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Se você gosta do jogo The Legend of Zelda: Majora’s Mask, certamente conhece um monte de histórias malucas e cheias de terror sobre o jogo, certo? Pois antes mesmo de me divertir lendo esses contos de terror, eu mesmo já tinha passado por algo inimaginável, lá no comecinho da década de 2000.

Ps: Caso queira ter a experiência de leitura completa, experiente ler o texto ouvindo essa trilha sonora.

Era uma vez…

Muitas são as lendas que envolvem o jogo Majora’s Mask, segundo título da famosa série The Legend of Zelda para o saudoso Nintendo 64. Embora não seja de me assustar com tantas histórias, principalmente as de terror, a temática sombria proposta pelo título pode acabar influenciando as mentes férteis a fantasiar e a imaginar coisas sobre o jogo.

Contudo, alguns relatos que possuem como pano de fundo o clássico título do herói de gorro verde são tão fantásticos e envolventes que fica impossível não se entregar e viajar nestes contos.

O mais famoso deles é a do cartucho amaldiçoado que pertencia ao garoto Ben, que havia sido dado a um jovem jogador por um velho. Mas outras histórias, mesmo que não estejam diretamente relacionadas ao terror, são tão boas e fascinantes quanto. Porém, eu também tenho minha própria história com o jogo, contendo uma jornada que parecia não ter fim.

Caixa de pandora

Minha história com Majora’s Maks começa num anoitecer de sábado, quando minha família saia para visitar um dos meus tios que chegara de mudança, vindo da capital paulista. Como moramos no interior do RN, o fato marcava um grande hiato de encontros entre ele e nós, portanto, motivo de festa e alegria para todos.

Até aí, eu e meus irmãos não estávamos curtindo tanto a ocasião, pois estávamos numa daquelas disputas ferrenhas em 007 Goldeneye no modo multiplayer. Havíamos acabado de comprar um Nintendo 64, então não é difícil de imaginar que preferíamos permanecer em casa, jogando o mais novo console. Mas, no fim, prevaleceu a palavra dos nossos pais, e tive que deixar o agente Bond de lado para um jantar em família.

Chegando lá, enquanto os adultos colocavam o papo em dia, eu e meus dois irmãos fomos agraciados com uma caixa de velharias que o meu tio trouxe de São Paulo e que não lhe servia mais. Ali, de repente a curiosidade e a vontade de descobrir o que tinha na caixa tomou conta de todos nós.

Era uma imensidão de coisas, a maioria sem nenhum valor. Contudo, para minha surpresa, entre tanta porcaria, surgiam alguns manuais, caixas e revistas, tudo sobre videogame. Agora sim, as coisas tomavam um rumo ótimo e inesperado. Tudo aquilo já valia a pena, mas de repente, a surpresa: um cartucho dourado de Nintendo 64 com caixa e manual.

Um Zelda para chamar de meu

Os minutos de exploração nos trouxe um cartucho dourado, que era na verdade, o jogo The Legend of Zelda: Majora’s Mask. E o melhor de tudo era que se tratava da versão holográfica do jogo. Lindíssimo. A caixa estava impecável, como nova. Apenas o manual parecia bem desgastado, pois estava cheio de riscos e amassados, além de que as imagens estavam bem embaçadas, quase sem cor. E é justamente nesse manual onde os primeiros mistérios começavam a surgir.

Foi impossível atentar aos detalhes daquele manual logo de cara, pois a euforia de encontrar no meio de velharias um cartucho de Nintendo 64, ainda por cima um Zelda, não me deixavam pensar em outra coisa naqueles momentos seguintes. Porém, bastou chegar em casa para, enfim, poder aproveitar tudo aquilo que me esperava. Como um bom jogador, antes de ligar o jogo passei um bom tempo folheando o manual, que por sorte estava totalmente em português.

Bastante empoeirado, como um velho livro abandonado, comecei a me debruçar sobre o documento. Enquanto lia os detalhes de como controlar Link e as formas de usar suas armas, deparei-me com vários escritos a mão ao redor das páginas. Coisas do tipo: Soprar a fita duas vezes da direita para esquerda antes de ligar; cuidado com as galinhas; sempre toque a canção antes do fim do terceiro dia; procure muitas máscaras; Os relatos de um antigo dono me encheram de entusiasmo e mistério.

O início do mistério

Alguém havia deixado dicas importantes para o desenrolar do jogo. De como fazê-lo funcionar, até evitar as malditas galinhas de Clock Tower, tudo estava detalhado no próprio manual. Porém, o que mais me intrigava naquele manual eram os comentários pessoais do autor. Lá para o final, era possível perceber a angústia daquele jovem em não conseguir encontrar todas as máscaras e das várias tentativas de finalizar o jogo sem sucesso.

Outras frases seguiam surgindo no canto das páginas, como: “não encontro as máscaras”; “morro sempre que visto a máscara de Goron”; ou até, “o jogo desliga sozinho à noite”; “não jogue à noite”; “o grito das máscaras me assusta”; e “nunca chego até o final”, deixavam-me apreensivos em relação ao título, mesmo sem nem saber o que me esperava, pois não conhecia muito bem a série, havia apenas jogado o game do Super Nintendo.

Passadas as primeiras surpresas, resolvi testar o jogo. E não é novidade para ninguém que já tenha tido a sorte de jogar um dos mais incríveis jogos de videogame já criados. Gráficos estonteantes, trilha sonora arrasadora e um clima sombrio como nenhum outro jogo passava até então. Era tudo muito fascinante. Estava encantado com Majora’s Mask. Ou, pelo menos, até as coisas desandarem.

Medo

Os primeiros minutos foram de enlouquecer, com cenas belíssimas. Mas toda a magia começou a sumir no momento em que vesti a primeira máscara do jogo. Assim como descrito no manual, o som do grito de Link ao colocar a máscara no início do jogo não parava, mesmo depois do fim da cena. Era de arrepiar. Saltar, correr e seguir adiante com aquele som de grito era de deixar qualquer um tomado de aflição e medo.

Mesmo entrando em outras áreas e fazendo todo tipo de movimento, o som do grito não cessava. Era tão macabro, que consigo ouvir até hoje, inclusive enquanto escrevo esta crônica. Parecia que o jovem Link estava em desespero por vestir aquele acessório, eram gritos de medo e dor, que por muito tempo me deixaram aflito e pensando ser o próprio personagem sufocado por aquele item.

Era preciso resetar o jogo e iniciar novamente para poder seguir normalmente, ou pelo menos até outras coisas tão misteriosas quanto os gritos da máscara tomarem conta. Bastava seguir um pouco para se deparar com outros fatos tenebrosos.

Lembro-me de cavalgar com Epona pelos vastos campos e observar os corpos dos inimigos subirem ao céu. Na verdade, pareciam almas sem rumo, mas com corpo e tudo. Outro detalhe que me assombrou durante toda a jogatina foi o fato das músicas de fundo sumirem do nada. Enquanto jogava, os sons sumiam, ficando apenas os efeitos da caminhada de Link e dos outros personagens. Quando isso acontecia à noite, o coração vinha à boca.

Pesadelo

Tudo no jogo era muito estranho. Às vezes, as caixas de diálogo sumiam, ficando apenas o som de quando elas passavam. As texturas das casas estouravam, mostrando o vazio do lugar. Algumas canções tocadas na Ocarina tocavam outros sons, como por exemplo, em vez de soar como uma ocarina, era emitido o som de bongo e até guitarra, o que só fui entender bem mais tarde.

Outros fatos curiosos não me deixavam em paz durante o jogo. Assim como escrito no manual, todas as vezes que me distraía e deixava chegar ao terceiro dia, ao seu término, a lua caia sobre mim e o jogo encerrava, desligando, inclusive, o console. Quando isso acontecia, acabava perdendo todos os itens e tinha que começar quase do zero novamente. Parecia que o jogo ou assombrava ou se recusava a ser concluído.

Certa vez, enquanto caminhava em forma de Goron em busca do templo de gelo, parei para tocar a canção do tempo e, simplesmente, todos os meus itens se transformaram em ocarinas. Tudo, em todos os espaços de itens, até das máscaras, virou ocarina — meu amigo Carlos Jorge, que acompanhava a jornada, quase não acreditou quando viu, ficando desesperado. Acompanhado do feito, o som do jogo sumia, deixando tudo mais misterioso e sombrio.

Tentar jogar essa obra era um desafio, muitas vezes inviável, outras tantas misteriosas. Mas era justamente esse clima, que somado ao aspecto sombrio do próprio jogo, despertavam-me o interesse em tentar superá-lo, mesmo com tanta dificuldade.

Agonia

Quando já havia me acostumado com os gritos sem fim, pelo simples fato de colocar as máscaras, também como partes em que o som ambiente sumia e com inúmeras mortes quando me esquecia de tocar a canção do tempo, eis que surge mais uma novidade. No momento em que chegava ao templo final, prestes a vencer o Skull Kid, meu Nintendo 64 não ligava mais.

Bem, não é que meu console tenha pifado, mas é que ele não ligava quando o cartucho de Majora’s Mask estava encaixado nele. Em outros jogos funcionava normalmente, mas bastava o cartuchinho dourado chegar e nada funcionava. Estranho, não?

Sem conseguir terminar o game e também assustado com tudo o que já havia acontecido, resolvi vendê-lo ao primeiro que aparecesse. Não demorou nenhum dia. Um velho amigo, vizinho, ofereceu uma boa quantia no jogo, e logo lhe entreguei a maldição. Não demorou nada também para as coisas estranhas fazerem efeito.

No outro dia, sem menos esperar, Zé Breno me trouxe o cartucho de volta. Segundo ele, o holograma da frente do jogo se mexia sozinho enquanto ele jogava. Outro fato estranho citado por ele eram as perseguições das galinhas, que o seguiam em qualquer lugar que fosse, até matá-lo. Isso foi o suficiente para ele nunca mais querer ouvir falar em Zelda. Os relatos do manual se confirmavam. Só podia ser uma maldição.

Maldição

Durante muito tempo tentei emprestar, alugar e vender o jogo, mas todos relatavam problemas com o Majora’s dourado. Alguns amigos inclusive passaram a ter pesadelos com o game, isso sem eu nem ter mostrado o manual. Era muito estranho. Os mesmos assombros se repetiam, com qualquer jogador que fosse. Mas nada se comparava aos gritos de desespero de Link logo após colocar uma máscara.

Infelizmente, com tanta coisa estranha acontecendo no jogo, foi sempre impossível terminá-lo. Tudo conspirava contra minha vitória contra o Skull Kid e a lua teimava em destruir meu mundo. Aquele garoto que deixou os escritos no manual tinha razão. Não dava para concluí-lo. Abandonei a ideia de chegar até o fim de Majora’s. Enquanto isso, dediquei-me aos outros clássicos do console, como a série Banjo, Perfect Dark e o perfeito Ocarina of Time.

Para minha surpresa, alguns anos depois, resolvi revisitar o antigo cartucho e, milagrosamente, tudo ainda estava como novo. Porém, agora mais experiente e conhecedor dos detalhes mais importantes sobre o 64-bit da Nintendo, prestei atenção que aquele cartucho tinha algo de diferente, principalmente dos meus jogos originais.

O que percebi, logo que peguei no cartucho novamente, é que ele era um pouco maior do que os outros, assim como seus parafusos, que eram comuns e não estrelados. Sem dúvidas, era um jogo pirata. Foi então que percebi que aqueles problemas podiam ser bugs (eu lá sabia o que era um bug antes). Estava pelo menos para mim, explicado o motivo para tanta estranheza. Mas, uma coisa eu tenho certeza, algo estranho tinha naquela fita, isso eu sei.

Assombração

Tentei concluir o game como das outras várias vezes, mas era impossível. Tudo o que estava escrito no manual se repetia. Gritos, falta de sons, a Lua desabando no terceiro dia e apagando minha gravação e as mortes pelas galinhas. Parecia uma profecia interminável que evitava minha chegada ao fim do game.

Contudo, um fato mudaria o rumo dessa história. Num ato de desespero, resolvi me desfazer do jogo, a começar pelo maldito manual. Quase como num ritual, coloquei fogo em seus escritos. Enquanto as chamas tomavam conta do já surrado manual, pude ouvir, bem baixinho, o grito do Link em desespero, angustiado e sentindo dor ao colocar a máscara. Muito provavelmente esse fato foi fruto do meu imaginário, mas que foi horripilante, ah, isso foi.

Quando enfim fui me desfazer do cartucho, percebi que o papel holográfico havia caído, desfazendo parte da beleza do cartucho dourado. Num ato impensável, resolvi então testar o game. Mesmo não esperando nada além dos macabros bugs, os saves haviam sumido, e o jogo, aparentemente, havia sofrido alterações. Para minha surpresa, ao iniciar a jornada, tudo corria tranquilamente, inclusive a parte onde Link veste sua máscara. Não acreditava no que estava acontecendo, mas conseguia jogar aquela fantástica obra dos videogames como nunca tinha feito antes. Parece que as maldições tinham sido desfeitas quando me livrei daquele manual.

Fim?

Se foi coincidência ou algo sobrenatural, eu não sei, mas que os escritos feitos pelo garoto no manual faziam despertar os acontecimentos no jogo, ah, isso sim parecia fazer sentido. Era como se ele tivesse colocado cada mistério, cada assombração no jogo através dos seus escritos no manual do jogo, que quando deixou de existir, não se repetiram na jogatina.

Assim pude, finalmente, chegar ao fim da jornada, quase 10 anos após encontrar o cartucho nas velharias do meu tio. Hoje, por tantos motivos, foi o jogo que me fez grande admirador da franquia, sendo o responsável pelas inumeráveis aventuras na pele do herói do tempo. E saber que tudo começou com uma maldição.


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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