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Os bastidores de Ayrton Senna’s Super Monaco GP II na revista Supergame

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Abrimos o baú de revistas do Véio para relembrar como foi a expectativa e a recepção, através da revista Supergame, do jogo Ayrton Senna’s Super Monaco GP II, lançado para Mega Drive em 1992.

O tricampeão

Em dezembro de 1991, chegava às bancas brasileiras a quinta edição da revista Supergame, publicação da Editora Nova Cultura dedicada aos jogos e consoles da Sega. Essa edição foi ainda mais especial para os jogadores da época, pois estampava a foto de um dos maiores heróis do esporte nacional na sua capa.

A publicação trazia Ayrton Senna em destaque. Os mais desavisados devem até ter estranhado o fato de o recém tricampeão de Fórmula 1 estar na capa de uma revista de videogame. Motivos para isso, obviamente existiam. Primeiro que Senna tinha acabado de vencer a temporada de 1991. Mas bastava uma rápida lida na chamada para ver que ele também conquistaria os videogames em breve:

“Ayrton Senna vem para Master, Mega e Game Gear!”.

A chamada era bombástica. Na época, as revistas de videogame eram a principal fonte de notícias para os jogadores. Então, provavelmente esse foi o momento que muitos descobriram que “um incrível jogo de 17 fases que o tricampeão ajudou a bolar” estava a caminho.

Notícias do Japão

O Grande Prêmio do Japão de Fórmula 1, realizado em Suzuka em 20 de outubro de 1991, foi marcante para Ayrton Senna e para os brasileiros. Foi nessa corrida que, após Nigel Mansell rodar com a sua Williams na nona volta e Senna chegar em 2º, o brasileiro conquistou o seu terceiro título mundial na categoria, deixando brasileiros e japoneses em êxtase.

Além do título, fãs do piloto também tiveram outro grande motivo para celebrar a passagem de Senna em terras nipônicas. Pelos menos, os mais fissurados por videogames. Foi durante a preparação para o Grande Prêmio de Suzuka que Senna visitou a sede da Sega no Japão, na companhia de representantes da Tec Toy.

Leia a edição completa da Supergame 5 no site Datassette.org!

Esse momento, inclusive, foi registrado pela revista Supergame, como revela a matéria da quinta edição, intitulada “Senna: como o tricampeão mundial de Fórmula 1 foi parar nos jogos da SEGA do Japão”, escrita pelo jornalista Emerson Velô.

Parceria de sucesso

Como assim Ayrton Senna se juntava a Sega? Provavelmente foi isso que se perguntaram milhares de jovens leitores quando abriram o seu exemplar da revista. Segundo Emerson, “Senna aproveitou a etapa japonesa do campeonato e celebrou um contrato para correr nas pistas de videogame”.

A ideia do jogo, como revela a matéria, partiu da própria Tec Toy, que ofereceu o projeto para a divisão japonesa da SEGA. Sabendo da idolatria dos japoneses por Senna, o tiro foi certeiro e a proposta foi acertada na hora, como revelou mais tarde Stefano Arnhold, um dos nomes mais importantes da Tec Toy, em entrevista para o site UOL.

Stefano Arnhold, Ayrton Senna e Sr. Yagi (Créditos: Blog Tec Toy)

Outro fator determinante para que a proposta de parceria se formalizasse tão facilmente foi que Shoichiro Irimajiri, vice-presidente executivo da SEGA do Japão, já conhecia Senna anteriormente. Os dois trabalharam juntos quando Irimajiri era executivo da Honda, a fornecedora dos motores da McLaren, escuderia defendida pelo brasileiro à época.

O arcade da versão original de Super Monaco GP também é impressionante

Com tudo alinhado, o time escolhido para desenvolver o jogo foi o mesmo que fez Super Monaco GP, sucesso dos arcades lançado em 1989. Mas esse time ganharia em reforço de peso, como diz na matéria: “e a SEGA, que não é boba nem nada, topou no ato e destacou uma de suas melhores equipes para elaborar o jogo com a ajuda de ninguém menos do que o próprio Senna”.

O toque do campeão

Coisa rara na época, a Supergame conseguiu acesso aos bastidores de toda essa negociação e registrou um dos momentos mais importantes para os games da geração 16-bit, conforme revelou Emerson Velô: “A SG colocou um olheiro numa das reuniões de Senna com a equipe em Tóquio para poder adiantar como vai ser este cart”. E o tal olheiro fez um ótimo trabalho, pois trouxe fotos de Senna jogando Super Monaco GP no arcade e no Mega Drive, na sede da SEGA em Tóquio.

Além do registro histórico, a revista também conseguiu detalhes da produção do jogo em si, que estava previsto para chegar às lojas em abril de 1992, durante o Grande Prêmio do Brasil em Interlagos. Segundo a revista, “a equipe da SEGA queria saber de Senna quais eram suas pistas favoritas, e as características de cada uma, para ir incorporando as observações do tricampeão ao jogo”.

Trecho da matéria publicada na revista Supergame Nº 5

Mais do que dar dicas, Senna trabalhou ativamente em detalhes que mudaram completamente a jogabilidade do game. Segundo Stefano Arnhold, a maior mudança sugerida foi em relação ao uso da zebra. No título anterior, passar pela zebra prejudicava o desempenho do carro. Mas Senna explicou que atacar levemente a zebra era fundamental para ganhar um pouco de velocidade e aderência na curva. 

A empolgação não poderia ser menor, pois Senna era conhecido pelo seu perfeccionismo. Sabendo disso, os desenvolvedores da SEGA precisaram trabalhar bastante para colocar cada dica e sugestão do piloto brasileiro, até transformar o jogo em umas das experiências mais completas que um console de 16-bit poderia oferecer com um game de Fórmula 1. Tudo foi pensado para transformar o título em algo grandioso e completo.

Ainda segundo a revista, “o jogo de 8 mega, terá os 16 circuitos de F-1 de 1991. Todos eles mapeados minuciosamente para garantir a fidelidade da reprodução”.  E se já não bastasse ter todos os circuitos e ainda dicas de Senna antes de cada corrida (com direito até a pequenos trechos de vozes digitalizadas), o jogo contaria com “uma fase extra em que você terá o prazer de guiar um kart no kartódromo da casa de campo de Senna”.

Sobre esse trecho, infelizmente as dicas com vozes digitalizadas até chegaram a ser gravadas, mas não foram utilizadas por conta das limitações da época. Já a pista de kart pessoal de Senna é real e está mesmo disponível no jogo.

Sempre campeão

Além de trazer um monte de informações sobre os bastidores da produção e da negociação do jogo, um momento inusitado durante a passagem de Senna pela SEGA no Japão, contudo, não passou despercebido pelo “olheiro” da Supergame.

A história aconteceu enquanto Senna testou a versão de arcade de Super Monaco GP, instalada “dentro de dois bólidos de F-3”. Para o teste, a SEGA recrutou um craque no game para enfrentar o piloto brasileiro que, segundo a matéria, “largou mal e bateu mais de uma vez em outros carros”

O japonês teve nas mãos a chance de dizer que venceu Ayrton Senna numa corrida. Mas, “o rival, muito educado, esperou o piloto se livrar da confusão da largada. Senna o alcançou e ultrapassou. Nessas, o garoto o perdeu de vista o resto do jogo. Senna mais uma vez campeão”.

Chegou

Na época em que a Supergame #05 chegou às bancas, o jogo de Senna ainda não tinha nome. Mas certamente esse foi um dos games mais aguardados e comentados no Brasil.

E a espera foi longa! Super Monaco GP II estava previsto para abril de 1992, mas saiu no Japão apenas em 17 de julho do mesmo ano. E o mercado norte-americano teve que esperar até meados de agosto. A espera, contudo, valeu muito a pena.

Assim como foi prometido desde a sua concepção, o game, já intitulado Ayrton Senna’s Super Monaco GP II, chegou com muito capricho e todos os detalhes sugeridos por Senna: circuitos fiéis aos originais, jogabilidade realista, modo carreira desafiador, pistas inéditas criadas pelo próprio Senna, além da possibilidade de salvar o progresso no campeonato principal. Tudo isso embalado por um extensa campanha de marketing da Tec Toy, que não mediu esforços em divulgar o projeto.

A própria revista Supergame recebeu anúncios memoráveis, como o da edição nº 14, de setembro de 1992, que trazia uma foto enorme de Ayrton Senna com a seguinte chamada: Senna marca a pole-position dos videogames, mas o grande prêmio é todo seu.”

O anúncio já falava sobre as três versões do título, que saíram para Master System, Game Gear e Mega Drive. E, para completar, a Tec Toy preparou uma promoção incrível, que premiava os melhores jogadores com consoles, jogos e até uma vaga para disputar uma corrida contra os melhores pilotos de videogame do mundo, valendo uma viagem para a Disney. Nessa mesma edição, a Supergame publicou uma análise de Ayrton Senna’s Super Monaco GP II, dando notas separadas para as versões 8-bit e 16-bit.

Os jogos de Master System e Game Gear receberam as seguintes notas: 83 em desafio; 85 em gráfico; 81 em som; e 90 em diversão. Já o título do Mega Drive, conseguiu as seguintes notas: 81 em desafio: 89 em gráfico: 82 em som: e 91 em diversão.

É do Brasil

As qualidades do jogo foram enaltecidas pela revista, que celebrou a chegada do jogo de Senna com muito entusiasmo. Segundo a análise, “os detalhes das pistas são incríveis e fiéis. Para se ter uma ideia, os engenheiros da Sega fotografaram vários trechos de circuitos para depois digitalizar e incluir no jogo”

Claro que as melhorias propostas por Senna também seriam lembradas pela publicação, que disse que “o tricampeão propôs sérias alterações no jogo como: melhorar a disposição da tela, mais realismo na relação de marchas e velocidade das curvas e relação dos danos do carro em porcentagem nas paradas no box”.

O jogo já chegou às lojas um clássico. Certamente um dos melhores jogos de corrida daquela geração. E, para nós, brasileiros, um título mais do que especial, que marcou o Mega Drive, o Master System e o Game Gear.

Era um jogo com a alma brasileira, que surgiu graças ao incentivo da Tec Toy e se consagrou depois da parceria de sucesso entre um dos maiores pilotos de corrida do mundo e uma empresa que queria, a todo custo, ganhar a corrida pelo mercado de jogos na década de 1990.

O Véio também corre

Infelizmente, como era característico da época, foram apenas poucas páginas dedicadas ao jogo, pois era preciso falar da infinidade de outros games que saiam sem parar para os consoles da Sega. Se você um dia quiser uma revista sobre essa pérola das década de 1990, deixe aí o seu comentário. Vai que o Véio atende o seu pedido, não é verdade?


Os scans de revistas que ilustram esta matéria foram retirados do site Datassette.org.


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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