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Super Mario World e o meu primeiro start

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Brincando na rua com os amigos, assistindo desenhos na TV e vibrando com o futebol. Eu vivia tranquilo na minha querida São José do Seridó até a minha vida mudar completamente depois de conhecer um certo encanador italiano e o seu fantástico mundo virtual.

A magia dos videogames

Sentado em uma daquelas cadeiras de plástico, branca, muito maior do que o meu pequeno corpo, em posse de um controle cinza com botões coloridos, pude ouvir um leve e diferente som anunciar o que seria um nome emoldurado por um contorno que aos poucos foi tomando forma na tela. Era de cor meio acinzentada, até um pouco prateada. Nele estava escrito Nintendo.

Logo após aquele nome nada familiar desaparecer, meus olhos quase saltaram de susto e vibraram de emoção e entusiasmo ao dar de frente com um mundo que se apresentou cordialmente colorido, vibrante, vivo e mágico, onde um homenzinho de roupa vermelha, baixo e meio fora de forma, corria desesperado com um casco nas mãos, atrás de tartarugas, que logo em seguida eram engolidas por um dinossauro verde, que por muitos anos chamei carinhosamente de jumentinho verde.

Com toda a dificuldade de leitura recém-aprendida em casa, com minha mãe. e pouco tempo depois na escola, identifiquei, em meio a nomes ilegíveis para um garoto de quatro ou cinco anos, algo mais familiar às junções de letras que havia aprendido a decifrar: era Mario, escrito em letras coloridas, como todo aquele mundo que me surgia na tela da TV na locadora do senhor Jorge. Foi aí que tudo começou.

Eu podia jurar que todo aquele salão onde ficavam instalados os videogames estava ganhando vida, transcendendo o que eu via na TV e vindo parar ao meu redor. A imaginação daquele garoto enxergava as planícies de Dinosaur Land rodearem aquele assento, tomando forma e vida — só podia ser mágica. Foi assim o meu primeiro Start.

A jornada começa

A minha história com os games tem início, justamente, com uma das maiores pérolas do Super Nintendo, o game Super Mario World, lançado em 1991, pela Nintendo, em uma locadora de videogames do amigo do meu pai, o senhor Jorge Chaves. Mas como controlar Mario naquelas terras desconhecidas? Bom, eu não fazia ideia. Por isso, como era costumeiro nas locadoras da minha cidade, minha experiência com esta obra seguiu o tradicional ritual de iniciação.

Quando uma criança chegava para jogar pela primeira vez, era convidada a observar outro jogador, mais experiente, jogar um determinado game, prestando atenção nas dicas de comandos e técnicas utilizadas na jogatina, olhando atentamente cada movimento na tela e seu correspondente botão no controle.

Após esta fase, o jovem menino jogava algumas partidas em companhia deste jogador, recebendo conselhos e aprendendo com calma a movimentar o personagem na tela. Após algumas sessões, com o aval do seu “mestre”, o menino era enfim posto à prova em frente aos outros jovens da locadora, jogando sozinho. Assim, passei por todo esse ritual durante as primeiras semanas, frequentando a locadora, que por sinal, era onde meu pai me deixava todos os dias enquanto minha mãe não chegava do trabalho. Era quase um treinamento Jedi.

Aprendiz de encanador

O início é realmente complicado, a coordenação motora não me permitia correr e pular ao mesmo tempo, pois exigia segurar um botão enquanto direcionava o gordinho Mario, e ainda pular. Muita coisa para uma primeira vez, porém, Super Mario World possui uma mecânica interessante de aumento gradativo de dificuldade, o que justificava a escolha dos donos de locadora por ser o primeiro jogo de quase todos os iniciantes. E a escolha era acertada, pois as primeiras fases eram bem simples, exigindo pouca habilidade, o que me fazia acreditar ser um verdadeiramente um herói.

Era inexplicável correr pelas planícies verdes daquele mundo encantado. O céu azul resplandecia no horizonte de montanhas arredondadas enquanto eu descobria novas criaturas fantásticas, ainda mais incríveis do que as que eu imaginava nos contos de fadas.

Além de ser o meu primeiro contato com os jogos, Super Mario World me acompanhou por aqueles anos de 1994 e 1995, ensinando-me como jogar e de que forma maravilhosa e mágica poderia ser um mundo virtual, semelhante às histórias que ouvia dos meus avós e dos livros que meus pais liam para mim, mas me permitindo dessa vez ser o protagonista, ou controlar o desenrolar da história, tornando tudo mais fantástico ainda.

Nova fase

Como qualquer criança da minha idade, meus brinquedos eram normalmente carros e bonecos de ação, que dividiam minha atenção com os desenhos animados da época — Cavaleiros do Zodíaco e Yu Yu Hakusho, para ser mais preciso. Contudo, os videogames se tornavam uma paixão cada vez mais forte e presente.

Ir à locadora todos os dias e jogar sempre o mesmo jogo me parecia muito mais atraente e divertido do que qualquer outra coisa. Não abandonei minhas outras atividades, continuei brincando com os bonecos, carros e aprontando na rua, mas o bendito Super Nintendo era sempre o favorito.

O desafio constante, exigindo cada vez mais habilidades e coordenação, me faziam querer sempre aprender mais, jogar melhor, para, finalmente,  conseguir chegar ao final daquela aventura. Infelizmente, as fases finais do jogo eram realmente complicadas e cruéis para um garotinho sem experiência nenhuma, deixando-me sem condições de concluir o jogo sem ajuda.

Grande companheiro

Com auxílio de amigos mais velhos e, mesmo contra a vontade, controlando o magricela bigodudo de roupa verde, o Luigi, acabei aceitando ser o segundo jogador, e fui quase um telespectador até a batalha final. E com muita dificuldade, ajuda e dedicação, pude enfim derrotar a “tartaruga” do mal que havia sequestrado a namorada do “gordinho”.

A felicidade devia ter sido imensa, pois nunca mais, até os dias atuais, consegui esquecer aquele dia em que concluí o primeiro game da minha vida. Talvez fosse a emoção que um cavaleiro sentia ao vencer uma batalha, de um arqueólogo descobrindo indícios de um tempo antigo, ou até mesmo de alguém que encontrava uma grande paixão. O que lembro, de verdade, é que aquele sentimento de alegria, satisfação, diversão e realização, me fez muito bem. Aliás, é justamente isso que sinto depois de cada aventura, de cada desafio superado e após cada amizade feita através desse mundo fantástico.

Eterna paixão

As lembranças daqueles dias ainda estão vivas em minhas memórias. Seria impossível esquecer tantas aventuras. Em que outro lugar você foge de fantasmas em um castelo mal-assombrado, enfrenta dinossauros em plataformas flutuantes, encara cavernas repletas de morcegos e toupeiras sorridentes, desvenda mistérios de uma floresta perdida, supera montanhas de chocolate e salva uma princesa das garras de uma tartaruga-dinossauro que plana em um dirigível enquanto arremessa criaturas explosivas? Difícil não se deixar levar por tanta fantasia.

Vez ou outra ainda me pego, em infinitas lembranças, sentado naquela cadeira branca e grande, segurando um controle cinza de botões coloridos em frente a uma TV mostrando um mundo mágico e colorido com um sujeitinho gordo e de vestes vermelhas — ou verdes, depende do ponto de vista.

Eu era um garotinho fascinado pelos jogos e, consequentemente, pelas locadoras e tudo mais que envolvia diversão na sua forma mais pura. Desse dia em diante, ganhei dois grandes amigos e uma paixão por aventuras virtuais que me acompanha até hoje. Agora peço licença a vocês, pois a danada da princesa já foi raptada novamente. Vamos nessa, Mario e Luigi? O dever nos chama.


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Ítalo Chianca

Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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