Em 1998, Pokémon já era uma marca estabelecida e que enchia os cofres da Nintendo de dinheiro. Não bastasse o sucesso dos jogos lançados para Game Boy e Nintendo 64, ainda tinha a série de TV (no programa da Eliana, lembra?) e mais uma pancada de produtos, que ía desde uma revista temática até lancheiras, cadernos e o que mais desse pra enfiar a cara do Pikachu.
No meio de toda essa algazarra, um produto se destacou pela originalidade e potencial. Usar a marca Pokémon para criar um jogo de cartas cujas regras fossem verdadeiramente consistentes foi uma sacada monstruosa! Não tardou muito até o jogo cair nas graças da galera e se tornar um rival à altura de Magic The Gathering ou Spellfire, só que visando uma galera mais novinha. Jogada de mestre!
Pensando em maneiras de popularizar o card game entre a molecada, surgiu a ideia de adaptar o jogo para um título de Game Boy, mantendo a ideia da portabilidade, do conceito “Temos que Pegar”, que foi um dos pilares da série principal, além de alavancar ainda mais as vendas do portátil.
Mais que um jogo de cartas
Surfando a onda da tríade Red, Blue e Yellow, Pokémon Trading Card Game tem uma trama que ajuda a contextualizar os duelos de cards, no mesmo esquema de ginásios (clubes, como são chamados em TCG), treinadores e viagens através de um grande mapa com visão superior.
Mesmo que a história não seja lá muito rebuscada e complexa, ajuda a linkar as batalhas umas nas outras, deixando o jogo muito mais divertido do que apenas uma série interminável de duelos. Dá pra ganhar insígnias, aprimorar seus decks, montar estratégias de acordo com o deck do adversário (no mesmo esquema de vantagem por elementos do jogo principal) e faturar mais algumas cartinhas durante o processo.
A história é a mesma e já batida de sempre: você é um menino que está iniciando a sua jornada e quer escrever seu nome no rol dos maiores duelistas do mundo. Para isso, vai precisar derrotar os oito líderes de clube e se credenciar para a luta contra os quatro membros da Elite e um grande campeão. Só que em vez de capturar os pokémon, você recebe cards na medida em que vai vencendo seus duelos, através de boosters, os “pacotinhos”.
Os ginásios, assim como no original, têm elementos fixos, então é bom você ir acumulando uma variedade boa de cartas ao longo da jornada para evitar surpresas. Vai encarar o ginásio de água? Prepare um deck recheado de Pikachus e outros pokémon elétricos, e tudo estará bem.
Como o jogo foi lançado antes mesmo até de Pokémon Gold e Silver, só estão disponíveis os 150 monstrinhos originais, além de as regras de combate serem as mais simples o possível. Dessa forma, com algum conhecimento mínimo sobre o universo da franquia e as regras do jogo, você consegue montar decks razoáveis para fechar o jogo sem nenhum percalço.
Agora, se você for marinheiro de primeira viagem no mundo dos cards, melhor prestar atenção no tutorial que é apresentado no começo do jogo, até pra ir se acostumando com a interface dos menus e das cartas. Não demora muito até você se acostumar!
Porta de entrada para um mundo vasto
Adaptar um jogo de cartas cheio de regras para um portátil 8-bit pode parecer uma tarefa simples, mas não é. Toda essa trabalheira ficou a cargo da Hudson Soft, que executou com maestria a missão de criar uma porta de entrada para novatos e veteranos, sem deixar de ser divertido e inovador.
No começo da aventura, você escolhe entre três decks que representam Squirtle, Charmander ou Bulbasaur, cada um contendo 60 cartas diferentes ao todo. Conforme você avança na aventura, você pode construir seus próprios decks do zero ou apenas trocar as cartas que considera menos eficazes por outras.
Assim como no desenho e nos demais jogos da franquia, os cards pokémon também têm a capacidade de evoluir, mas não há nenhuma mecânica envolvendo níveis de evolução ou coisa assim. Basta descer a carta de evolução sobre o monstrinho básico e está tudo certo. O problema é que os golpes são ativados através dos cards de energia, que você só pode baixar um por jogada. E quanto mais forte e evoluído é o seu pokémon, de mais energias ele precisa para poder usar seus poderes.
Diferente dos outros jogos em que você podia viver apenas apertando o botão A, aqui cada passo deve ser realizado com um mínimo de cautela para não comprometer toda a estratégia da partida.
Sobre os cards, bem… Nós não temos o intuito de ensiná-lo a jogar Pokémon TCG ou de discutir as regras (você pode procurar pelo jogo, ele até foi relançado para Nintendo 3DS recentemente), mas gostaríamos de introduzir os tipos de cards presentes no jogo:
- Pokémon: Podem ser formas básicas ou evoluções. Os básicos podem entrar direto na partida ou então ficar no banco, esperando pela sua vez de ir para combate. As evoluções só entram em jogo se o seu respectivo pokémon básico estiver lá, seja ele ativo ou no banco;
- Energias: São o combustível necessário para que um pokémon realize um ataque ou use uma habilidade. Exemplo: para usar o ataque Fire Spin, Charizard precisa de quatro energias de fogo atreladas a ele, sendo que você só pode baixar uma energia por turno. Saber distribuir seus cards de energia é parte vital de uma boa estratégia em TCG;
- Treinador: São cards que têm a função dos itens, podendo recuperar seus pokémon, ajudá-lo a comprar mais cards por turno, ou ainda uma série de poderes específicos que interferem diretamente no andamento da partida;
Agora, um tutorial rápido sobre a estrutura de uma partida de Pokémon TCG:
- No começo de cada partida, os dois jogadores embaralham seus decks e compram sete cartas. Depois, é feito um sorteio para ver quem começa jogando. São definidos os Pokémon ativos de cada jogador e os que vão pro banco, além dos cards de prêmio, que nós vamos explicar abaixo;
- Ganha a partida quem conseguir comprar todos os cards de prêmio do oponente. A cada pokémon inimigo que é derrotado em batalha, você pode comprar um card desses. Hoje em dia algumas regras permitem que você compre mais de um card por pokémon derrotado, mas elas não se aplicam ao jogo de Game Boy, que é defasado;
- Para atacar ou trocar de pokémon ativo durante uma partida, é necessário que você atrele cards de energia ao seu monstrinho, sendo que só é possível baixar uma energia por jogada. Cada tipo de energia tem um ícone colorido na frente, assim como os golpes dos pokémon, exibindo o seu custo de ativação. Dessa forma, para usar o Fire Spin do Charizard, só se você tiver quatro cards de energia de fogo atrelados ao seu pokémon. Três de fogo e um de água, não rola. Nenhuma combinação que não seja a exigida pelo card funciona;
Existem outras regras menores que você vai acabar descobrindo enquanto joga, como efeitos negativos (paralisia, envenenamento, etc), dano dobrado ou reduzido pela metade (tipos com vantagens e desvantagens), além dos golpes em que é preciso lançar uma moeda para descobrir qual será a extensão do dano causado.
Apesar de parecer simples e infantil, Pokémon TCG esconde um universo muito amplo e variado de jogo. E esse leque está se abrindo cada vez mais, conforme são lançadas as novas coleções, recheadas de monstrinhos novos.
Um grande aperitivo
Passados quase vinte anos desde o lançamento de Pokémon TCG, é evidente que as regras do jogo estão bastante defasadas, assim como a quantidade de monstrinhos e cards disponíveis para montar seus decks.
O jogo de cartas físico de Pokémon TCG, hoje, faz um grande sucesso em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil. A distribuição dos cards melhorou muito depois que os cards passaram a ser distribuídos pela Copag (gigante no setor de baralhos, mas até então conhecida apenas pelo carteado tradicional), inclusive podendo ser encontrados em padarias, bancas de jornal e outros pontos de venda menos tradicionais quando estamos falando de um card game.
Os campeonatos estão distribuídos em todo o mundo, com infinitas etapas nacionais e internacionais, separadas por faixa etária. Hoje em dia rola até um campeonato mundial, o que deixa a comunidade de jogadores em total frenesi, pelo menos enquanto dura a festa.
Nesse sentido o título de Game Boy Color está tremendamente defasado e não serve mais como uma base de consulta, como havia sido idealizado ainda na década de 1990. Claro, ele ainda é divertido e válido, se o considerarmos como um universo fechado e exclusivo. Agora, se você quer aprender as regras do jogo para ingressar no cenário competitivo, é possível jogar online no computador ou tablet o título Pokémon TCG Online.
Considerações finais
Mesmo se tratando de um jogo defasado, Pokémon TCG ainda é divertido se você não ligar para a escassez de cards, principalmente quando comparado com o seu sucessor.
Um dos maiores méritos da equipe de desenvolvimento foi conseguir emular a atmosfera dos jogos tradicionais da Game Freak, ainda que com algumas limitações.
Os gráficos são bons, principalmente na parte da adaptação das ilustrações dos cards para o ambiente 8-bit. Mesmo com a paleta de cores limitada do Game Boy, todos os cards ficaram bem desenhados e coloridos, com um grau razoável de fidelidade.
A trilha sonora é bastante repetitiva, mas não incomoda. Pode ser a minha memória afetiva, mas eu até que gosto dos temas de batalha de TCG.
Por último, o fato de ter a primeira coleção de cards inteira disponível no jogo é louvável. Me pergunto se não seria interessante para a Nintendo lançar uma versão nova do título, mas para Nintendo 3DS ou Switch. Queremos ver todos os 800 e tantos pokémon existentes em ação, e não apenas os 151 originais.
Vale mencionar que chegou a rolar uma segunda versão de Pokémon TCG para Game Boy, mas que acabou não chegando aqui no ocidente e nem fez tanto sucesso se comparado à versão original.
Vídeos
Pokémon TCG – Longplay (Fonte: World of Longplays)