade da década de 2000. Com gráficos lindíssimos, fases incríveis, músicas alucinantes, uma seleção incrível de personagens e uma jogabilidade fluida e acessível, o game conquistou o coração dos jogadores. Entre eles, dois dos meus primos, os famosos Shack Brothers.

Mania de tremer

As locadoras de videogame eram um reduto de figuras inusitadas. Bastava passar alguns minutos no templo sagrado da diversão para se deparar com riquinhos que alugavam todos os jogos, moleques que estavam sempre com o uniforme da escola por baixo da camisa (os matadores de aula), os sem-grana que sempre pediam para jogar de dois, e tantos outros.

Existiam inúmeros perfis de jogadores. Mas quando o assunto é Marvel vs Capcom, é impossível para mim não associar o jogo ao perfil de jogador que se move conforme a ação. Assim eram os meus primos, principalmente quando a disputa era entre super-heróis.

Os Shack Brothers moravam na zona rural de São José do Seridó, no interior do Rio Grande do Norte. Eles vinham para a cidade aos domingos, com os pais. Enquanto meus tios faziam as compras, eles ficavam na locadora se divertindo. Mas bastavam apenas alguns minutos de jogatina para eles se transformarem no centro das atenções.

Era impossível se controlar vendo os dois jogando. Até porque eles mesmos não se controlavam. A cada movimento na luta, os dois reproduziam os sons e gestos dos lutadores na tela. Gritos de dor, efeitos sonoros e gestos iguais aos poderes eram emitidos sem parar nas frágeis cadeiras de plástico. A loucura tomava conta do recinto.

Terror na locadora

Em uma de suas habituais jogatinas frenéticas de domingo, os dois, ainda mais enloquecidos, socavam e chutavam o ar enquanto lutavam em Marvel vs Capcom. A locadora toda observava os movimentos. Gritos de dor e nomes de golpes completavam a emoção.

Não tinha uma única pessoa na locadora que não estivesse rindo descontroladamente da cena. A cada golpe na tela da TV, um golpe correspondente era reproduzido na vida real. Alguns desses “poderes” passavam raspando em quem observava de perto o duelo dos dois. Doideira, né?

Mas o que antes era motivo de risada, calou a locadora logo em seguida. Em um ato desesperado para virar a luta, quando o combate parecia se encaminhar para o fim, um dos irmãos desferiu um chute certeiro. Mas não no personagem adversário. O chute foi em cheio na bancada na qual o PlayStation ficava.

O chute foi fatal, jogando o PlayStation bem alto. Todos na locadora acompanhavam a trajetória do PS1 voador, incrédulos, e em completo silencio. Pouco a pouco, quase em câmera lenta, o videogame foi se desconectando dos cabos até se chocar contra uma parede, onde se estraçalhou.

Destruição

Quando bateu na parede, o PlayStation se desmontou inteiro, jogando peças, fios, cabos e CD para todos os lados. O ocorrido pareceu congelar a locadora. Ninguém se mexia. Não até começarem a tomar consciência do ocorrido. Aos poucos, a turma olhava para o videogame. Depois para Toinho. Novamente para o PlayStation destruído. E por fim para um Toinho enfurecido.

Do balcão central, Toinho soltou sua caderneta, olhou rapidamente para tudo que havia acontecido neaquele momento, e gritou, como um leão: “Vocês vão quebrar tuuuuudo, seus moleques malditos?”.

Depois do grito, a locadora se transformou num circo de maluquices. A molecada começou a gritar sem parar. Outros corriam em todas as direções. Se já não fosse o suficiente, até uma briga generalizada começou, com todos se batendo, sem motivo. O quebra-quebra foi geral.

Estava difícil para Toinho retomar o controle da locadora, pois todos estavam se divertindo com a ocasião. O PlayStation quebrado, meus primos chorando porque pensavam que teriam que pagar pelo videogame. A garotada toda vermelha da briga. Mas Toinho foi esperto. Apelou para o ponto fraco de todos ali. No instinto, ele gritou: “vou suspender todo mundo aqui por uma semana se não pararem”.

A voz do dono da bagaça acertou em cheio cada um no meio da confusão. Rapidamente todos se acalmaram, pararam a baderna e correram para a rua, em um efeito que parecia ter sido provocado por bombas de efeito moral. Até os meus primos sumiram no meio da correria, e, inclusive, não voltaram nunca mais.

Saldo da Guerra

Com um PlayStation a menos na locadora, alguns sujeitos suspensos, Toinho irado, dois irmãos traumatizados e os jogos da série Mavel x Capcom barrados da locadora, o saldo da guerra foi devastador.

Além disso, as regras na locadora do Toinho ficaram ainda mais rígidas. Não podia fazer barulho enquanto jogava. Quem quebrasse qualquer coisa, teria que pagar. Brigas eram estritamente proibidas. O velho endureceu. Mas nada melhor do que algumas leis para manter o bom convívio, não é?

O que ficou na memória, contudo, foi o momento mágico de confusão generalizada provocada por dois irmão incontroláveis na jogatina de Marvel x Capcom. Bons tempos de locadoras…


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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