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Depois de lançar dois títulos tão distintos, a Konami resolveu unir o que de melhor ela produziu até então na criação de Castlevania III: Dracula’s Curse, o jogo apresentou, definitivamente, os elementos principais que consagraram a saga Castlevania como uma das mais importantes e queridas da história dos videogames.

Fim de ciclo

Lançado em 1989 no Japão, e em 1990 na América do Norte, Castlevania III: Dracula’s Curse encerrou uma das mais aclamadas trilogias produzidas por third parties no Nintendo Entertainment System, mesmo dividindo a atenção com jogos de consoles da nova geração.

Nem a concorrência com o poderoso novo console da Nintendo, e muito menos a convivência com o Mega Drive da Sega — que já estava no mercado há um ano —, diminuíram o interesse e o prestígio desse game que se destacou por ser uma experiência refinada, que aprimorava todos os aspectos técnicos dos títulos anteriores e ainda trazia inúmeras novidades, além de um novo protagonista.

O início de tudo

A história de Castlevania III se passa 215 anos antes de Simon Belmont empunhar o Vampire Killer contra Drácula em Castlevania I. Aqui, um ancestral do famoso caçador de vampiros foi convocado para tentar parar o exército de monstros do Lorde dos Vampiros, que destruía a Europa.

A esperança em deter o caos provocado pelo Conde Drácula foi depositada em Trevor Belmont, chamado até Warakyia pela Igreja Católica, mesmo depois de ter sido exilado com toda a família Belmont anos antes devido aos seus poderes sobrenaturais. Contudo, com o fim iminente, Trevor, com o auxílio de Sypha Belnades, Grant DaNasty e Alucard, partem numa caçada mortal.

Pilares do castelo

Assim como nos dois primeiros Castlevanias para o Nintendinho, Dracula’s Curse segue a tradicional fórmula dos jogos de plataforma. A ação se desenvolve em cenários 2D, com a possibilidade de seguir para frente ou para cima, encarando sequências que exigem pulos precisos e velocidade no comando do caçador de vampiros para vencer os inimigos.

Controlar Trevor é uma tarefa familiar para quem já passou pelos títulos anteriores. O estilo “durão” na movimentação do personagem se manteve, com as clássicas subidas de escadas, saltos meio desajeitados, ataques com chicote — que pode receber melhorias — e o uso de itens. A novidade está na possibilidade de ter o controle de outros três personagens, cada um com características próprias.

Além de Trevor, o jogador tem à disposição o pirata Grant Danasty, com suas habilidades de escalar paredes, andar no teto e super-pulo; a feiticeira Sypha Belnades, que faz uso de magias de fogo, gelo e eletricidade; e Alucard, o filho de Drácula, com a sua força sobrenatural e a habilidade de se transformar em morcego.

Caçadores de aventura

Os personagens também possuem diferenças no uso dos itens, embora existam algumas semelhanças. Trevor possui o chicote, o machado, a adaga, a água benta e o crucifico. Sypha conta com um cajado e magias. Grant prefere adagas e machados. E Alucard, por sua vez, faz uso da Ball of Destruction e a forma de morcego.

Cada personagem possui qualidades e defeitos únicos, o que torna a experiência de jogo bastante diversificada e aumenta ainda mais o fator replay. Além do mais, é possível alternar entre os personagens aliados durante o gameplay, o que ajuda a renovar o interesse no jogo e encoraja novas sessões.

Re-jogar esse game é uma tarefa quase obrigatória, pois existem diversas rotas alternativas para se escolher depois de algumas fases. Cada escolha leva a um novo desafio, com cenários e inimigos diferentes. O que torna tudo ainda mais imprevisível e divertido. Também existem finais alternativos para diferentes escolhas durante o jogo.

Cores das sombras

Em Castlevania III, a Konami conseguiu ir além na exploração dos aspectos técnicos do NES. Embora hoje o jogo possa parecer ultrapassado para a geração que cresceu com gráficos HD, para a época, o jogo era graficamente impressionante. Basta reparar na variedade e na quantidade de detalhes nos estágios — seja em qual plano for —, na vibração das cores e no cuidado com que cada objeto é exposto no cenário.

Alguns trechos específicos são surpreendentes pela quantidade e a qualidade dos efeitos visuais, como o movimento de algumas engrenagens em torres, os raios e trovões que cortam os céus, vitrais coloridos e detalhados e blocos de cimento que derretem.

A escolha das cores lembra bastante o primeiro jogo, deixando um pouco de lado o excesso de escuridão de Simon’s Quest. Outro retorno às origens está na dificuldade. Embora a trilogia inteira tenha um grau de dificuldade alto, no III as coisas voltam ao nível insano do primeiro, com inimigos que tiram muito dano, sequências de plataforma difíceis e chefes complicadíssimos. É uma verdadeira tortura emocional encarar esse desafio.

De outro mundo

Como já havia se tornado tradição na saga, Dracula’s Curse também recebeu um tratamento diferenciado na trilha sonora. As composições lembram temas de música clássica, com melodias profundas e harmoniosas geradas pela complexidade com que os instrumentos são intercalados.

Para tornar a experiência auditiva ainda mais completa, o cartucho da versão japonesa trazia um co-processador de áudio, chamado VRC6, que adicionava mais canais de som ao sistema. Com isso, foi possível combinar os efeitos dos canais para sintetizar novos instrumentos e gerar arranjos belíssimos. Infelizmente, a versão americana não contava com esse requinte musical, pois o NES não suportava chips de som externos, o que gerou uma trilha menos rica em detalhes, mas ainda assim, bela.

Além do áudio, a versão americana também apresentava algumas diferenças em relação à versão japonesa no visual do jogo. Como de costume, a Nintendo censurou diversos trechos com possível conotação sexual e religiosa, além de possuir pequenas diferenças gráficas devido à ausência de um chip especial da Konami presente apenas na versão japonesa do game.

Atemporal

Lançado originalmente para o Famicon/NES, Castlevania III também recebeu vários ports ao longo dos anos, aparecendo, principalmente, nos sistemas de vendas digitais da Nintendo, como no Virtual Console do Nintendo Wii (2008), no Nintendo 3DS (2014) e do Nintendo Wii U (2014).

Embora não seja um jogo propriamente dito, durante o auge do game no NES, um episódio da série animada Captain N: The Game Master, exibida pela NBC nos Estados Unidos, foi inspirado no jogo. O episódio se chama Return to Castlevania, e traz diversas referências aos acontecimentos do jogo.

Em 2017, Dracula’s Curse serviu de inspiração para a produção de uma série animada produzida pela Netflix que reconta as origens de Trevor Belmont. A série é uma adaptação direta do jogo, e traz inúmeras referências aos acontecimentos ocorridos nele. Um presente para os fãs da saga.

Eterno

Unindo o que de melhor os dois primeiros títulos da saga haviam entregado, Castlevania III: Dracula’s Curse conseguiu equilibrar a ação e os combates do primeiro game com a liberdade de exploração e a não-linearidade da segunda aventura, além de apresentar diversos novos elementos que serviram de base principal para a série dali em diante.

Cenários para explorar, inimigos para vencer, itens para utilizar, rotas alternativas, personagens marcantes e um cuidado com cada aspecto do jogo fazem desse game um dos melhores do console. Um jogo que utilizava cada bit do console para recriar um mundo de fantasia que até hoje é encantador e que merece sempre ser revisitado por aqueles que buscam grandes aventuras.

Castlevania III: Dracula’s Curse
Desenvolvedora: Konami
Publicadora: Konami
Plataforma: NES/Famicon
Lançamento: 1989

Longplay

Revisão: Rafael Belmonte

Picture of Ítalo Chianca

Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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