É inegável o potencial das franquias e personagens da Nintendo, talvez seu principal ativo desde os tempos do Nintendo 64. É só ver a febre que Pokémon Go se tornou, isso sem contar o burburinho sobre o novo console da empresa, além de novos capítulos das séries Zelda e Pokémon.
O momento é favorável e aponta para um futuro promissor. Só que, mesmo assim, os fãs parecem estar às avessas com a companhia de Quioto, desde que a empresa se posicionou de maneira contrária a um projeto 100% feito por fãs, o AM2R (sigla para Another Metroid 2 Remake), e obrigou a equipe de desenvolvimento do título a tirá-lo do ar.
Antes de mais nada, deixo claro que não sou contra o fato de a Nintendo não querer o jogo no ar. Afinal, trata-se de uma franquia valiosa para a companhia e ela detém os direitos sobre a série, então é até natural que isso aconteça. O que incomoda, e não é de hoje, é que a Nintendo parece não aprender as regras do jogo, jogo que ela mesma cunhou com tanto esmero trinta anos atrás.
Quando se trata de uma franquia da Nintendo, antes de sermos jogadores, nós somos todos fãs fervorosos. Basta que se anuncie uma continuação de Mario, Zelda ou Pokémon e a internet vira de ponta-cabeça, por no mínimo 24 horas. Esse é um ativo valioso e que a concorrência ainda não conseguiu pavimentar, mesmo se esforçando bastante pra isso: engajamento, paixão! Mas aí Metroid completa 30 anos de existência e o que temos para comemorar? Nada.
Toda essa situação não teria motivo para existir se a Nintendo soubesse reagir com sutileza aos esforços dos seus fãs. Aliás, um passo antes, ela sequer seria cogitada se a Nintendo não deixasse de lado franquias que foram muito importantes para a sua história.
Metroid está entre os principais títulos do NES, do SNES, do Game Boy e do Game Boy Advance, isso pra não mencionar os títulos tridimensionais que foram lançados para os consoles posteriores. No entanto, pasme, Samus está amargando a geladeira do esquecimento desde 2010, quando Other M foi lançado para Wii. Se pensarmos em jogos bidimensionais, chegamos em 2004 com Metroid Zero Mission (GBA), remake do jogo original de NES. E uma aventura 2D inédita? Aí, só Metroid Fusion (GBA), lançado em 2002, 14 anos atrás.
Agora pense comigo: uma legião de fãs louca para jogar aventuras novas da série, com o aniversário de 30 anos da franquia por vir e nenhum indício de um novo título que não seja um spin-off, o que fazer? A própria comunidade trata de atender aos seus anseios e tenta trazer novos ares, é claro!
Quatro anos atrás tivemos uma situação bastante similar, no aniversário de 25 anos da série Mega Man, outro herói esquecido. Na época, um fã chamado Seo Zong Hui, de Cingapura, tratou de criar um título que colocava o robôzinho azul em conflito direto com os personagens de Street Fighter. Se o personagem fosse da Nintendo, o projeto seria cancelado e o autor, provavelmente receberia uma notificação judicial. Mas a Capcom foi esperta, usou todo o awareness gerado pelo jogo a seu favor e lançou o jogo por um preço módico, de maneira oficial. Conseguiu capitalizar em cima de algo que ela não fez, deu algum crédito ao autor do projeto pelo esforço e, de quebra, atendeu aos anseios de uma comunidade sedenta. Foram três coelhos com uma cajadada só!
Que a Big N é mestra em entreter e se reinventar, disso ninguém duvida. Seus hardwares, mesmo sendo tecnicamente inferiores aos da concorrência, dificilmente fazem feio, além de sair sempre do lugar comum. Mas no trato com os seus fãs, falta carinho e uma grande dose de parceria. Falta entender que, antes de serem seus clientes, os jogadores são seu combustível, sua força-motriz. No momento que essa pecinha chave do circuito deixar de se importar, a queda será bastante rápida e dolorida. Espero muito estar errado.