Não dá pra dizer ao certo de quem foi a sacada de mesclar personagens do universo dos mutantes da Marvel com os lutadores de rua mais famosos de todos os tempos. Mas que foi uma ideia iluminada, isso com certeza foi!
A segunda metade da década de 90 foi repleta de grandes clássicos dos jogos de luta, e X-Men vs Street Fighter foi apenas o tiro inicial de uma sequência vitoriosa de crossovers que é lembrada com carinho até hoje pelos fãs.
Mutantes vs Brigões de Rua
Os personagens já estavam quase todos lá, já que a Capcom havia lançado X-Men: Children of Atom no fim de 1994 para os arcades e consoles de 32 bits. Da mesma forma, era possível reciclar todos os sprites dos personagens de Street Fighter Alpha, uma vez que a direção de arte de ambas as franquias era bastante similar. Mas isso seria apenas a metade do caminho: o sucesso de X-Men vs Street Fighter (vamos falar só XvSf daqui por diante, ok?) deve-se ainda a um sistema de combate interessante e que ajudou a pavimentar os futuros lançamentos da empresa.
Em vez de escolher apenas um personagem e partir para o racha, em XvSf você escolhe dois lutadores, mas apenas um deles luta por vez. Você pode promover a troca a qualquer momento, deixando que o lutador substituído recupere um pouco do seu HP enquanto o outro entra rasgando com tudo de voadora.
Esse sistema de tag battle tornou tudo muito mais dinâmico e até contribuiu para que a velocidade do jogo fosse ligeiramente superior a de seus títulos de origem. São duas barras de HP para zerar, então é natural que as coisas aconteçam mesmo de maneira um pouco mais acelerada. Além disso, o sistema de combos é simplificado ao máximo, justamente para permitir que as mais loucas combinações aconteçam.
Todos os personagens possuem um número bastante razoável de golpes, e boa parte deles têm efeitos devastadores. Um simples hadouken, por exemplo, tem o tamanho de metade do corpo de Ryu. Os especiais então, são raios que cobrem quase toda a tela e que podem lamber pelo menos 25% da barra de HP de um personagem de uma só vez. Com toda essa pirotecnia, é preciso ter bastante cautela na hora de atacar, além de uma pitada de habilidade para tomar as decisões certas.
A barra de especial, disposta na parte de baixo da tela, tem 3 níveis que vão sendo preenchidos conforme você ataca e é atacado pelo seu adversário. Além dos especiais normais, ainda é possível desferir um especial duplo, onde os dois lutadores se unem para lançar um ataque poderoso.
Quem vê todo aquele jogo de luzes frenético e não tem experiência em jogos de luta deve imaginar que se trata apenas de apertar botões de uma maneira insana e tudo estará bem. Só que com todos esses elementos mesclados em um único jogo, XvSf tem muito mais estratégia envolvida do que aparenta. As trocas, por exemplo, devem ser feitas nos momentos certos, pois o personagem que entra tem um pequeno delay antes de estar 100% controlável. Isso é proposital, justamente para evitar que os jogadores fiquem trocando de personagem a todo momento.
Além disso, um especial mal utilizado pode fazer com que o feitiço se volte contra o feiticeiro: se você erra um shinkuu hadouken, dá tempo de o seu adversário pular com facilidade para as suas costas e emendar um belo combo de punição, ou até mesmo usar um outro ataque especial que seja ainda mais devastador.
Saber combinar os personagens de acordo com as suas características também é importante na hora de jogar, principalmente se for no modo versus. Alguns personagens são bastante ágeis e versáteis na hora de fazer combos ou fugir, mas batem bem fraco. Outros são pesados e se movem como quem carrega um trem de carga nas costas, mas um ataque bem dado é capaz de causar um senhor estrago. Dito isso, melhor pensar bem antes de escolher a sua dupla e formular a sua estratégia de combate!
Quem está na briga?
Toda essa maluquice de misturar os X-Men e os Street Fighters é justificada por uma história bem rasa e que está ali apenas para tapar buraco: Ryu segue em sua jornada de andarilho quando cruza o caminho de Ciclope. O mutante e líder dos X-Men se interessa pelas habilidades do carateca e eles acabam tendo que unir forças para derrotar Apocalypse. Dá pra ver que criar tramas nunca foi o forte da Capcom em seus jogos de luta, mas isso na verdade não interfere em absolutamente nada e serve apenas como pretexto para a porradaria.
O jogo conta com 16 personagens jogáveis e mais o Akuma como secreto, a exemplo do que já havia acontecido em X-Men: Children of Atom. Pelo lado dos X-Men nós temos: Magneto, Fanático, Dentes-de-Sabre, Tempestade, Gambit, Vampira, Wolverine e Ciclope. Já os Street Fighters são: Akuma, Dhalsim, M.Bison, Chun-Li, Zangief, Cammy, Charlie, Ryu e Ken.
Durante o jogo, o esquema é bem simples: você vai enfrentando uma dupla após a outra até dar de frente com o chefão Apocalypse, que vem sozinho. Ele é tão grande que apenas a parte de cima do seu corpo aparece na tela! Mas o susto fica mesmo só no tamanho, já que a luta não oferece muito desafio se você souber a hora certa para se defender. Vencendo En-Sabah-Nur, você acha que salvou o mundo? Negativo! O personagem que deu o golpe derradeiro no vilão agora é o seu único personagem e você deve derrotar o seu ex-parceiro para aí sim assistir ao final do jogo.
O jogo envelheceu bem!
Mesmo se tratando de um jogo lançado há 20 anos — sim, é isso mesmo que você leu — XvSf envelheceu super bem e ainda é tão divertido hoje em dia quanto era na época do seu lançamento. Os gráficos cartunizados ajudam bastante na hora de blindar o título contra o tempo, algo que os polígonos de outros jogos concorrentes do mesmo período não conseguem igualar (já tentaram jogar Tekken 3 recentemente?).
Os cenários são bem coloridos e têm um visual muito caprichado, sendo que alguns deles inclusive foram reaproveitados em Marvel Super Heroes vs Street Fighter, sequência direta de X-Men vs Street Fighter.
A trilha sonora é um show a parte, com algumas releituras de temas clássicos de Street Fighter, ou apenas versões modernizadas, no caso dos X-Men. O tema do Ken, por exemplo, é um show de teclados e sintetizadores, mas sem descaracterizar a melodia em si. É uma OST daquelas que você se vê na obrigação de colocar em uma playlist pra ouvir sempre que der na telha, ou até mesmo comprar o CD caso você disponha de uma graninha extra.
X-Men vs Street Fighter foi lançado ainda para Sega Saturn e PlayStation, com destaque maior para o console da Sega e seu cartucho de expansão de 4mb, numa conversão bastante fiel ao Arcade, mas que ficou restrita apenas ao público japonês.
Já a versão de PlayStation foi desastrosa: slowdowns a todo momento, quadros a menos na animação dos personagens e o modo tag battle limado, para dar lugar a um sistema bem básico de melhor de 3 rounds, que em nada combinava com a dinâmica do jogo.
Considerações finais
Esse foi sem dúvidas um passo importantíssimo para a Capcom e para a história dos jogos de luta. As duas sequências, lançadas em 1997 (Marvel Super Heroes vs Street Fighter) e 1998 (Marvel vs Capcom), beberam diretamente dessa fonte e importaram quase todos os seus elementos daqui, apenas aprimorando algumas mecânicas de jogo e incrementando o elenco, de maneira que um título dificilmente pode ser comentado sem que os demais venham à memória de imediato. Esse é, sem nenhuma dúvida, um jogo de luta nota 10!