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Nunca é tarde para ser um mestre Pokémon

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Desenhos, estampas ilustradas, tazos, bonecos no guaraná, figurinhas em chicletes e álbuns. A febre mundial de Pokémon me atingiu em cheio quando criança e por sorte, consegui vivenciar aquele momento único, que só quem viveu intensamente entende a plenitude de sua magia. Só se falava nos monstrinhos de bolso, na escola, na rua, nas locadoras, em todo lugar. Colecionei praticamente tudo que envolvia a turma do Pikachu, porém, se você não percebeu, naquela minha lista onde iniciei este parágrafo falta alguma coisa.

Pois é, quando criança, eu não consegui ser um mestre Pokémon nos games como a maioria dos jogadores. Mas, 15 anos depois daquela manhã em 10 de maio de 1999, muita coisa aconteceu e aquele sonho de criança tomaria novos rumos. Foi uma jornada e tanto, tão memorável quanto as viagens de Ash e seus amigos.

Sintomas da febre

Quando pequeno, tudo parece mágico e encantado. Apegamos-nos às fantasias e criamos em nossas mentes um mundo próprio, completamente diferente daquele sem graça em que nossos pais teimavam em nos colocar. Se o mundo real não parece tão chamativo para as crianças, o mesmo não pode ser dito do fantástico universo dos contos e histórias maravilhosas. E foi com um desses universos cheios de vida e ação que me envolvi completamente na infância, mais precisamente aos nove anos de idade.

Lembro dos anúncios de um novo desenho animado vindo diretamente do Japão para dentro da minha casa. Era no Programa da Eliana. Aqueles comerciais repetindo durante o dia inteiro sobre uns monstrinhos com poderes não me saiam da cabeça. Não demorou e logo a expectativa no colégio era geral. Com uma combinação perfeita entre aventura, ação, exploração e criaturas adoráveis, a febre dos Pokémon começava.

Poucos episódios depois, Pikachu e Cia eram sucesso absoluto na minha pequena cidade. Crianças, jovens e adultos comentavam os episódios e passavam horas falando sobre o novo Pokémon que havia aparecido naquele dia. A mania atingiu a todos, principalmente lá em casa.

Eu e meus dois irmãos, como sempre, disputávamos a tapas (literalmente) quem seria qual Pokémon, agora que havia ficado claro que Ash seguiria com os três iniciais. Muitos socos e pontapés depois, tinha ficado decidido assim: eu seria Squirtle, meu irmão do meio Charmander e o mais novo Bulbassaur. Estava feita a divisão, agora era viajar ao lado de Ash em sua jornada para ser um mestre Pokémon.

Começo de jornada

Vibrávamos, torcíamos e nos emocionávamos juntos com cada novo monstrinho, cada nova insígnia conquistada, desafio superado e tentativa da Equipe Rocket posta a baixo. Para completar, em casa, reproduzíamos os duelos do episódio do dia, sempre com fidelidade, o que ocasionava, constantemente, brigas sem fim entre irmãos.

Ninguém queria perder, mesmo sendo o Pokémon derrotado do episódio. Na hora da luta, todo monstrinho quer ser o melhor. Mas tudo voltava ao normal quando minha mãe nos capturava e colocava de castigo dentro da pokébola, quer dizer, do quarto.

Outro motivo de euforia em casa eram os momentos de evolução. Quando um Pokémon evoluía a festa era grande. A expectativa pela nova forma e seus poderes tomava conta da turma. Se fosse um dos três iniciais, aí a zoada era feia. Gritos, lágrimas e pulos acompanhavam o momento em que o pequeno ser se transformava num novo personagem. No outro dia na escola, os intervalos eram tomados por discussões acaloradas, envolvendo tudo que fosse relacionado ao universo dos monstrinhos de bolso.

Saindo da tela

Todos os dias, no intervalo da escola, eu comprava pelos menos três chicletes do Pokémon (um para cada irmão), daqueles da embalagem rosa, com um Pikachu do lado do nome Buzzy. Era uma mania geral, pois vinham com figurinhas adesivas.

Além disso, os mais sortudos, ou melhor, os garotos que fossem mais amigos dos donos das bancas e mercadinhos onde vendiam os chicletes, tinham acesso aos álbuns de colecionador, nos quais se podia preencher os espaços vazios com as figuras colecionáveis do chiclete. Existia até um mercado alternativo de compra e venda de figurinhas, pois eram itens raros entre a garotada. Por sorte, fiz parte desses privilegiados.

Os tazos e cartas também fizeram muito sucesso na época. Quem comprava uma pipoca da Elmachips, recebia como brinde um tazo. Neste pequeno item colecionável existia uma figura de Pokémon do lado da frente, enquanto na parte de trás tinha o desenho de uma pokébola com alguns dados sobre o tipo a qual pertencia aquele Pokémon. A febre só aumentava e eu levava meus tazos para todo lado, presos no cinto, como se fossem verdadeiras pokébolas.

Com as cartas não foi tão diferente. A mania de colecionar os cards fez com que surgisse, entre a nossa turma, um jogo de regras próprias, pois nunca tínhamos ouvido falar em Pokémon Trading Card Game. Seguindo uma lógica meio louca, tendo como base o anime, por anos nos enfrentamos em busca de ser o melhor treinador de Pokémons em forma de cartas.

Nesse tempo, quando criança, achava mesmo que os Pokémon existiam, ou que iam dominar o mundo. Pois não paravam de chegar produtos novos e cada vez mais interessantes. Não consigo esquecer o quanto tomei guaraná só por conta de Pokémon. Não sabe do que estou falando? Ou sentiu aquele aperto no peito só de lembrar do Guaraná caçulinha?

 

As miniaturas de Pokémons que vinham nas pokébolas do Guaraná foram o auge da mania Pokémon naquela época, pelo menos na minha cidade. A galera colecionava, trocava, vendia e levava para todos os lugares suas miniaturas. Desta vez, parecia que tudo era real. Mas ainda faltava algo.

Vivendo o sonho

Envolvido pelo fantástico universo dos Pokémon, estudava os tipos, desenhava meus favoritos e colecionava tudo relacionado. Dediquei muito tempo quando criança aos pequenos monstros de bolso. Com fascínio, porém, viam as buscas por novas experiências. Eu, como muitos outros, queria vivenciar de forma intensa a jornada de tentar ser um mestre. Assim como Ash, queria sair em uma jornada com meu Squirtle, capturando novos amigos, treinando-os e enfrentando líderes de ginásio.

Até tentei recriar essa utopia. Minha mãe possuía uma toalha de praia enorme, com vários desenhos de locais diferentes do Brasil. Em cada canto da toalha tinha pintado um terreno típico brasileiro. Serras, rios, montanhas, e todo tipo de vegetação.

Eu e meus irmãos estendíamos a tolha com as estampas no chão e distribuíamos, pelos tipos de clima, os tazos, cards e miniaturas de acordo com o tipo do Pokémon. Feito isto, cada um pegava um boneco e saia desbravando aquele mundo imaginário, capturando novas criaturas e formando um time forte para enfrentar outros treinadores, representados por outros bonecos.

Essa aventura inusitada foi o primeiro crossover que “joguei” na vida. Lá, além dos Pokémon, cada boneco vinha de uma série diferente. Enquanto O Homem Aranha sai em sua jornada em busca de ser um mestre, ele precisava enfrentar o Ranger Vermelho, líder do ginásio do fogo, ao mesmo tempo que protegia Shurato das garras de Milo, Cavaleiro de Escorpião, que fazia o papel da Equipe Rocket. Animes e games juntos, mas ainda assim minha vontade de explorar o mundo de Ash não era suprida.

O jogo que sempre desejei

Deitado no sofá, depois de uma longa secção de animes na TV Manchete, comentava com meus irmãos que deveria, sim, existir um jogo em que pudéssemos sair por aí como Ash, Misty e Brock. Tinha que existir, seria épico.

Pois bem, até aí eu não sabia que a série de televisão tinha sido inspirada num game e que este por surpresa do destino era exatamente como eu imaginava e sonhava esse tempo todo. Só fui descobrir isso quando, por acaso, encontrei uma revista Pokémon Club na banca de jornal de uma cidade vizinha. Nela, conheci os primeiros jogos do portátil da Nintendo.

Aquele sonho dourado de criança era possível. Existiam jogos de Pokémon e o melhor, cujo objetivo era justamente o de sair por um vasto mundo, capturando, treinando e enfrentando os melhores treinadores de cada cidade. Não conseguia tirar aquilo do pensamento. Contudo, tudo aquilo estava muito distante de mim.

Os primeiros jogos eram exclusivos do Game Boy, para minha tristeza, só havia visto os pequenos videogames em revistas, nunca pessoalmente, nem se quer sabia de alguém que tivesse um. Como morava numa cidade do interior, as coisas demoravam uma eternidade para chegar e passei alguns bons anos esperando o dia que poderia jogar com meu Squirtle em Pokémon Blue.

Mesmo minha relação com os videogames sendo bem estreita, jogando desde os quatro anos de idade, trabalhando durante muito tempo em locadoras e as usando como principal espaço de encontro com os amigos, ainda faltava jogar aquele jogo dos monstrinhos de bolso.

O mais próximo que cheguei de jogar algo semelhante, foi um cartucho pirata de Super Nintendo, no qual era possível controlar Pikachu por cenários muito loucos. Servia de consolo quando um filme novo de Pokémon era lançado e precisava alimentar o Hype, mas não era do jeito que deveria ser.

Outros rumos

O desejo de jogar Pokémon Red, Green, Blue e Yellow me levou a admirar o estilo RPG. Passei então a me envolver mais com o gênero jogando Final Fantasy, Breath of Fire, Secret of Mana e os lendários Chrono Trigger e Chrono Cross. Logo em seguida, com a chegada dos primeiros Nintendo 64, Pokémon Stadium passou a ser a grande mania dos pokemaníacos da cidade.

Mas só em saber que, caso tivesse os jogos de Game Boy, poderia jogar Stadium de uma forma diferente, me deixava sem empolgação. Como não conseguia uma forma de jogar um RPG de Pokémon, fui me envolvendo com outros jogos, novas franquias e diferentes consoles e minha paixão pelos videogames só crescia.

Colecionando a Pokemon Club, logo acabei esbarrando na Nintendo World, Super Game Power e outras revistas sobre games, passando a acompanhar tudo sobre aquele universo fascinante que me atraia cada vez mais.

Vieram novos desenhos e, como a maioria dos garotos, era pego pela febre do momento. Yu Yu Hakusho, Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z me causaram o mesmo impacto e desenvolvi uma paixão tão grande quanto. O mesmo aconteceu com os jogos. Foi justamente neste período que passei a entender melhor meus games favoritos, inclusive a série Zelda. Mas aquele sonho de criança ainda permanecia guardado em algum lugar dentro de mim.

O verdadeiro mestre

Muitos anos se passaram desde aquele 10 de maio de 1999 — dia que assisti Pokémon pela primeira vez. Aquele garotinho que assistiu quase hipnotizado ao programa da Eliana já tinha passado por muitas gerações de consoles, visto o desenvolvimento tecnológico dos videogames e acompanhado várias séries dos seus animes favoritos. Chegava a faculdade, novas obrigações: trabalho, pesquisa, amores.

Com isso, Pokémon foi se tornando apenas uma linda lembrança feliz do tempo de criança. Porém, as vivências de anos atrás deixaram marcas, principalmente no meu irmão mais novo, Iago. Mesmo muito pequeno na época de ouro de Pokémon, aquele universo parece tê-lo afetado ainda mais, pois cresceu com um sentimento de amor enorme com os bichinhos.

Enquanto eu salvava princesas, derrotava mentes do mal e participava de conflitos bélicos, meu irmão começava sua jornada ao lado de Pikachu. Eu já estava tão envolvido com outras séries e acompanhava atentamente os novos lançamentos de consoles de mesa, que fechei meus olhos para os portáteis.

Enquanto isso eu via meu irmão se divertindo e jogando centenas de horas de um mesmo título. Ele, por sinal, nunca teve muita paciência para jogar outros games de ação, aventura ou luta, só queria saber mesmo na nova geração de Pokémon. E eu, fui adiando a experiência por muitos anos.

Nova chance

O passar do tempo foi trazendo grandes responsabilidades e tarefas cada vez mais exigentes de tempo e dedicação. Só que ao mesmo tempo, os videogames foram se transformando na minha principal forma de entretenimento, mantendo-me bem e sendo a diversão de toda a família, inclusive da esposa.

Os estudos também me aproximaram ainda mais dos games, pois passei a pesquisar sobre eles, principalmente seus espaços de jogo, mais precisamente as locadoras. Todavia, foi quando comecei a escrever sobre videogames que senti o peso do nome Pokémon.

Redatores, revisores, diagramadores e até diretores, quase todos tinham uma paixão gigantesca pelos monstrinhos de bolso. Participando mais atividade de alguns sites, percebi que a legião de fãs era quase infinita. Discussões, matérias especiais e todo tipo de coisa interessante envolvendo as mais de 700 criaturas (eu ainda pensava que eram 151) acontecendo e eu sem participar de nada por não conhecer mais aquele mundo. Precisava fazer alguma coisa.

Por coincidência, meu irmão e eu tínhamos comprado nossos Nintendo 3DS há pouco tempo. Eu, porque pretendia escrever mais sobre os jogos do portátil. E ele, exclusivamente por Pokemon X e Y. Enquanto eu encarnava Luigi, Mario, Link e Pit, ele não saía de Kalos. Terminava um game atrás do outro e meu irmão já ia com mais de 400 horas de jogo. Não era possível, apenas eu não jogava Pokémon. Mas esses dias estavam contados.

Depois de muita pesquisa, estudos e conversas entusiasmadas com amantes da franquia, precisava apenas de mais algum impulso. Foi então que veio o anúncio dos remakes de Pokémon Ruby e Sapphire. O hype da galera foi a mil e aquela magia de anos atrás começava a despertar em mim novamente. Resolvi então participar dessa jornada de uma vez por todas e realizar aquele antigo sonho de criança guardado por tanto tempo.

O momento certo

Como não podia ser diferente, aquela aventura precisava ser feita em parceria e ninguém melhor do que meu irmão Iago, um verdadeiro Mestre conhecedor de toda a franquia. Escolhemos juntos Pokémon Heart Gold e Pokémon Soul Silver, pois trazia os monstrinhos que eu conhecia. Compramos os jogos de DS e preparamos nossos portáteis para a incrível jornada.

Começamos nossa aventura por Joht, juntos. Segui com Cyndaquil e meu irmão com Totodile. Era tudo muito mágico. Receber um Pokémon e seguir com ele em viagens por diferentes cidades, enfrentando outros treinadores e capturando novos aliados. Sentia-me como uma criança novamente. Era impossível não reviver cada momento da infância enquanto jogava.

Quando encontrava um novo Pokémon, acabava lembrando dele em minhas coleções de infância, fosse nos tazos ou nas miniaturas caçulinhas. Foi um momento inesquecível jogar pela primeira vez um RPG da série. Passei horas, dias, semanas sem jogar outra coisa. Sempre que ficava sem saber para onde ir, consultava meu brother. Trocava Pokémon e recebia ensinamentos de golpes e estratégias. Fui treinado pelo melhor.

O entusiasmo era gigante. Treinava com rigor os meus favoritos, buscava itens e novos golpes e caçava novos amigos para formar o melhor time possível na minha jornada para ser um mestre. Comemorava cada insígnia conseguida e vibrava com as evoluções depois de um level a mais. Tudo era novo e maravilhoso. Nem demorei tanto para conseguir vencer os primeiros oito líderes de ginásio e encarar a liga.

Pouco tempo depois, já tinha superado também os novos desafiantes do jogo, que para minha alegria, surgiram depois de colocar meu nome no Hall da Fama. Quando percebi, já estava com dezenas de horas de jogo, coisa que não fazia desde que zerei Ocarina of Time e Majora’s Mask, ainda no Nintendo 64.

Superando o mestre

O momento da consagração veio logo em seguida. Nos nossos encontros diários, vez ou outra rolava um desafio. Tentava enfrentar aquele que me ensinou a jogar. Levei surra em todas as tentativas, mas, depois de muito treinamento e observação, num duelo acirrado, meu time dos sonhos, formado por Alakazan, Ho-oh, Raikou, Feraligator, Typhlosion e Machoke venceu os seis do meu irmão. Foi inesquecível e memorável. Superava pela primeira vez um verdadeiro mestre. Outras batalhas vieram e os resultados eram sempre acirrados. Nisso, acabei me tornando um bom jogador.

Além dos games, também aproveitei a onda e experimentei o jogo de cartas no PC. O Pokémon TCG é sensacional. E novamente jogamos juntos durante um bom tempo. Hoje, posso dizer que sou um grande fã da série e finalmente consegui completar minha missão e realizar um antigo sonho de ser como Ash e todos os outros treinadores Pokémon que já seguiram viagem em diferentes continentes. Veio tarde, isso eu sei, mas já estou esperando os próximos lançamentos para poder dar continuidade a minha expedição, pois já dizia aquela velha música, “Temos que pegar, POKEMON”.


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Ítalo Chianca

Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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