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Dando continuidade à aclamada trilogia do NES, a Konami investiu rápido em uma sequência para a saga dos vampiros, lançando, para Super Nintendo, Super Castlevania IV, um jogo que melhorou a fórmula original, mas sem perder suas raízes.

Velha parceria

Poucas empresas foram tão produtivas ao lado da Nintendo na década de 1980 quanto a Konami. A desenvolvedora lançou diversos clássicos para o sistema, quase todos com muita qualidade. Entre as pérolas produzidas durante esse período, certamente a trilogia Castlevania é uma das mais aclamadas pelos fãs e mídia especializada.

A saga que retrata a luta da família Belmont contra o Conde Drácula gerou três jogos excelentes para o Nintendinho (Castlevania, Castlevania II: Simon’s Quest e Castlevania III: Dracula’s Curse) e, ao lado de Metroid, ajudou a fortalecer as bases para o gênero de ação e exploração 2D — que logo ficaria conhecido como metroidvania.

Com a chegada do Super Nintendo em 1990, a expectativa pelas novas incursões da empresa, ao lado da Nintendo, era alta. Entre as primeiras grandes produções, estava justamente um novo Castlevania. Em desenvolvimento desde 1989, Super Castlevania IV só chegou ás prateleiras no final de 1991, trazendo para os fãs uma aventura familiar, porém bela e renovada.

Mais uma vez, Drácula

Quando foi lançado, Super Castlevania IV logo chamou a atenção por ser bastante similar ao primeiro título da série para o sistema anterior. As semelhanças não eram poucas, a própria Konami trata o jogo como uma espécie de remake, mas com adições que o torna realmente singular.

A história reconta a terrível maldição que envolve o retorno de Drácula do mundo dos mortos. Segundo as lendas, o Conde ressuscita de seu sono eterno a cada 100 anos, cada vez mais forte, com a missão de transformar os humanos em criaturas das trevas para governar o mundo em um reino de caos.

Para combater esse mal surge, em meio às densas florestas da Transilvânia, um jovem caçador de vampiros chamado Simon Belmont, descendente da tradicional família de caçadores de vampiros que enfrenta Drácula há séculos. Assim, empunhando o chicote Vampire Killer, Simon é a única esperança de paz para essa terra amaldiçoada pelas trevas.

Velho e bom Simon

Para enfrentar Drácula e o seu exército de criaturas demoníacas, o jogador controla o lendário caçador por cenários 2D em uma aventura de progressão lateral linear, tendo que atacar, saltar e usar magias para avançar.

Controlar Simon, aliás, é uma tarefa fácil e gratificante. Com o direcional, movemos o personagem pelo cenário. Já os movimentos de ação ficaram a cargo dos botões B, para saltos; R, para uso dos itens secundários (o relógio que para os inimigos, a faca, o machado, a água benta e a cruz bumerangue); e Y, para os ataques com o chicote.

Um dos destaques do jogo, aliás, fica a cargo do uso do Vampire Killer. Em Super Castlevania IV, o jogador pode atacar em todas as direções. Nada da velha limitação de jogar o chicote para frente, se quiser, pode até segurá-lo e ‘chacoalhar’ para se proteger de projéteis e usá-lo como corda para atravessar grandes distancias (estilo Tarzan). Ah, e dá pra melhorar o chicote com itens especiais também.

Do jeito certo

O sistema de jogo também segue a fórmula vista no Nintendinho. Uma barra de vida fica no canto esquerdo da tela com o medidor de saúde e um contador de corações e de tempo no canto direito superior. Tanto o life quanto os corações podem ser reabastecidos durante a jogatina, é só ficar atento às ‘comidas’ e corações que surgem quando destruímos inimigos e objetos pelo cenário.

Além das coxas de galinha para encher o life, e dos corações que servem como ‘combustível’ para as armas secundárias, outros itens estão espalhados pelo jogo. Existem a poção de invisibilidade, os sacos de dinheiro, os powerups para o chicote e armas secundárias, vidas extras, e o cristal mágico que surge sempre que derrotamos um chefão.

À primeira vista, Super Castlevania IV pode parecer uma mera repetição da fórmula vista no antecessor, mas basta dar os primeiros passos no comando de Simon para sentir a diferença, pois toda a jogabilidade passou por um refinamento.

Aquelas malditas quedas de escadas dos jogos anteriores deram lugar a uma movimentação fluida do personagem pelo cenário, interagindo sem problemas com escadas e outros objetos, e permitindo certo nível de controle durante os saltos. É muito mais gratificante e justo jogar esse Castlevania.

Primor

Além dos ajustes na jogabilidade, outros dois pontos saltam aos olhos logo nos primeiros minutos de jogo: gráficos e trilha sonora. Visualmente, Super Castlevania IV é um primor. Os spirtes dos personagens são grandes e detalhados, as cores são vibrantes, os cenários possuem uma variedade incrível de detalhes e texturas, e os efeitos de paralax no fundo do cenário e a rotação de alguns trechos, graças ao uso do chip Mode 7, fazem o jogador parar durante a jogatina só para admirar o capricho.

É bem verdade que, se comparado a outros jogos lançados no final da geração 16-bit, Super Castlevania IV possui gráficos mais simples. Mas, mesmo assim, o cuidado com cada tela, objeto e construção dentro do jogo chama a atenção.

Percorrer os cenários do jogo sempre revela novos detalhes. São águas azuis transparentes que se ligam ao cenário de trás; efeitos de névoa, pingos que caem dentro das cavernas, fundo que rotaciona, planos de movimentação distintos e efeitos de zoom. É um verdadeiro deleite.

O mesmo pode ser dito da trilha sonora. Destaque quase unânime em toda a série, a parte sonora retoma algumas melodias já conhecidas e as aprimoram com maestria. É possível ouvir claramente cada instrumento da música, com destaque para os órgãos, pianos e percussão.

A jornada de Simon

Unido à jogabilidade, ao visual e à excelente qualidade sonora, está um ótimo trabalho de level design. Completar as fases deixou de ser uma tarefa de memorização e sorte, e passou a ‘premiar’ a habilidade do jogador em controlar, de forma justa, o personagem. Em algumas fases, é claro o cuidado da Konami em balancear inimigos, itens e plataformas. Até os combates contra oschefes ganharam mais complexidade, obrigando o jogador estudar com calma os movimentos do adversário.

Para completar a jornada, o jogador precisa superar onze fases, cada uma ambientada numa área distinta. A primeira delas se passa nos arredores de um castelo. Aqui, já é possível observar toda a beleza dos cenários, com destaque para os planos de fundo que se movem de forma independente, dando uma ótima sensação de vivacidade para o jogo.

A segunda fase traz lindas florestas verdes, contrastadas às cores chapadas do restante da missão. Em seguida, no estágio três, Simon adentra uma caverna que começa sem vida, mas que termina cercada por belas cascatas azuis transparentes. A quarta fase retoma a temática de castelo, e nela ficamos impressionados com cenários que giram em torno do personagem, fazendo uso da tecnologia citada anteriormente (Mode 7).

Só para os fortes

A quinta fase é uma floresta densa e lotada de desafios, que, quando superada, leva às profundezas do castelo principal, que começa na sexta fase com lustres gigantes que se movem e se estende pelas ruínas de uma biblioteca na fase sete, por um calabouço empestado de monstros na fase oito, e terminano salão das almas onde fica todo o ouro de Drácula, na fase nove.

Passando por tudo, chega o momento decisivo do confronto contra o verdadeiro inimigo. Mas, para isso, as duas últimas fases, chamadas de A e B, reservam um desafio realmente tenso. Na Fase A, nos deparamos com a torre do castelo com todas aquelas engrenagens para atrapalhar a escalada; já na B, é preciso encarar uma série de desafios até uma maratona de combates mortais contra os principais servos de Drácula, incluindo uma luta contra a própria morte.

Vencendo as poderosas criaturas do sub-mundo, chega o momento decisivo de enfrentar o Conde das Trevas — em seus próprios aposentos — num confronto épico, que exige velocidade no controle e precisão nos ataques.

Terror no castelo

Indo de florestas e calabouços, ao interior do castelo de Drácula, a variedade de inimigos também é enorme, com destaque para velhos vilões e criaturas que se tornariam constante nos jogos da série principal até hoje. Entre os principais inimigos estão:esqueletos, caveiras, monstros marinhos, cabeças e mãos voadoras, cobras, morcegos e até caixões.

Mas os verdadeiros responsáveis pelos confrontos mais desafiadores são os chefes de fase. Cada estágio é protegido por um Boss que exige movimentos cautelosos e muita precisão nos ataques. São eles,Rowdain, Medusa, OrphicVipers, Puweyxil, Korant, The Dancing Spectres: Paula Abghoul& Fred Askare, Sir Grakul, The Monster, ZapgBat, Akmodan II, Slogra, a Morte e Drácula.

Vale lembrar que, mesmo com melhorias na jogabilidade e ajuste na dificuldade, Super Castlevani IV ainda é um jogo difícil e fará você suar para completar os estágios finais. Não espere moleza, não!

Eterno

Lançado no início da geração 16-bit, Super Castlevania IV trouxe ótimos gráficos, efeitos de rotação — que só o Mode 7 podia proporcionar na época —, trilha sonora de qualidade, melhorias na jogabilidade e uma missão caprichada que agradou aos fãs da série e fizeram desse game um dos mais aclamados pela crítica. Tanto é que, ao longo dos anos, o título foi relançado para os serviços digitais da Nintendo e ainda esteve presente no Super Nintendo Classic Edition. Um verdadeiro clássico que merece ser jogado e re-jogado, seja aonde for e como for.

Super Castlevania IV
Desenvolvedora: Konami
Publicadora: Konami
Plataforma: Super Nintendo
Lançamento: 1991

Longplay

Revisão: Rafael Belmonte

Picture of Ítalo Chianca

Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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