A primeira vez em que vi Street Fighter II para Snes foi num cartucho pirata.
Eu tinha uma loja chamada Progames e nesta loja não tínhamos jogos piratas. Nem mesmo para jogar internamente ou para conhecer o jogo, a gente não permitia a entrada de jogos que não fossem originais!
Porém, naquela tarde, chegou uma pessoa pedindo para falar comigo por ser o responsável pela loja, querendo me mostrar algo. Fomos para uma sala onde eu costumava receber os clientes, fornecedores e pessoas do mercado de games, e ele me mostra um cartucho de Street Fighter II. Em meados de 1992, aquele era o jogo mais aguardado do planeta e o cara pediu para eu dar uma olhada! Já estava lá dentro mesmo, eu louco para ver, liguei o Super Nintendo e perdi o ar.
Confesso que, naquele momento, esqueci por um tempo a regra dos jogos originais e só tinha olhos para a TV, vidrado na vinheta da Capcom. Quando começou a tocar a trilha de abertura e as imagens saltaram aos olhos, nem pensei em mais nada! O cara, que era dono do jogo, falando comigo e eu nem entendia o que ele falava. Eu só tinha olhos para a tela, que coisa mágica foi aquele momento. Eu só queria jogar até não poder mais.
Depois de muito tempo, resolvi dar atenção ao que ele estava falando, e só então voltei à realidade e entendi que ele na verdade queria vender os cartuchos piratas para que nós colocássemos em todas as nossas lojas. O mais notável é que nem mesmo havia ainda sido lançado o jogo original, e também o jogo não era completo, quando chegava numa determinada luta ele congelava.
Desde aquele momento não tive mais dúvidas de que se tratava do jogo mais espetacular no gênero, e que dominaria minhas lojas pelos próximos meses. Quando os cartuchos originais chegaram, foi algo que eu nunca vi se repetir durante todos os outros sete anos em que estive à frente da Progames.
Não havia parâmetro para nada quando se tratava de Street Fighter. A gente nunca sabia quantos cartuchos eram suficientes (suficientes não é a palavra) para a locação. Não sabíamos quantos jogos comprar para revender, tanto para as nossas franquias quanto para venda ao consumidor. Foram muitos meses para que sobrasse pela primeira vez um cartucho na locadora para que eu pudesse leva-lo para casa no final de semana. Só então, pude dar continuidade àquele momento mágico que vivi quando o tal vendedor de jogos piratas bateu à minha porta.
Arrisco dizer que, mesmo depois de todos as novas versões e depois de vários hacks, Street Fighter II foi o jogo mais consumido de forma per capita, pois o número de consoles existentes na época não se compara com os anos que se sucederam.
Não sei precisar se pela chegada do Ryu, até hoje um dos mais populares personagens do jogo, ou pelo fato de ser a primeira versão a implementar os combos (ainda que de maneira acidental), Street Fighter já era sucesso absoluto nos Arcades. Com a possiblidade de agora as pessoas poderem ter este clássico em casa, SFII se tornou um dos principais jogos do mercado dos videogames.
Aliás, com certeza foi também um dos responsáveis pelos atrasos nas edições da revista Gamers, pois na redação o “contra” rolava solto nas madrugadas e todo mundo deixava o trabalho de lado. Ainda me referindo a Gamers, SFII ilustrou dezenas de páginas da nossa revista e foi com certeza o título que mais mereceu revistas especiais dedicadas. Não por acaso, também era um dos nossos favoritos na hora de escolher as capas. Velhos tempos!
Ivan Battesini foi o fundador da rede de locadoras Progames, além de criador e editor da saudosa revista Gamers. Hoje, é um dos responsáveis pelas revistas e livros da WarpZone.