O nome de Al Lowe é bastante associado a títulos mais adultos, em especial à série de jogos de aventura Leisure Suit Larry. Mas ele também foi o criador de um belo jogo de aventura da Sierra, esse recomendado para toda a família: Torin’s Passage. E é justamente ele que vamos relembrar no post de hoje. Se prepare para viajar pelos diferentes níveis do mundo de Strata, onde acompanhamos a saga do jovem Torin para salvar os seus pais.
Em meados de 1994, Lowe estava assistindo com sua filha de 9 anos a comédia estrelada por Robin Willians Uma Babá Quase Perfeita quando reparou que o filme trazia dois tipos diferentes de humor. Os momentos mais espalhafatosos que arrancavam risadas das crianças e as piadas mais sutis que apenas os adultos conseguiam entender. Foi então que despertou nele a vontade de criar um jogo como aquele filme, que ele pudesse jogar junto com a sua filha e ter aqueles tipos de piadas, divertindo adultos e crianças.
Então surgiu a ideia Torin’s Passage, um jogo de aventura com gráficos em estilo cartoon que foi lançado para o público em 31 de outubro de 1995.
Explorando as camadas de Strata
A história é protagonizada pelo jovem fazendeiro Torin que vive nas Terras Altas junto com os seus pais e o curioso pet Boogle. Certo dia, uma feiticeira chamada Lycentia aparece na fazenda e captura seus pais, que são aprisionados dentro de cristais e levados para o Vazio no centro do mundo. Então Torin embarca em uma jornada junto com Boogle para salvá-los.
Mas logo na introdução do game descobrimos que há muito mais por trás de toda essa história. Vemos um feiticeiro matando um casal, enquanto a babá foge amedrontada para salvar o filho deles. Qual será a relação destes eventos com a vida de Torin? Isso é o que vamos descobrir nesta jornada pelos diferentes níveis do mundo de Strata.
À medida em que vamos progredindo na trama, vemos flashbacks dos eventos que vão revelando, pouco a pouco, os segredos por trás dos eventos.
Explorar Strata é uma experiência, no mínimo, interessante. Começamos nas Terras Altas, um lugar com muita vida e natureza que lembra muito a Terra. Apesar de não termos muito contato com os habitantes humanos das Terras Altas, somos apresentados brevemente à Cidade de Cristal.
Depois ele segue para Escarpa, que tem um mapa vertical. Em Escarpa, Torin deve ajudar os seus peculiares habitantes para conseguir as peças de azulejo necessárias para completar um puzzle no final. Conhecemos algumas figurinhas bem marcantes como o Rei Rupert e sua esposa sarcástica Di e uma família que vive dentro de um Sitcom dos anos 50, com direito até a reações da plateia e um narrador.
Em Pérgola, um mundo coberto por densas florestas, Torin é ajudado pelos nativos locais que são criaturas bem pequenas. E também é aí que ele conhece o seu interesse amoroso, a princesa Leenah. A passagem por Pérgola é rápida e se resume a pequenos puzzles que o fazem ter acesso aos cristais para chegar na próxima camada.
No quarto capítulo conhecemos Astênia, um lugar com muita lava e rochas, que hoje já não é mais habitado. Astênia tem puzzles mais demorados, como um grande labirinto em meio à lava e uma parte onde você deve pisar sobre todas as rochas para acessar a ponte no final.
De lá Torin segue para Tenebroso, que tem um sistema judicial um tanto rígido. Nessa camada há pessoas e plantas, entretanto, as plantas são uma raridade no local e danificar elas é considerado um crime gravíssimo. Nele você também encontra alguns animais que, curiosamente, podem falar. E é de Tenebroso que ele segue para o último nível onde ocorre o seu confronto final com a feiticeira Lycentia.
Simplicidade e humor marcantes
O gameplay de Torin’s Passage é bem simples e intuitivo, lembrando muito o sistema de King’s Quest VII. O cursor permite conversar com personagens ou interagir com diferentes itens, sem a possibilidade de escolher qual será a interação.
Abaixo fica o inventário, onde são armazenados os itens coletados. Para usar qualquer um deles, basta clicar e arrastar o seu ícone até o local desejado. Ainda no inventário, há um botão com o desenho de Boogle. No decorrer da jornada, o pet de Torin vai assimilar a forma de vários objetos que encontrar pelos mapas. E quando ele faz isso, esse objeto fica disponível no seu inventário. Então, quando necessário, Boogle poderá se transformar no item.
Ele pode virar uma caixa que ajuda Torin a pegar lesmas, uma minhoca que pode passar por pequenos espaços ou até mesmo uma enfermeira que desperta o rapaz com amônia em determinado momento do jogo.
E se você não gosta de jogos lentos, tenho uma boa notícia. Nele você não precisa ficar vendo o seu personagem andando lentamente até cada ponto da tela. É possível clicar com o botão direito sobre algum ponto, “transportando” Torin direto pra lá, ou então pressionar o botão de acelerar para que as animações aconteçam muito mais rapidamente.
Á medida em que vai cumprindo objetivos, você vai ganhando pontos que podem ser gastos para usar o sistema de dicas. As dicas não ficam disponíveis o tempo todo, em alguns momentos pode ser necessário aguardar um tempo para poder utilizá-las.
Inicialmente os puzzles de Torin’s Passage são bem fáceis, mas no decorrer do jogo você encontra alguns um pouco mais complicados como um de Pérgola em que você deve organizar os pequenos seres nativos de acordo com a tonalidade do seu canto. Mais pro fim do jogo há também alguns momentos bem maçantes como o labirinto de lava onde não é possível usar os “atalhos de movimento” de Torin – e você certamente não vai pegar a ferramenta na primeira vez que passar por ele.
Mas no fim de tudo essa é uma aventura bem divertida e memorável que vai render umas boas risadas. Além do humor característico de Al Lowe, o jogo tem diversas referências e easter eggs curiosos. Na cena final, até o próprio criador do game aparece aprisionado em um cristal!
Há também alguns momentos onde o jogo quebra a quarta parede, como quando Torin bate a cabeça em um menu que se abre na tela e pede para o jogador fechar.
Se você gosta de aventura e procura por um jogo leve e rápido, fica aí a minha recomendação.
Mais histórias pra contar
Ao terminar Torin’s Passage temos a grande revelação final, mas ainda fica uma certa sensação de que havia muito mais. Isso porque a ideia de Al Lowe era fazer uma série de cinco jogos, que seria lançada de forma intercalada com cada capítulo do aclamado adventure King’s Quest.
A ideia era que esses jogos retratassem diferentes fases da vida de Torin, se encerrando com a morte do personagem já idoso.
Infelizmente o mercado não estava mais favorável e a Sierra perdeu o seu fundador Ken Willians, o que acabou fazendo com que o jogo não tivesse as suas continuações produzidas.
Torin’s Passage no Brasil
Muitos fãs de jogos de aventura brasileiros certamente já viram Torin’s Passage em algum momento. Ele foi lançado em terras nacionais pela Brasoft, todo com legendas em português. E até hoje você pode jogar ele com a tradução oficial, que se encontra disponível no site da ScummBr.
Além da tradução, eles também disponibilizam no site o detonado completo do game, totalmente em português!