Lançado para PlayStation em 31 de janeiro de 1997, no Japão, Final Fantasy VII marcou época como um dos melhores jogos de sua geração, e, porque não dizer, de todos os tempos. E para celebrar seu aniversário de 20 anos, abrimos o baú de relíquias do Véio para relembrar como foi a recepção do jogo na lendária revista Gamers, o periódico que mais produziu conteúdo sobre o FFVII na época de seu lançamento.
Fazendo história
Era março de 1997, quando a revista Gamers #17 chegou às bancas com a seguinte manchete em sua capa: “Final Fantasy VII, conheça o melhor RPG de todos os tempos”. Era quase impossível ler essa manchete, que dividia espaço com as chamadas para o detonado de Mega Man 8 e os golpes e segredos para Real Bout Special, e não se empolgar.
Se já não bastasse todo o hype criado pela capa e até pelas edições anteriores – notícias e prévias do jogo foram publicadas nas edições 8, 13 e 15 – , logo na página seguinte, a revista separou uma ilustração incrível de Cloud, na seção Pro Imagem, com direito a selo de Game do Mês e tudo.
A empolgação dos redatores por Final Fantasy VII era evidente em cada página. O título do editorial, por exemplo, era “Na onda RPG”. Nas palavras do editor, “tudo estava indo bem até que Final Fantasy VII pintou aqui na redação, aí não teve mais jeito, a galera comeu, bebeu e respirou RPG o tempo todo, daria para fazer um especial “
Uma cobertura avassaladora
Depois de algumas páginas com cartas e desenhos dos leitores, dicas e códigos, e algumas notícias – entre elas o anúncio de Mother 3 para o Nintendo 64 DD – , os gamers brasileiros foram apresentados a “verdadeira estréia da Square nos 32 bits”, como dizia o título da matéria sobre Final Fantasy VII, na página nº 19.
Se o título já era animador, o restante do texto, assim como tudo na revista até aquele momento, não mediu palavras para elogiar o game: “A Square (…) conseguiu se superar e fazer o jogo imbatível, simplesmente o melhor RPG já visto na face da terra.”
A matéria seguiu contextualizando a história da franquia nos consoles e comentando o fato de que Final Fantasy VII era a verdadeira estréia da Square no PlayStation, tendo em vista que Tobal Nº1 era “um game de luta muito bom, mas não é grande coisa”, sendo sucesso de vendas “só porque vinha com um CD extra com a demo jogável de FFVII”.
Final Fantasy VII realmente mexeu com os sentimentos dos redatores da Gamers. Ainda não página nº 19, a publicação comentou sobre aspectos técnicos do jogo. “O enredo de FVII é mais que perfeito, é cativante, você não vai conseguir largar este game por nada. Em matéria de gráficos, só basta dizer que não há melhor”.
As CGS também foram destaca na análise revista, sendo consideradas “as mais detonantes já vistas no console da Sony, mesmo de Tekken 2 e as de SoulEdge”. Somente a trilha sonora é que não foi muito bem avaliada na edição. Nas palavras do autor, “a Square não aproveitou a capacidade do console, e optou por fazer músicas com arranjos simples ao invés de utilizar a qualidade de CD. Além disso, os efeitos sonoros do game em geral também são bem simples, mas nada disso vai atrapalhar a suas diversão de jogar este game”.
Seguindo com dicas, diversas imagens das CGs (com direito a um baita spoiler), telas das Summon Materias, e perfil dos personagens, a edição marcou a entrada definitiva do título no coração dos jogadores brasileiros, que, depois de lerem essa análise apaixonada, devem ter ficado malucos para iniciar essa jornada memorável.
Sem espera
Com o lançamento americano previsto apenas para o final do ano, os jogadores brasileiros faziam de tudo para encontrar um jeito de jogar Final Fantasy VII. O problema, contudo, é que as cópias que chegavam ao nosso país eram todas em japonês. Esse problema, contudo, foi resolvido pela Gamers, que com um ótimo trabalho, destacou o título durante todas as edições seguintes, até o lançamento da versão americana.
A maratona com o novo RPG da Square começou na edição #18. A promessa era, como dizia na chamada de capa, entregar “tradução de menus, itens, todos os comandos. Estratégia com muitas dicas e manhas”.
Logo no primeiro parágrafo da matéria, na página nº 38, a publicação deixou claro para os leitores que aquela seria apenas a primeira parte de um longo especial, e que a falta de domínio do japonês não seria um empecilho para jogar essa obra-prima. Segundo a revista, “você vai poder curtir ao máximo mesmo, entender todos os menus, opções e a história do jogo com a nossa série de matérias com a qualidade que você não vai encontrar em nenhuma outra revista do mundo”.
Ciclo de sucesso
Depois das traduções e o detonado da parte inicial, os leitores puderam seguir a aventura de Cloud na edição #19, começando pela linda arte da secção Pro Imagem, até chegar a segunda parte da estratégia do jogo, que contava com mais traduções e um passo a passo detalhado.
A edição nº 20 da Gamers, lançada em julho de 1997, também deu continuidade ao detonado de FVII. O fato curioso é que a revista precisou reeditar parte do guia da edição passada, que foi às bancas com um pequeno defeito de impressão. Tirando esse contratempo, o detonado continuou ajudando os jogadores brasileiros a enfrentar a longa aventura no PlayStation, dessa vez “com uma porção de manhas do game, como o sistema de Limit Breakers, novas Materias, personagens secretos, novas armas e também detalhes sobre o enredo”.
Na edição seguinte, de nº 21, a Gamers concluiu o detonado de Final Fantasy VII de forma magistral, comentando sobre os pontos mais marcantes do enredo, como “os segredos de Hojo sobre Sephiroth, os Weapon Monsters, a origem de Aerith, o que realmente aconteceu no acidente em Nible Reign, os segredos de Cloud, e as Huge Materias”. A maratona estava perto fo fim, falta apenas mais uma edição.
“Demorou mas acabou”. Esse era o título da matéria que encerraria a série de especiais da Gamers para ajudar os brasileiros a concluir esse que já era um dos melhores jogos produzidos até aquele momento. Com um misto de felicidade e aparente exaustão, a publicação disse: “Final Fantasy VII destrinchado em detalhes até o final causou a alegria de muitos e a insatisfação para alguns. Mas como não é possível agradar a gregos e troianos, procuramos satisfazer a maioria dos leitores e cá estamos com a última parte do game”.
Foram meses de trabalho exaustivo, dezenas de páginas publicadas para um único game, problemas de edição, e incontáveis horas de jogo até concluir essa tarefa colossal de criar um guia completo para os leitores da Gamers. Contudo, o trabalho com Final Fantasy VII ainda não tinha acabado.
Uma obra de arte
Depois da maratona desde o lançamento japonês, FFVII voltou a ser destaque na Gamers, dessa vez na edição 24, de outubro de 1997. Celebrando o lançamento ocidental, a revista foi mais cautelosa, separando apenas uma página para a análise. Nas palavras da Gamers, “a versão americana deste, que já é considerado um dos clássicos do gênero, reserva surpresas. Entre elas algumas novas cenas em CG, novos cenários de batalha, e dois Planet Weapons além daqueles existentes na versão japonesa, os quais você pode enfrentar normalmente”.
No final da matéria, junto ao quadro de notas, a revista ainda comentou: “A única coisa que talvez possa decepcionar um pouquinho é a ausência de uma maneira de ressuscitar Aeris, tendo assim um final diferente”. Com essa matéria, FFVII encerraria o seu ciclo na Gamers, não fosse algo ainda mais especial que estava a caminho.
Trazendo praticamente tudo sobre o jogo, a Gamers lançou, em um trabalho inigualável no Brasil, uma edição especial completamente dedicada a Final Fantasy VII. Chamada Gamers Book, a revista trazia em 100 páginas, “absolutamente todos os segredos desta obra-prima da Square desvendados”, como dizia a chamada de capa.
A revista, que mais parecia um livro, era uma edição de luxo, como os famosos guias americanos e japoneses. No editorial, os redatores fizeram questão de enaltecer o caráter único da publicação, celebrando a conquista da revista em conseguir levar um produto especial para os seus leitores.
A Gamer Book, nas palavras do editorial, tinha o objetivo de ser “uma publicação que pudesse superar, tanto em qualidade quanto em quantidade de informações, qualquer outra estratégia existente no vasto mercado que é o brasileiro. Um revista onde você, jogador, pudesse encontrar tudo que se poderia saber para desvendar todos os segredos existentes em games de dificuldade elevada”.
A publicação também surgiu da necessidade de lançar as longas estratégias em um lugar mais apropriado, como dizia o editorial da histórica edição. “As estratégias de nossa revista mãe (…), ao mesmo tempo que recebiam os louros da glória, por outro lado eram apedrejadas brutalmente, com o argumento de que elas ocupavam muito espaço das revistas”.
Sem dúvidas, a Gamers Book fez história, sendo, inclusive, considerada por muitos fãs de revistas de videogame, como uma das melhores publicações brasileiras lançadas até hoje, sendo um marco no mercado editorial de jogos.
Palavras de um mestre
Para encerrar essa nossa viagem nostálgica ao passado gamer brasileiro e a história de Final Fantasy VII contada nas páginas da revista Gamers, nada melhor do que o depoimento de um dos maiores responsáveis por todos esses momentos marcantes que relembramos até aqui.
Editor da revista Gamers na época, Fábio Santana foi o redator por trás dos textos publicados sobre Final Fantasy VII na época de seu lançamento e um dos idealizadores da Gamers Book. Nas palavras dele:
“Final Fantasy VII foi um marco na história da revista Gamers. Fomos a primeira revista no Brasil a dar capa para o jogo (e para um Final Fantasy, ponto), ainda no lançamento da versão japonesa. Publicamos conteúdo em todas as edições até o lançamento da versão americana, nove meses depois. E então produzimos um guia de 100 páginas dedicado a esmiuçar todos os segredos e traduzir a história de Final Fantasy VII para o público brasileiro, a Gamers Book.
São revistas muito nostálgicas que as pessoas mencionam até hoje quando vêm falar comigo. E tanto destaque para o jogo, e para os JRPGs em geral depois disso, veio pela paixão de toda a equipe da revista Gamers pelo gênero. Paixão que vive até hoje, 20 anos depois desses eventos tão intensos.”
Parabéns pelos seus 20 anos, Final Fantasy VII. E parabéns pelo trabalho magnífico, Gamers. Foi uma época incrível.
E você, caro leitor? Quais as suas melhores lembranças com Final Fantasy VII? Ainda guarda uma Gamers Book em casa? Ou usou o guia publicado na revista mensal para concluir o jogo. Conta aí para a gente.