Olá, veiarada de bom gosto! Estamos aqui para falar de algo que nos remete a um passado dourado. Um passado de suor na testa, mãos trêmulas, controles arremessados, berros e palavras de baixo calão ecoando pelos cômodos. Vamos falar de um jogo que nos coloca num busão direto via “Memory Lane” com destino a um dos principais gêneros de jogos para console: aventura em plataforma 2D, ou Metroidvania.
Hollow Knight é uma obra da editora australiana Team Cherry e foi considerado um dos melhores jogos de plataforma da atualidade. Com avaliação de 9.4 na IGN, Hollow Knight é descrito por Tom Marks como “tão rico que ele poderia tirar um livro disso”.
Inicialmente, o jogo não te dá qualquer informação clara sobre quem diabos é você, o que você quer ou qual treta maligna está rolando na parada. A introdução mostra uma criatura acorrentada despertando algum tipo de consciência enquanto o que parecem ser selos de contenção ou alerta reagem a este despertar. Em seguida, a cena mostra uma figura melancólica e sozinha, portando uma arma quebrada e descendo uma escadaria em direção à uma vila.
Este é você. Pouco será revelado a respeito da origem ou motivações do protagonista até bem à frente no jogo, mas esse é o mistério de Hollow Knight. A princípio, você será conhecido apenas como “cavaleiro” (Knight), uma criaturinha curiosa portando um prego (nail) quebrado como arma.
Por mais que eu esteja louco para escrever um parágrafo inteiro sobre este folclore tão fantástico, isto é uma resenha e precisamos conter os SPOILERS. Afinal de contas, essa descoberta é um dos elementos mais gostosos do jogo. A dica da casa é que você realmente não jogue Hollow Knight como um assassino de monstros desesperado, passando por todos os diálogos na ânsia de prosseguir. Em vez disso, deguste-o. Inclusive, para os não familiarizados com o idioma inglês, o jogo já está completamente traduzido em português, garantindo a todos a opção de aproveitar ao máximo o que esta obra de arte tem a oferecer.
Os diálogos de Hollow Knight são a chave para descobrir os mistérios do jogo, e não pense que sair atropelando tudo e todos lhe dará a vitória absoluta; existem múltiplos finais em Hollow Knight! Você será capaz de descobrir a verdade?
Em termos de mecânica, Hollow Knight é um prato cheio para velhos gamers, nostálgicos com o gênero de aventura/plataforma 2D. Imagine um casamento perfeito entre Super Metroid e Mega Man X. Imaginou? Chega a dar água na boca, não? Pois já nos primeiros segundos de jogo você sentirá que está de volta na década de 90, com as mãos suando em expectativa. Você se movimenta, dá alguns golpes, salta por umas plataformas e: “Meu deus, isso é muito Mega Man!”. Em seguida, descobre um mapa, percebe a navegação entre os cenários, explora novas áreas e então: “Caramba, isso é muito Metroid!”.
As referências não param por aí. Na verdade, eu diria que se trata mais de reverência que mera referência.
No começo do jogo, após se despachar de alguns obstáculos e criaturas pelo caminho, seu primeiro contato será em Dirtmouth, onde você encontrará outros habitantes do reino dispostos a bater aquele papo maroto.
Na vila, você também encontrará um banco de praça, onde você pode se sentar para “relaxar”. Essa é maneira como Hollow Knight “salva” seu progresso no jogo. Sim, os bancos de praça são os famosos “Save Points” da sua aventura. É como se nosso protagonista fosse uma versão de Carlos Alberto Nóbrega, porém sem o senso de humor.
A partir dali, você deverá se aventurar pelas “Encruzilhadas Esquecidas”, onde sua jornada se revelará de forma sutil, pedaço a pedaço. Cada fragmento de informação trará um sentido diferente aos eventos atuais, o passado de Hallownest e seus habitantes e, inclusive, à história do próprio jogador.
Apimentando a ambientação misteriosa de Hollow Knight, os cenários são repletos de passagens secretas, cantos escondidos e personagens curiosos. Navegando por Hallownest, uma das primeiras coisas que você irá notar são áreas inacessíveis que irão custar alguns minutos de tentativa e frustração até que você se dê conta de que precisa de “algo mais” para alcançá-las. Não se preocupe, pois assim como em Metroid ou Mega Man, novas habilidades e técnicas obtidas ao longo de sua trajetória o permitirão explorar novas áreas em cenários já desbravados, de forma que você quase sempre estará revisitando lugares à medida que aprende novos truques. Essa cena lhe parece familiar?
Aliás, outra dica da casa é sobre os espetos; há 2 tipos de espetos em Hollow Knight: os que não gostam de você e os que odeiam você. Os que não gostam de você podem ser evitados utilizando um ataque descendente com sua arma (Nail), o que efetivamente fará você “quicar” por sobre eles, alcançando áreas que pareciam impossíveis. É um movimento que requer um pouco de prática, mas vital em certas áreas do jogo. Logo no início, se você for um bom explorador, encontrará uma área que requer esta manha para ser acessada. Já o segundo tipo de espeto definitivamente odeia – muito – você; não tente artimanhas pra cima dele.
A curva de aprendizado de Hollow Knight é bem suave. Inicialmente, os inimigos são lentos, com padrões de movimentação e ataques bastante óbvios e estáticos. O primeiro “boss” do jogo, com sua agilidade comparável a uma tartaruga véia, faz um ótimo trabalho em garantir que você tenha tempo de reação suficiente para reconhecer e evitar seus ataques. Algumas áreas iniciais podem ser navegadas tranquilamente e suas criaturas soam como uma brisa. A medida que você progride para os mais remotos cantos de Hallownest, você irá se deparar com caminhos traiçoeiros, armadilhas, inimigos insuportáveis e todo o tipo de cretinice capaz de despertar o que há de melhor – só que não – em você.
A dificuldade é outro ponto que não deixa a desejar. Até os jogadores mais hábeis encontrarão batalhas de aflorar os nervos e expandir vocabulários para muito além do dicionário comum. Ser pego em algum duelo cretino num momento deveras inoportuno é algo bastante comum durante suas explorações; especialmente quando você está bem longe daquele último banquinho de praça onde descansou.
Por falar nisso, a morte possui custos severos para o nosso camarada mascarado. Ao morrer, sua concha se quebra e o vazio dentro de si escapa como remorso tomando forma de sombra. Em termos culturais, você reencarna em uma nova concha e precisa derrotar a sombra de sua vida passada para readquirir suas memórias.
Aliás, existe uma entrada para sua própria sombra no bestiário e ela é super intrigante:
“Cada um de nós deixa uma marca quando morremos. Uma mácula no mundo. Eu não sei por mais quanto tempo este reino pode suportar o peso de tantas vidas passadas.”
Em termos de jogo, você perde um pouco (25%) da capacidade de armazenamento de alma e TODO O SEU GEO, que é, efetivamente, o seu dinheiro; sim, Tio Patinhas ficaria enfuriado. Você reaparecerá no último banco onde sentou-se e sua sombra permanecerá no mesmo local de sua morte, o que muitas vezes é um local extremamente distante, inóspito, cercado de espetos ou ao lado de um chefão bem cascudo. Ah, e o jogo salva automaticamente quando você morre, pois você reaparece num banquinho, arrependido e mais seco que proletariado em fim de mês. Boa sorte para você que achou que iria dormir em breve. =)
A morte não está presente apenas para o protagonista. Outras criaturas de Hallownest que já partiram – e não deixaram arrependimentos – podem deixar seu eco no mundo. Ao adquirir a “Dream Nail”, você poderá cutucar estes ecos e descobrir novos segredos ou desafios. Isso inclui alguns dos chefões que você já derrotou!
Por fim, Hollow Knight possui diversos dos elementos que compõem um bom jogo: é bonito, interessante, desafiador e com uma jogabilidade fluida e amigável. Há uma mistura peculiar de sabores entranhada na aventura de explorar seus horizontes e descobrir seus mistérios. É um prato cheio tanto para jogadores à procura de desafio quanto para os desbravadores de conteúdo, apaixonados por uma boa história. Resgata a jogabilidade e a orientação de receitas comprovadamente bem sucedidas, ilustrando-as com uma arte fantástica e imergindo-as num conteúdo curioso e surpreendente. A trilha sonora finaliza o prato com um tempero magnífico, complementando o tom sombrio da trama.
Para os jogadores mais “hardcore”, há conteúdos secretos com desafios pra lá de alucinantes, incluindo um panteão com todos os “Bosses” revisitados, em versões super poderosas, mas este é o máximo de spoiler que vocês conseguirão por aqui. So, move on, baby! Pois Hollow Knight é um jogaço, pra véio nenhum botar defeito.
Definitivamente, uma experiência fantástica!