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Quando as publicações sobre games ainda davam os primeiros passos no Brasil — e o Véio ainda andava sem bengala —, a edição de estréia da revista Videogame chegou às bancas com a notícia do início oficial da geração 16-bit no nosso país, com o lançamento do Mega Drive.

Chegada com estilo

Era março de 1991, época que os clones de Atari e Nintendinho eram a grande paixão dos gamers brasileiros. Época também que a revista Videogame chegava às bancas pela primeira vez, iniciando uma trajetória de sucesso que ajudou a moldar o mercado de videogames no Brasil e a formar a primeira grande geração de jornalistas especializados em jogos eletrônicos.

Naquele ano, revista de videogame era coisa rara, pois o mercado ainda era um mistério para os jornalistas e redatores. Encontrar alguém que entendesse de videogame com idade suficiente para assinar a carteira de trabalho era um desafio. Mas, foi desse cenário repleto de novidades e descobertas que surgiu uma das publicações mais importantes do Brasil.

A revista Videogame foi lançada com ninguém menos do que Mario na capa, cercado de várias chamadas, como “10 conselhos para formar um bom jogador”, “a 5ª geração é incrível!”, “o ranking dos 10 maiores sucessos no Brasil e no exterior”, e, quase no final da página, estava o revelador título:“Mega Drive: nosso “4ª Geração” é o Genesis americano, tem console de 16 bits e jogos espetaculares”.

Quarta geração

O começo da década de 1990 foi um período de grandes mudanças para os videogames, como bem retrata a primeira edição da Videogame. Tem matéria sobre quase todas as gerações de console, indo do Atari, passando pelo NES e o Master System, até chegar ao Neo Geo. Mas é na página nº 43 que está uma das grandes novidades da edição.

Ao abrir a página, o leitor é surpreendido por o título gigantesco. Nele, estava escrito “QUARTA GERAÇÃO”, seguido de um belíssimo console preto ligado a uma TV. Embora alguns sortudos já o conhecessem, outros tantos viram, talvez pela primeira vez, o videogame que deu início a nova geração de videogames no Brasil, como dizia o título seguinte:

LANÇADO NO BRASIL O PRIMEIRO GAME DE 16 BITS

Chegava ao Brasil, finalmente, o Mega Drive, console de 16-bit lançado pela SEGA em 1988, no Japão, para concorrer com a Nintendo pela hegemonia do mercado de jogos eletrônicos. E, assim como foi em outros países, o aparelho foi muito bem recebido por aqui, como deixa claro a análise da Videogame.

Comparado aos consoles da época, o Mega Drive era muito superior a tudo que já tínhamos jogado por aqui. Nas palavras da revista, “o som é fantástico. A imagem tem definição e cores extraordinárias, em planos que dão a nítida impressão de terceira dimensão sem o uso de qualquer tipo de óculos especial”.

O que mais impressionava no Mega Drive, pelo visto, era a sua qualidade gráfica. Ainda segundo a matéria, “Os detalhes, nas cenas de movimentação, são quase perfeitos”. Era uma perfeição visual quase sem precedentes. Difícil até de comparar com algo já lançado para os videogames anteriores.

Mega salto

Com tantos aparelhos rondando o mercado brasileiro nessa época, além da pouca informação sobre videogames em geral, a notícia sobre o lançamento do Mega Drive foi bem didática ao explicar o salto dado para a quarta geração. Segundo a notícia, “Os (consoles) de quarta geração trabalham com o dobro de capacidade, ou seja, 16 bits. Por isso, os seus recursos são muito maiores e mais atraentes.”

Além da evidente melhoria técnica, a forma como chegou ao mercado também tornava o Mega Drive motivo de comemoração para a Videogame. Diferente da maioria dos outros videogames encontrados no Brasil naquela época, o Mega Drive chegava às “lojas especializadas e magazines” de forma oficial, sendo, segundo a Videogame, “um passo para se aproximar das mecas do videogame, como EUA e Japão”.

A façanha de trazer o console para o Brasil era da Tec Toy, que produziu um console “idêntico ao Gênesis americano e praticamente o mesmo do mercado japonês”, com o “microprocessador Motorola 68.000” com o “processador Z-80”, seus “jogos de até oito mega de memória” e “capacidade para reproduzir até 512 cores”.

O Mega Drive parecia ser o maior sonho dos jogadores naquele momento. Todos querendo participar da tão comentada quarta geração de videogames, atraídos, claro, “pelas qualidades gráfica e musical muito superiores aos da terceira geração”. Todos queriam um Mega Drive — ainda querem, na verdade. Mas a brincadeira tinha um preço.

Brincadeira cara

As crianças que se animaram para colocar as mãos em um Mega Drive ao iniciarem a leitura da notícia, contudo, teriam dificuldades em convencer os país a comprarem o novo videogame. Segundo a matéria, “como é um console com o dobro da capacidade dos já conhecidos no Brasil, o seu preço também é superior aos dos demais”.

Mas, para quem estivesse disposto a embarcar na geração 16-bit, a Videogame trazia novidades animadoras. A Tec Toy, além do console, também lançava “10 jogos específicos para o Mega Drive”, com previsão de “que até março de 91, outros cinco estejam à disposição do consumidor”.

Era bom, porém, o jogador se preparar, pois os jogos do Mega Drive, segundo a Videogame, são jogos “de níveis avançados, que exigem muita habilidade do jogador.” Mas esse preço, todavia, eu posso apostar que todos estavam dispostos a pagar, pois a primeira leva era cheia de excelentes games, como Michael Jackson’s Moonwalker, Super Monaco GP, The Revenge of Shinobi, Super Futebol, Golden Axe, Truxton, Rambo III e Altered Beast.

Era o início de uma das melhores épocas dos videogame, começando bem na nossa frente. Surgia ali uma das principais revistas sobre games e um os consoles mais aclamados pelos gamers brasileiros. Contudo, mesmo descrevendo detalhadamente do que se tratava a revolução dessa nova geração, a Videogame deixava bem claro: “Para sentir essa evolução da terceira para a quarta geração, só jogando”

E assim fizemos. Jogamos Mega Drive por décadas. Inclusive, continuamos jogando, não é?


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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