Um jogo de futebol sem bola, traves ou gramado. Onde tudo acontece num passe de mágica, com gols que “piscam” na tela, seguidos de um aviso em letras garrafais: GOLO! Sim, porque além de tudo, Elifoot 98 é de autoria de um português.
Com todos esses ingredientes tão pouco ortodoxos, chega a surpreender que Elifoot — que completa trinta anos em 2017 — tenha feito tanto sucesso.
Seria Elifoot um RPG de futebol?
Não chega a tanto. Mas é bem verdade que Elifoot foge bastante do processo evolutivo convencional dos jogos de futebol. Mesmo nos simuladores!
Football Manager (na imagem acima), lançado em 1982 para ZX Spectrum, simulava as partidas mostrando o campo por uma visão lateral bem próxima das transmissões televisivas. Nesse sentido, Elifoot se mostrou um game muito mais simples, descartando toda a parte futebolística da coisa, deixando que apenas letras e números dessem conta do recado. E pra nossa surpresa, continuava bastante divertido.
Criado pelo português André Elias em 1987, a primeira versão de Elifoot foi lançada para ZX Spectrum, permitindo que até oito jogadores simultâneos controlassem seus times nas quatro divisões do futebol mundial.
Três anos mais tarde, o game foi portado para os PCs ainda em preto e branco, mas mantendo as mesmas bases do título original. A fórmula acabou caindo no gosto da galera boleira, ganhou cores e passou a fazer sucesso naqueles CDs de 1000 jogos. Inclusive, foi dessa forma que eu tive meu primeiro contato com a série!
Com o passar dos anos, o jogo ganhou uma interface mais amigável conforme a popularidade crescia, até chegar a versão 98, já rodando em Windows. Aí virou febre de vez!
Golo! Cordeirinho ou Sarrafeiro?
Elifoot 98 cabe em um disquete de 1,44mb e ainda sobra um pouquinho de espaço. Era só copiar a pasta e colar, sem nenhum mistério.
Também foi a primeira versão do jogo a ser comercializada como shareware, exigindo a compra de um registro para desbloquear algumas funções do jogo como fazer substituições a qualquer momento da partida e comprar jogadores sem que eles sejam oferecidos a você em um leilão. Evidentemente, não tardou até surgirem os primeiros hacks que burlavam a necessidade de uma licença, além da presença de cheats para o enriquecimento rápido ou o aumento da força dos jogadores.
A premissa de Elifoot 98 é bastante simples: você é um jovem treinador de futebol e começa a sua carreira em um time de 4ª Divisão, com um orçamento bastante limitado e um plantel humilde. Na verdade você é um Manager, que é um cargo acima dos técnicos de futebol no esquema brasileiro, com poder de contratação e influência direta na gestão do clube. Aumentar o estádio, vender e comprar, observar jogadores adversários… Tudo isso está sob a sua supervisão. Sua missão é vencer as partidas, administrar o dinheiro em caixa (que é utilizado para pagar os salários e para contratar jogadores), fortalecer o seu elenco e ganhar títulos. Você pode, inclusive, ser promovido!
Toda essa mágica acontece apenas com telas de texto e algumas cores, só pra diferenciar um time do outro. Mesmo durante as partidas, a tela tem mais cara de tabela de Excel que de um jogo propriamente dito.
Rolou a bola, está valendo!
Todas as partidas (da primeira à quarta divisão) acontecem de maneira simultânea, pipocando diversas notificações ao lado de cada jogo, indicando os lances de maior relevância em cada partida. Cartões, contusões, substituições e claro, os gols.
Os jogadores possuem níveis de força que variam de 1 a 50, com interferência direta no seu rendimento durante as partidas. Esses níveis, inclusive, podem aumentar ou diminuir ao longo das temporadas, levando em conta fatores como o rendimento do time ou a sua condição física. Um jogador de força 50 que sofre uma contusão durante uma partida pode perder muitos níveis de uma hora para a outra!
Além disso, os atletas estão ainda classificados de acordo com a sua cordialidade durante as partidas. Convenhamos, não dá pra incluir atletas mais “sangue nos olhos” como Junior Baiano e Pepe, no mesmo grupo de jogadores mais leais como Rivaldo ou Zé Roberto.
Essa última classificação influencia diretamente na quantidade de cartões vermelhos que um jogador recebe, na seguinte escala: Fair Play, Cordeirinho, Cavalheiro, Caneleiro, Caceteiro e Sarrafeiro. Um jogador Fair Play raramente é punido, rendendo muito mais em campo. Já um Sarrafeiro consegue ser expulso em pelo menos metade das vezes que entra em campo, desfalcando a equipe em jogos decisivos.
Futebol Personalizado
O jogo oferece ainda uma ferramenta para a criação de times e jogadores, mas deixa a parte da lealdade acontecer de maneira aleatória, tornando o jogo mais equilibrado e personalizável. Quer jogar a temporada 2017-2018 dos principais campeonatos? Basta baixar os arquivos atualizados dos times e pronto: um jogo de 1998, devidamente atualizado e funcional.
Sua equipe disputa dois torneios simultâneos a cada temporada: em um deles você enfrenta todos os demais times da sua divisão, no formato turno e returno com pontos corridos. O outro campeonato é no formato Taça, com partidas disputadas em mata-mata. Ter uma boa performance em cada um dos campeonatos pode significar receber propostas de times maiores (o contrário também é válido).
Se o seu time estiver indo bem nos campeonatos, a força dos jogadores aumenta e você pode aumentar também o preço dos ingressos e a quantidade de cadeiras disponíveis. Essa é uma boa estratégia para sanear as suas finanças e conseguir reforçar a equipe.
Outra boa estratégia é comprar jogadores mais baratinhos, com força pelo menos 20 níveis abaixo do seu time, e deixar que eles cresçam junto dos seus jogadores. Daí, em uma ou duas temporadas eles já estarão nivelados e prontos para enriquecer o seu caixa, ou até mesmo o seu plantel.
Milhões de treinadores
Com o passar dos anos, a fórmula de Elifoot ganhou melhorias e evoluiu para a internet. A comunidade passou a interagir com o criador e novas versões foram lançadas.
No ano passado, Elifoot 2016 chegou finalmente para os dispositivos móveis, contando com uma versão básica e uma Pro, com recursos adicionais. As mudanças são basicamente as mesmas da versão 98 pós-registro, influenciando apenas nas substituições e no número de treinadores simultâneos.
A parte visual ainda é bastante simples e descomplicada, diferente de jogos concorrentes como Fifa Manager, Championship Manager e afins. Na realidade, talvez seja essa simplicidade de Elifoot o que o torna tão cativante. Elaborado o suficiente para entreter, mas ao mesmo tempo descompromissado. São dois cliques aqui, uma mexidinha ali e já basta: GOLO!