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Grandes redes de locadoras, dezenas de revistas nas bancas, consoles e jogos do momento, eventos com convidados internacionais. Ser um jogador nos grandes centros brasileiros é realmente algo único e empolgante. Porém, para quem é fã de videogames e mora em cidades pequenas, no interior do Brasil, a realidade é bastante diferente.

Passado glorioso

Durante vários anos, as gerações de videogames eram acompanhadas, praticamente, em tempo real por todo o Brasil. Mega Drive, Super Nintendo, PlayStation. Todos esses consoles faziam parte da vida dos jogadores, independentemente de onde morassem.

Um dos maiores motivos para isso eram as locadoras que, mesmo com as dificuldades da época, encontravam uma forma — muitas vezes ilegal — de conseguir o console e os jogos do momento, proporcionando uma vida gamer bastante agitada para os jovens jogadores.

Não era preciso comprar um jogo para jogá-lo, ou mesmo ter o videogame em casa. Durante a existência das locadoras, bastavam algumas moedas para que você, mesmo naquela locadora improvisada na garagem de um sujeito bem esquisito, pudesse se aventurar pelo último lançamento do seu console favorito, quase em tempo real nas capitais.

Ah, ficou encalhado naquele RPG que só chegou em japonês? Bastava ir à bodega da esquina para conseguir uma revista recém-lançada, com diferença de poucos dias para os grandes centros. Esses foram anos realmente incríveis para quem cresceu acompanhando o surgimento e a consolidação dos jogos eletrônicos como um dos principais entretenimentos da juventude brasileira. Porém, essa realidade mudou drasticamente nos últimos anos. Mais precisamente depois da geração 128-bit.

Geração eterna

Depois que as locadoras se transformaram em Lan-Houses e essas, por sua vez, deixaram de existir, os videogames subitamente desapareceram das pequenas cidades brasileiras. Com exceção dos velhos entusiastas e colecionadores que continuaram jogando em casa, é quase impossível encontrar qualquer referência pública aos videogames em cidades de interior. Pelo menos aos novos consoles.

Sem a facilidade das locadoras, os videogames se tornaram artigo de luxo. E, com dezenas de outras prioridades nessa dura realidade que é morar em um lugar de poucas oportunidades, comprar e manter um videogame da atual geração é uma tarefa para poucos no interior.

Longe da mesma popularidade nas décadas de 1990 e 2000, os videogames, contudo, ainda respiram em meio aos jogos de celular e tablet. Uma pequena e apaixonada parcela de jovens jogadores se mantém firme graças a um velho conhecido dos tempos de locadora. O saudoso PlayStation 2.

Império infinito

Aqui onde moro, no interior do Rio Grande do Norte, acreditem, o videogame do momento ainda é o PS2. Em algumas lojas de móveis e eletrônicos ainda é possível encontrar o aparelho à venda, na caixa, destravado e com controles, por cerca e R$ 400,00 ou R$ 500,00, dividido em 12 parcelas.

Além do preço atrativo, outro fator que torna o PlayStation 2 acessível são os seus jogos. É possível comprar títulos em feiras e com vendedores ambulantes que passam nas ruas vendendo DVDs piratas. O preço? R$ 2,00 cada game ou três jogos por R$ 5,00? Baratinho, não é?

Alguns pequenos comerciantes que trabalham com informática e manutenção também abastecem esses poucos gamers que ainda se divertem com o PS2. Já encontrei pequenos estabelecimentos de Xerox, abastecimento de cartuchos de impressão e técnicos em informática que copiam e gravam jogos de PS2 na hora, com direito a catálogo em cima do balcão. Tem até a opção de download caso ele não possua o título no HD.

Para todos

Assim como as inusitadas formas de se conseguir jogos, os gamers que se valem do PS2 para manterem viva a paixão pelos videogames recorrem a formas alternativas para deixarem seu catálogo de títulos atualizado na medida do possível. E a melhor forma para isso são os hacks e patches produzidos com base em franquias de sucesso da plataforma. Entre eles, claro, GTA e PES.

Se desde os tempos áureos do PS2 os famosos Bomba Patch faziam a alegria da galera com times, uniformes e escalações atualizadas do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e até os Estaduais mais inusitados, como o campeonato Potiguar aqui, hoje essas modificações mantém o interesse de jogadores, congelados no tempo das gerações, sempre em alta.

Por aqui, na minha cidade mesmo, já era possível encontrar PES com Neymar vestindo a camisa do PSG poucas semanas depois da milionária transferência. Ah, e o jogo custava mais caro do que os outros, cerca de R$ 7,00, e ainda tinha direito a uma garantia de limpeza no disco nos próximos 30 dias. E o melhor é que geralmente nem é preciso sair de casa. Aqui os vendedores ambulantes andam pelas ruas da cidade no final de semana, gritando: “olha o DVD e jogo de Play 2”.

Fim de fase

Infelizmente, esse cenário é um pouco desanimador para quem vivenciou os anos de glória das locadoras de videogame. Feliz por ver que alguns garotos ainda se interessavam por games, resolvi conversar com alguns vendedores de jogos. E, para a minha surpresa, eles me revelaram que a maioria desses garotos que jogam PS2 não se interessam muito pelo mercado e a indústria como antigamente. A maioria simplesmente nem sabe quais são os videogames do momento ou que o console que eles possuem já saiu de linha há anos.

Eles apenas jogam, sem ao menos identificar que aquele GTA Tropa de Elite que ele comprou na feira, em uma banca de DVDs piratas com uma toalhinha estirada no chão, não é um jogo original da Rockstar. E se eles estão preocupados ou ansiosos com os próximos lançamentos de PlayStation 4, então… Alguns até perguntam se o console já foi lançado mesmo.

Lar, doce lar

Eventos, campeonatos, revistas ou conversas durante os intervalos na escola também não fazem parte do cotidiano desses novos jogadores de consoles antigos. A galera mais velha até faz uma força para se reunir, trocar um jogo, conversar sobre as novidades. Mas tudo isso em visitas rápidas às casas dos amigos, pequenos eventos locais ou através da internet mesmo.

Mas o cenário atual dessas pequenas cidades do interior, nem de longe lembra aquela alegria do tempo das locadoras, que bastava passar pelo centro de qualquer cidade que fosse, incluindo a minha pequena São José com seus pouco mais de três mil habitantes, para ouvir o barulho da molecada jogando e se divertindo.

Mesmo com todas as dificuldades, ver a força que a turma das pequenas cidades do interior do Brasil faz para poder se divertir com um videogame é de aquecer a alma de qualquer entusiasta. Até porque, o que faz do videogame especial são os bons momentos que eles proporcionam e, para isso, não são necessários gráficos ultra-realistais, o videogame mais caro ou saber de que acontece do mercado em tempo real. Basta um bom jogo para que tudo valha a pena.


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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