Street Fighter Alpha 2 foi lançado como uma versão melhorada de Street Fighter Alpha: Warriors Dreams. Entre algumas mudanças puramente cosméticas, tivemos a adição de alguns personagens novos e o retorno de outros, completando o elenco de 18 lutadores, o que é um bom número para a época.
O jogo foi lançado no Japão em fevereiro de 1996, então já completou seus vinte aninhos de vida, o que não deixa de ser chocante, de certa forma. Street Fighter Alpha foi um spin-off muito bem sucedido para a franquia, pois além de introduzir uma quantidade razoável de personagens novos ao universo da série, ainda inovou ao partir para um estilo visual mais cartunesco. Essa transformação na aparência dos personagens e cenários encontra sua justificativa no fato de que SFA antecede os eventos de Street Fighter II, mostrando os personagens na flor da juventude, desenrolando suas histórias individualmente e aprofundando um pouco mais a trama da franquia.
Evolução
Street Fighter Alpha já havia sido bem sucedido ao renovar os ares para Ryu, Ken e companhia. Depois de trocentas releituras e atualizações de SF2, o público já estava começando a migrar para outros títulos de luta, abundantes na época. Em 1996, por exemplo, The King of Fighters já estava para lançar o seu terceiro jogo, numa maré arrebatadora de bons jogos. Sendo assim, unir a força e o peso do nome Street Fighter com um pano de fundo novo parecia ser uma boa jogada. E de fato, acabou dando bastante certo.
Um dos pontos que mais gosto em SFA2 é a não-linearidade na ordem das lutas. Se você escolheu jogar com o Ryu, por exemplo, a sua última luta será contra o seu rival direto, Ken. Por outro lado, se você escolheu jogar com o velho mestre Gen, em sua última luta quem o aguarda é Akuma. Não há aqui um quarteto de bosses no fim, mas uma linha diferente para cada personagem, tentando relacionar a história de cada um dos lutadores.
Por falar em lutadores, o elenco é bem variado e cheio de personagens carismáticos. Charlie, por exemplo, nos fez esquecer por um bom tempo da existência de Guile. Sakura, Gen e Adon também foram excelentes adições para o elenco, abrindo ainda mais o leque de estilos e combinações possíveis de jogo. Guy, Rolento, Birdie, Dan, Rose e Sodom fecham a turma que não veio direto da série principal. Aliás, Guy, Rolento e Sodom vieram de Final Fight, o que por si só já era meio chocante. Fechando aí a listinha, temos os veteranos Ryu, Ken, Dhalsim, Zangief, Chun-Li, Sagat, Akuma e M. Bison.
Todos os personagens possuem ataques especiais que são acionados gastando níveis da barra localizada na parte inferior da tela. Herança de Super Street Fighter 2, esses ataques costumam ser avassaladores e capazes de reverter a mais adversa das situações. Alguns personagens possuem até três especiais diferentes, mas a média é de dois por personagem. Já era possível nessa época usar o temido “apaga-a-luz” (Shun Goku Satsu) de Akuma! Nos fliperamas, terminar uma luta com um desses era o equivalente a fazer um gol de bicicleta ou acertar uma cesta de três de olhos fechados. Levar um desses, por outro lado, era a vergonha absoluta e significava passar longe da casa de jogos por pelo menos uma semana.
Os personagens
Já citamos todos os 18 personagens de SFA2, mas acho que vale a pena dar uma palhinha e falar de cada um deles em separado. Eis a listinha dos combatentes:
Ryu: O protagonista de sempre. Ainda não tinha a faixa vermelha na testa, já que a herdaria futuramente de Ken. Seus golpes seguem o mesmo esqueminha de sempre, com o Hadouken como carro chefe. Nas atualizações de SFA2, Ryu ganhou uma versão Evil, mesclando seus golpes com os de Akuma.
Ken: Cada vez mais diferente de Ryu, Ken aqui já era um especialista em soltar Shoryuken de fogo e dar chutes pra todos os lados. Particularmente eu gosto bastante do Ken dessa versão, com cabelos mais compridos. Seu cenário tem várias participações especiais de personagens de outras séries da Capcom.
Chun-Li: A donzela do jogo veio com um visual mais comportado, de calça comprida. Ágil como sempre, continua sendo uma excelente pedida para bater de frente com os apelões. Nas versões atualizadas de SFA2 era possível escolher seu traje clássico.
Zangief: O ciclone vermelho, destruidor de sonhos e de colunas vertebrais. Veio mais ágil que nas versões anteriores, tornando-o um verdadeiro perigo ambulante.
Dhalsim: Lento como sempre, continua excelente nos mind-games. Não era o personagem favorito de ninguém. Yoga Inferno!
Sagat: Apelão e fim. Um Tiger Uppercut executado com soco forte é capaz de causar até 7 hits de uma só vez. Dois desses bem encaixados levam ao stun e, consequentemente, à morte.
M. Bison: Na mão do jogador é um personagem qualquer. Na mão da CPU vira um verdadeiro demônio, com direito a especial “lambe-alma”/”perde-ficha”. Segundo a história da franquia, M. Bison aqui estava com um poder maior que em SF2.
Akuma: Controlar Akuma ainda era uma sensação indescritível, já que o espetadinho era personagem secreto em Super Street Fighter 2 Turbo e em Street Fighter Alpha. O preferido dos apelões!
Charlie: O velho companheiro desaparecido de Guile era tão poderoso quanto seu parceiro. Sonic Boom, Somersault, trilha sonora épica e um penteado melhor.
Guy: Importado diretamente de Final Fight, o ninja Guy surge aqui como um dos caras mais irritantes de todos os tempos. Rápido, razoavelmente forte e cheio de ataques que fogem aos padrões da série. Excelente adição para o elenco da franquia, além de abrir portas para que Cody, Poison, Hugo e Maki estreassem nos jogos de luta.
Sodom: A curiosa figura do otaku travestido de samurai. Tá aí um cara que eu nunca vou entender ou simpatizar. Veio diretamente de Final Fight, assim como Guy e Rolento.
Birdie: Assim como Adon e Gen, Birdie foi importado diretamente do elenco de Street Fighter (o primeirão). O punk inglês tem tanto poder de ataque quanto Zangief, mas com um alcance maior.
Rose: Misteriosa, Rose detém o poder do Soul Power, que é o extremo oposto do Psycho Power de M. Bison. A sua música-tema é uma das mais legais do jogo. Refletir magias também é um poder bastante útil, se você souber o timing certo para usá-lo.
Gen: Antigo rival de Akuma, Gen inovou bastante na jogabilidade da série ao abrir a possibilidade de alternar entre diferentes estilos de luta, de acordo com a vontade do jogador. A cena de introdução de Gen na luta contra Akuma é matadora!
Adon: Sai o tigre e entra o jaguar! Adon é veloz e tem chutes e joelhadas poderosos! Seus golpes são representações bastante fiéis dos movimentos de muay thai.
Sakura: A eterna menininha do colegial de Street Fighter. Seus golpes são versões modificadas dos ataques de Ryu, seu ídolo incondicional. Sakura foi a primeira a poder segurar e concentrar o hadouken antes de soltá-lo.
Dan: Uma sátira dos protagonistas de Art of Fighting, além de servir também como alívio cômico para a série. Gadouken! Koryuken! Apesar das piadinhas, Dan tem um passado triste, já que seu pai morreu durante uma luta contra Sagat.
Rolento: Mais um bom personagem que mescla boa velocidade com ataques fortes. Aquele maldito bastão é capaz de acertar até três golpes seguidos, causando trocentos hits. Mais um personagem importado diretamente de Final Fight.
Porradaria de qualidade!
Um elenco bacana, visual repaginado, história mais bem amarrada… Mas se tratando de um jogo de luta, de nada vale tudo isso se a jogabilidade não for das melhores, não é verdade? Pensando nisso, a Capcom fez um excelente serviço ao simplificar ao máximo a vida dos jogadores. Os comandos respondem bem e a movimentação dos personagens é bem fluida, com um sistema de combos bastante intuitivo e encorajador para os novatos. Não é preciso ser nenhum especialista para conseguir montar um combinho de 6 hits capaz de levar 15 ou 20% do HP do oponente.
Além disso e dos golpes especiais que nós já comentamos, Street Fighter Alpha 2 tem ainda os Custom Combo, determinados por uma barrinha de timer bem curta que pode ser ativada a qualquer momento da luta. Ao ativá-la, durante um curto período de tempo seus golpes passam a conectar mais rapidamente uns aos outros, sem dar chances de o adversário reagir aos golpes.
Outro feature interessante é o Alpha Counter, capaz de deter um ataque do adversário e, de quebra, ainda arremessá-lo para longe, dando chance de você se recuperar e refazer a sua estratégia de ataque.
No que diz respeito aos modos de jogo, destaque para o inédito Dramatic Battle, onde rola uma batalha 2 vs 1. Tem também o Shin Gouki Mode, que habilita uma versão ainda mais apelada de Akuma, com direito a Gou Hadouken duplo. É um inferno!
Nos consoles
Street Fighter Alpha 2 não ficou restrito aos arcades, sendo ainda lançado para PlayStation, Saturn e Super Nintendo. Esse último foi considerado um verdadeiro milagre da compactação, já que os gráficos estavam de fato muito acima da capacidade real de um console de 16 bits. O preço pago por tamanha ousadia também foi grande: o jogo sofre bastante com slowdowns e pausas para leitura entre um round e outro. Ainda assim a façanha foi memorável e Street Fighter Alpha 2 figura sem sombra de dúvidas entre os melhores jogos de luta do Super Nintendo.
A versão americana do jogo recebeu alguns features cosméticos que não constavam na versão japonesa. Para corrigir isso, a Capcom lançou Street Fighter Zero Alpha 2, para matar de vez a dúvida de quem achava que o jogo se passava depois de Street Fighter 2. Era só mais uma das atualizações clássicas da Capcom para os seus jogos de luta.
Os consoles de 32 bits receberam Street Fighter Alpha 2 Gold, que teve a adição de Cammy ao elenco do jogo e fazia parte da coletânea Street Fighter Collection.
Considerações finais
Street Fighter Alpha 2 é um espetáculo! Gráficos marcantes e que deram uma renovada poderosa na franquia, a ponto de perdurar ainda para mais uma continuação (Street Fighter Alpha 3, de 1998) e em todos os crossovers envolvendo a Capcom e os personagens da Marvel: X-Men vs Street Fighter (1996), Marvel Super Heroes vs Street Fighter (1997), Marvel vs Capcom (1998) e Marvel vs Capcom 2 (2000).
A trilha sonora está entre as melhores já lançadas para um jogo de luta, mostrando a superioridade da placa CPS-2 com relação a sua antecessora.
Essa segunda metade da década de 90 foi sem dúvidas a era de ouro para os jogos de luta. Street Fighter, Mortal Kombat e The King of Fighters ditavam as regras com um petardo atrás do outro, enquanto outras produtoras tentavam acompanhar o ritmo lançando bons jogos a todo momento. As revistas de videogame brasileiras surfavam essa onda e lançavam apêndices e edições especiais focadas apenas em jogos de luta, para o mais puro delírio dos fãs.
Por mais que Street Fighter V e KOF XIV possam vir a ser jogos realmente competentes, a verdade é que a era dourada da porradaria já ficou pra trás. Num piscar de olhos, passaram-se vinte anos desde aquele tempo em que olhávamos assustados para a revolução visual promovida por Bengus, artista que inclusive assina as ilustrações de Street Fighter V, depois de anos longe da franquia.
Dificilmente haverá uma safra de jogos tão boa quanto essa de 1996 para os jogos de luta. Evidentemente que vindo de um site chamado Jogo Véio, não dá pra imaginar pensar de outra forma, pelo menos durante os próximos vinte anos até eu rever minhas opiniões e valores. Até lá, Street Fighter Alpha 2 é nota 1000!