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Exclusiva dos consoles da Nintendo desde sua origem, a série Castlevania seguiu um novo caminho na história dos videogames em 1994, quando Castlevania: Bloodlines foi lançado exclusivamente para o Mega Drive, apresentando um game violento e divertido no auge da Guerra dos Consoles. Vamos relembrar?

Novo capítulo

A rivalidade entre Nintendo e Sega na primeira metade da década de 1990 resultou em um dos períodos mais produtivos na história dos videogames. Cada uma das duas empresas tentava desenvolver grandes jogos ao passo que buscavam parcerias com outras desenvolvedoras de peso na intenção de povoar o seu sistema com jogos de qualidade.

Na busca por parceiros capazes de produzir bons jogos, e de quebra gerar certo incômodo ao rival, a Sega conseguiu parceria com a Konami para o lançamento de Castlevania para o Mega Drive.

Se o fato de ter um jogo de uma franquia quase exclusiva da Nintendo já não fosse o suficiente para causar alvoroço no mercado de games, o Castlevania do Mega seria exclusivo. E foi assim, cercado de ira dos fãs da Nintendo e aclamado pelos proprietários do 16-bit da Sega, que chegou às lojas, em 1994, Castlevania: Bloodlines (Vampire Killer no Japão).

Tempo de Guerra

Spin-off da série Castlevania, Bloodlines é ambientado em um período que corresponde aos eventos da primeira Grande Guerra Mundial. A trama tem início quando, em 1914, o príncipe herdeiro da Áustria é assassinado em Sarajevo, causando uma forte onda de violência que resultou no estopim do conflito mundial.

Segundo o jogo, a responsável pelo assassinato foi Elizabeth Bartley, uma vampira sobrinha de Drácula que foi ressuscitada pela poderosa feiticeira Drolta Tzuentes. O plano das duas era desencadear um conflito global que gerasse o maior número de mortes possível para, dessa forma, usar as almas dos mortos para reviver Drácula, o senhor das trevas.

Para evitar que Drácula ressurja do seu sono eterno, John Morris, descendente da família Belmont— e atual dono do chicote Vampire Killer —, ao lado do seu amigo de infância, Eric Lecarde, guerreiro que possui a Alucard Spear, partem em uma caçada pela Europa para deter o renascimento do maligno Conde Drácula.

Sem Belmonts

Uma das grandes novidades de Bloodlines é a presença de dois protagonistas. Dessa vez, sem um Belmont na linha de frente, cabe aos jovens guerreiros John Morris e Eric Lecarde a missão de encarar os desafios da jornada contra as damas do mal que tentam trazer Drácula de volta ao mundo.

Cada personagem possui características únicas, como arma própria e até diferenças na jogabilidade, tornando o jogo bem diverso e quase forçando o jogador a terminá-lo, pelo menos, duas vezes.

Com John Morris, o jogador assume o controle de um caçador de vampiros no estilo tradicional dos jogos da série principal. Saltar, atacar com o chicote e se movimentar de forma lenta e pesada pelos cenários, é como se estivesse no controle de um Belmont. Morris também é capaz de carregar o poder do chicote para usar um golpe mais poderoso e ainda pode se balançar no teto.

Eric Lecarde, por sua vez, possui jogabilidade um pouco mais voltada para a ação, com movimentos rápidos e poderosos, graças à lança de Alucard. Ele tambémpossui duas habilidades únicas: pode girar a arma nas duas direções(para frente e para trás); e utilizar a lança para conseguir saltar mais alto.

Os controles são muito intuitivos, o D-pad movimenta o personagem enquanto o botão A ataca, o B pula e o C serve para utilizar os itens especiais — que também são os tradicionais da série, como o frango para restaurar o life; os sacos de dinheiro para aumentar a pontuação; os power-ups para as armas; e as vidas extras. A exceção fica por conta dos corações, que foram substituídos por joias.

Independente de quem você escolha para jogar, terão itens secundários à disposição (machado, água benta e bumerangue), hordas de inimigos para destruir e estágios desafiadores para superar, mas com diferentes trechos para cada personagem.

Rota da morte

A jornada para concluir Castlevania: Bloodlines é curta, mas bastante desafiadora e prazerosa. A primeira fase é o tradicional castelo de Drácula, com toda aquela arquitetura imponente e uma floresta amedrontadora ao fundo. A segunda se passa no Templo de Atlântida, uma complexa e bela paisagem com direito a uma corrida frenética para não ser morto por a água.

Na fase 3, temos a Torre de Pisa, um cenário que exige habilidade no comando do personagem e que, certamente, fará você parar alguns instantes para observar a beleza dos efeitos de escala na tela. A Fábrica de Armas traz as já tradicionais plataformas em forma de engrenagens para a quarta fase, além de muitos esqueletos e soldados. É tenso passar daqui.

O quinto estágio, por seu turno, é o Palácio de Versalhes com direito a fonte de sangue e uma enxurrada de inimigos para vencer. Mas, passando dessa tortura, chegaremos até a sexta fase, o Castelo de Proserpina. Com uma linda lua avermelhada ao fundo e um dos castelos mais bonitos da série, passamos por uma maratona de duelos contra a Morte, os chefes anteriores, e Elizabeth até chegarao duelo final.

A jornada é curta, podendo ser superada em poucas horas ou menos, caso você já conheça o game. Mas, para os que gostam de curtir as missões aos poucos ou que tenham dificuldade com o estilo de Bloodlines, os passwords estão lá para facilitar um pouco o progresso. Pelo menos não será mais necessário recomeçar o jogo da primeira fase sempre que concluir um dos estágios.

Visual

Bloodlines é um game único na vasta e rica biblioteca do Mega Drive. Alguns efeitos vistos no jogo, por exemplo, foram poucas vezes replicados em outros títulos, como a Torre de Pisa que balança de um lado para o outro.

Os cenários, aliás, são um show à parte, com detalhes impressionantes. São itens, objetos, inimigos e, principalmente, diversas camadas de profundidade que fazem um ótimo uso do efeito parallax do console. Os próprios chefes de fase possuem diferentes partes que os tornam maiores e mais bem-feitos. Mesmo com a enorme quantidade de inimigos e objetos na tela, dificilmente você verá slowdows, característica marcante do console.

Em uma das fases, um lindo efeito de reflexo na água gera um dos níveis mais bonitos e desafiadores do jogo. Em cada fase existe, também, uma enorme variedade de locações, o que torna a experiência de jogo bastante agradável e surpreendente. É sempre uma descoberta passar de uma tela para a outra.

Particularmente, a variedade de ambientes, a qualidade dos spirtes, os ótimos efeitos de magia e a movimentação suave dos personagens tornam esse um dos jogos mais bonitos do console. Isso sem mencionar o fato de que a Sega, diferentemente da Nintendo, deixou o sangue rolar solto.

Música

Como já é tradição na série, a trilha de Bloodlines é estonteante. São canções fortes, cheias de energia e com melodias que vão do clássico ao rock, dando o tom certo para a ação do jogo. Temas de outros títulos com nova roupagem se misturam a composições inéditas para gerar a atmosfera que o título pede.

Curiosidade: a compositora Michiru Yamane, famosa pela trilha de Castlevania Symphony of the Night, começou na franquia aqui, com músicas incríveis para o jogo, tirando máximo proveito das características do Mega Drive.

Ponto para a Sega

Castlevania: Bloodlines seguiu muito da fórmula de sucesso da série: jogabilidade dura, movimentação 2D e estágios lineares. Mas também trouxe novidades, como os cenários longe da Transilvânia (percorremos vários lugares da Europa) e ter dois protagonistas que não eram da família Belmont—embora o clã Morris tivesse bastante proximidade com a lendária família de caçadores de vampiros.

Mesmo vindo de uma série tradicionalmente desenvolvida para os consoles da Nintendo, Castlevania: Bloodlines não abandonou suas origens, entregando uma verdadeira experiência “Castlevania” ao Mega Drive, e trazendo elementos que o tornam único dentro da franquia. Pode não ser o mais bonito, nem possuir a melhor trilha sonora, mas certamente é marcante e possui a sua importância na mitologia e cronologia da série — e, principalmente, para o console, que saiu da Guerra dos Consoles com esse capítulo exclusivo que merece ser jogado e relembrado por quem gosta de ação e aventura no 16-bit da Sega.

Longplay

Castlevania: Bloodlines
Desenvolvedora: Konami
Publicadora: Konami
Plataforma: Mega Drive
Lançamento: 1994

Revisão: Rafael Belmonte

Picture of Ítalo Chianca

Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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