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Será que os jornalistas da época das saudosas revistas de videogame já imaginavam como estaria o mercado de games hoje? É isso que vamos descobrir ao relembrar a 100ª edição da revista Ação Games, onde a redação entrevistou especialistas norte-americanos para traçar algumas previsões sobre o futuro do entretenimento eletrônico. Vamos descobrir?

Edição histórica

Em fevereiro de 1996, chegava às bancas de todo o Brasil — se chegava aqui no RN, com certeza chegava em todo o lugar — a 100ª edição da revista Ação Games. Essa era, sem dúvidas, uma marca histórica, que consagrava uma das principais publicações especializadas em games no país.

Como não poderia ser diferente, a edição trazia diversas matérias especiais, como “100 dicas imperdíveis”, “100 truques mais famosos de todos os tempos”, “100 jogos inesquecíveis”, “tudo sobre a história dos videogames”, e, com direito a uma chamada no topo da capa, uma matéria sobre “qual será o futuro do entretenimento eletrônico?”.

E é justamente sobre essa matéria acerca das previsões sobre o futuro do games que vamos nos deter nessa viagem ao passado que pensava sobre o futuro que é o nosso presente. Confuso? Então espere só pra saber o que eles falavam sobre o nosso tempo em 1996.

O futuro é logo ali

Vivenciando um momento de transição entre gerações, no qual os consoles de 16-bit eram sucedidos pelos poderosos videogames de 32-bit e 64-bit, que aos poucos mudavam a estética e a forma de jogar dos games, os redatores da Ação Games resolveram entrevistar especialistas americanos em tecnologia — Tom Adams e Chris McGowan — para recolher pistas sobre como os jogadores estariam se divertindo 10 ou 20 anos a frente.

O primeiro questionamento da revista foi sobre os PCs. Observando que os computadores estavam cada vez mais baratos e poderosos, a revista questionou: “Será que um dia micro e videogame serão a mesma coisa? Ou um vai dominar o outro?”

Para Tom Adams, “micros e videogames continuarão existindo e haverá espaço bastante para as duas coisas.” Mas ele também chamou atenção para a falta de domínio de apenas uma plataforma, como foi na época do NES, e completou falando que “a quantidade de pessoas que terá esses equipamentos será muito maior”.

Chris McGowan foi ainda mais longe. Segundo ele, “não existirão só dois, mas três tipos de máquinas. Uma família de classe média pode ter um PC no escritório, uma máquina Sony ou Sega no quarto das crianças e um equipamento para Internet na sala de estar, ligado no aparelho de TV de casa”.

Pelo visto, a maioria das previsões foi certeira. PCs e consoles convivem bem e de certa forma separados; não existe mais uma empresa que domine quase 90% do mercado; e a descrição de divisão de aparelhos em casa está bastante próxima de boa parte dos lares atuais. Ponto para os especialistas.

CD x Cartucho

O segundo questionamento sobre o futuro dos games foi em relação à mídia utilizada nos jogos. Quem teria mais chances de vencer a nova geração? O Nintendo 64 com os seus cartuchos? Ou o 3DO com os games em CD?

Enquanto Tom foi menos objetivo, comentando apenas que o Nintendo 64 “deve sacudir o mercado, pois usando cartuchos pode-se aprimorar o desempenho dos jogos com novos chips no cart”, Chris cravou o sucesso dos CDs dizendo que a Nintendo está ”cometendo um grande erro dando mais importância a velocidade do que a qualidade visual”, pois os jogadores estão exigindo jogos com cada vez mai realismo.

Como a história mostrou, a escolha por cartuchos não foi a mais correta por parte da Nintendo. O PlayStation provou que a quantidade de armazenamento e o baixo custo dos CDs seria a melhor opção para os próximos consoles. Meio ponto para os especialistas.

Mudança de rumo

O terceiro questionamento sobre o futuro gamer publicado na Ação Games foi em relação a compatibilidade entre os sistemas. A revista queria saber se um dia a mesma versão de um jogo rodaria em qualquer máquina.

A resposta de Chris foi rápida e direta: “a compatibilidade total já ocorre entre computadores. Mas não vejo compatibilidade de formatos na ala dos videogames”, pois, ainda segundo ele, “a briga entre Sony, Nintendo, 3DO e Sega vai continuar acontecendo, com os fabricantes aprimorando sua tecnologia cada vez mais”.

Se formos ao pé da letra nessa questão, o mesmo jogo realmente não roda em sistema diferentes — experimente colocar o seu jogo de Xbox One no PS4 para ver. Contudo, assim como já acontecia na época, um mesmo título recebe versões para várias plataformas, permitindo até que jogadores em diferentes consoles joguem a mesma partida.

Ah, e infelizmente Sega e 3DO não continuariam na briga junto com a Sony e a Nintendo, mas, as empresas ainda lutam pela hegemonia do mercado como foi previsto. Mais meio ponto para o pessoal do passadp.

Novos conceitos

A próxima dúvida sobre o futuro dos jogos eletrônicos envolve o surgimento de novos gêneros de jogo. Na edição, a revista queria saber se surgiria novos conceitos de games diferentes das fórmulas consagradas na época, como os jogos de luta, “estilo Doom”, e assim por diante.

Segundo Tom, o gênero do futuro seria o dos jogos educacionais, pois “a cinco anos atrás isso não era considerado de grande interesse para o público, mas ultimamente acabou tornando-se extremamente popular”.

Enquanto Tom foi mais ousado nas previsões, Chris desviou da pergunta, dando uma resposta generalizada. Para ele, a tecnologia fará com que os jogos fiquem “cada vez mais rápidos e realistas”, e, como também era fácil de prever, “mais complexos e ricos visualmente”.

Jogos educacionais realmente surgiram, mas nem de longe se tornaram algo popular. E, por outro lado, a resposta sobre o avanço dos jogos não respondeu nada sobre o surgimento de novos gêneros. Nesse caso, os especialista não foram tão precisos assim.

Mega previsões

Para encerrar a série de previsões, a Ação games guardou as três melhores perguntas para o final. Os questionamentos eram: 1º) O que se pode esperar da Internet e da TV Interativa como opções de entretenimento eletrônico?; 2º) No futuro, a Realidade Virtual poderá chegar às casas das pessoas?; 3º) Como será o lazer das pessoas no próximo milênio?

Curioso? Então se surpreenda com as respostas dessa turma que imaginou tudo isso em 1996. Vamos às previsões.

1º) Mais uma vez os dois especialistas dividiram opiniões. Para Tom, a internet não substituirá as formas tradicionais de obtenção de jogos e software. Para ele, “as pessoas preferem possuir as coisas em vez de pagar uma taxa toda vez que quiser utilizá-las”. Contudo, quando o assunto é a TV, ele é enfático ao prever que “as redes de TV a cabo parecem muito interessadas em aprimorar sua tecnologia para tornar (uma experiência online) possível futuramente. E acho que estão certas em fazê-lo”.

Para Chris, a internet já era uma realidade, tendendo a crescer ainda mais, com “a própria TV sendo usada, no futuro, para acessar a internet, (…), com inúmeras possibilidades de diversão, compras e comunicações”. Dessa vez, os caras foram quase certeiros. Com exceção da mídia digital que hoje é uma realidade — embora muita gente ainda prefere ter o jogo físico —, a TV realmente se tornou uma central de entretenimento online, com diversas possibilidades de diversão e interação.

2º) Sobre a Realidade Virtual, outra aposta quase certeira. Para Chris, embora no momento só fosse possível experimentar a tecnologia em “arcades potentes e caros”, a RV seria uma realidade nos lares depois de uns 10 anos. Para isso, claro, era preciso ter uma qualidade capaz de fazer o jogador “passear pelo Amazonas, surfar no Havaí ou ter um caso com a Xuxa”, com extrema precisão.

Com apenas uma década de atraso, a Realidade Virtual, como sabemos, tornou-se realidade em alguns lares, apresentando, inclusive, uma qualidade bastante satisfatória — embora não seja possível ter um caso com a Xuxa ainda.

3º) Por fim, a última aposta sobre o futuro do entretenimento eletrônico encerrou de forma magistral a contemplação que os leitores da Ação Games tiveram sobre o futuro em 1996, com mais um tiro certo. Segundo Chris, “daqui a 20 anos as pessoas ainda lerão livros, irão ao cinema e jogarão futebol na praia. Mas muita gente estará usando Realidade Virtual (…) e outros avanços tecnológicos de maneira saudável.”

E como bem sabemos, continuamos fazendo tudo isso, ao ponto que incorporamos muitas das tecnologias recentes ao nosso cotidiano, como bem preveram os especialistas na 100ª edição da revista Ação Games, de fevereiro de 1996.

Mas e você caro leitor? Como imagina o entretenimento eletrônico daqui a 10 ou 20 anos? Será que ainda estaremos jogando os nossos videogames clássicos? Usaremos controles? A Nintendo ainda fará consoles? A Sega voltará? A Realidade Virtual será finalmente uma realidade? Conta aí para a gente nos comentários.


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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