Cada gamer, independente de seu perfil, tem sua vida marcada por um jogo especial que o fez dedicar horas com o controle na mão, recorrer ao socorro de quem entendia mais do que ele pra sair daquele trecho complicado ou vencer um boss mais casca grossa que parecia imbatível. O Final Fantasy VII foi responsável por proporcionar este tipo de experiência a milhões de aventureiros pelo mundo.
Claro que nem todo jogador, e nem mesmo todo dono de Playstation ou PC, já jogou essa preciosidade, mas a verdade é que qualquer um que seja fã de uma boa narrativa deveria jogar.
Sendo o sétimo episódio da franquia principal da então Squaresoft (hoje Square Enix), o jogo significou uma verdadeira guinada nos RPGs (Role Playing Games) da época. Imagine o ano de 1997: o mundo virtual do filme Tron é o que esperamos como realidade depois que o ponteiro do relógio bater a meia noite do último dia do ano 2000 e o bug do milênio desencadear o caos tecnológico bem como uma revolução das máquinas.
Brincadeiras a parte, foi em meio a uma recente transição de gerações no mundo dos consoles que a Square agraciou o mundo com a saga do ex-Soldier 1st Class Cloud Strife em sua descoberta de valores humanos, como amizade e amor, e a tomada de consciência de que ninguém é neutro quando o resultado final atinge o coletivo.
Muito embora fosse o sétimo game de Final Fantasy, aquele trazia consigo uma carga emocional em sua trama que os anteriores ainda não tinham conseguido apresentar (apesar de grandes episódios como o quinto e o sexto).
Aliado a isso, a experiência ainda em estágio embrionário de mundo aberto, a gama de missões secundárias para se realizar de forma não linear, os divertidíssimos minigames espalhados ao longo da história com precisão cirúrgica, e cutscenes belíssimas tornaram o jogo um sucesso capaz de turbinar as vendas do Playstation e de popularizar de uma vez por todas os RPGs japoneses que tomariam de assalto o mercado nos anos vindouros.
Clobberin’ Time
É bem verdade que quando o assunto é RPG, a primeira coisa que muita gente visualiza é o cadenciado formato de ações divididas em turnos, e logo surge o conceito pré-concebido de um jogo lento. Mas é aí que FFVII brilha!
O game tem contornos de filme de ação e o pau quebra mesmo. Logo que o jogador confirma a opção NEW GAME no menu principal, a calmaria da tela de abertura com uma espada gigante e música suave de fundo dá lugar ao frenesi de uma trilha agitada – as músicas de fundo do jogo também são um show a parte – que embala um ataque de um grupo terrorista.
Melhor de tudo? Você está entre os protagonistas desse ataque! Daí pra frente o que se segue é um belo trecho com diálogos e confrontos onde nada fica exatamente claro, ou seja, será que o personagem principal do jogo é realmente um terrorista do mal, inimigo da liberdade?
Bem, sem querer ser repetitivo, mas inevitavelmente sendo, é aí que mora mais uma das belezas de Final Fantasy VII. Obviamente, como em qualquer outra história de heroísmo, o game tem mocinhos e vilões, mas as linhas entre estes em boa parte são tênues o suficiente pra deixar a cargo de quem joga a separação real.
Lançado no auge da tecnologia dos Compact Discs (CDs), o jogo era dividido em três discos em suas versões principais e muitos dos jogadores terminavam o primeiro CD sem ter até então desenvolvido alguma empatia em relação a Cloud, o personagem principal.
Ora, muita gente é capaz de afirmar até hoje que nem gosta do ex-Soldier convertido em mercenário e que simpatiza muito mais com Sephiroth, o principal vilão da história. Isso porque enquanto Cloud descobre seu propósito maior na luta para salvar a terra da aniquilação orquestrada pela ação de grandes corporações, seu poderoso nêmese se entrega a uma missão semelhante, com uma causa talvez até mais justa, só que com meios e fins um tanto mais drásticos.
Evolução da mecânica perfeita
Até chegar nessa conclusão, no entanto, são muitas horas de combates contra inimigos diversos. Ainda que a mecânica de turnos seja a escolhida, a presença de elementos como o combate ativo e os Limit Breaks dão uma cara completamente distinta à experiência.
Diferente da rigidez dos duelos onde cada personagem ou grupo toma suas decisões em um momento estático para só depois de confirmar cada ação, ver seu resultado e receber a resposta, no modo de combate ativo o oponente não te espera para agir quando seu tempo de ação se completa e o mesmo acontece entre os personagens controlados pelo jogador na medida em que ele vai decidindo o que cada um fará.
Essa dinâmica não é exatamente uma novidade de FFVII, mas sua fluidez poderia oferecer (e em determinados momentos oferece de fato) um desafio muito maior. Contudo, para balancear a equação entram em ação os Limit Breaks, uma espécie de tradução das barras de especial dos arcades, como Marvel Super Heroes, para um RPG que torna a experiência de combate um tanto mais divertida.
Enquanto sofre dano ao longo da luta, cada personagem transforma aquela penalidade de vida em ímpeto de combate para culminar na oportunidade de utilizar uma técnica devastadora de ataque ou suporte que vai evoluindo de acordo com seu uso. Esses ataques inclusive lembram golpes combinados de outra preciosidade da Square que marcou época na geração anterior de consoles e atende pelo nome de Chrono Trigger.
Assim como no seu primo do SNES, com o tempo, é comum ver o jogador empenhado em conquistar novos Limit Breaks para cada personagem antes de dar sequência à história e assim conseguir derrotar certos inimigos mais poderosos – mesmo que sejam confrontos opcionais como as arrasadoras Weapons, máquinas de matar criadas pela indústria bélica de Midgar.
Outro jogo a parte são as esferas equipáveis chamadas de Materia que carregam a essência da própria Terra e com isso fazem manifestar diferentes poderes mágicos. O ponto alto delas são sem sombra de dúvida as Summons ou invocações que despertam os mais diversos seres mitológicos para auxiliar Cloud e seus companheiros em batalha. Conseguir algumas delas ou despertar o poder contido em cada uma exige dedicação e paciência, mas o resultado final sempre recompensa o esforço.
E tudo isso acontece de forma orgânica, sem perder o ritmo da história que vai acrescentando elementos a cada novo personagem e desafio apresentado, diferente do que às vezes acaba acontecendo nos jogos atuais com uma avalanche de missões paralelas e repetitivas, sem relação com o eixo principal da trama.
Um grande exemplo disso é o icônico chocobo. Aquele pássaro amarelo que mais parece uma galinha gigante e tem feições fofinhas traz uma série de facilidades ao gameplay, mas não é requisito obrigatório para se chegar ao fim do jogo.
Com uma dose de astúcia e sorte, o jogador pode bater FFVII sem se preocupar com os penosos, mas se dedicar um pouquinho de tempo para capturar um, logo se verá interessado no acasalamento dos bichos e nos benefícios que cada cor tem.
No final, horas serão investidas em corridas e em passeios pelo mapa para alcançar áreas antes inacessíveis e obter aquele item único que pode fazer a diferença no fim da já completíssima história.
Avalanche e o chamado para o ativismo
E lembra da recomendação para aqueles que não limitam suas horas com um controle? Isso se deve ao fato de que Final Fantasy VII é daqueles jogos com história de verdade – não uma qualquer, mas do tipo capaz de despertar reflexão em quem se importa com os diálogos característicos dos RPGs.
O gamer ali é o observador e enquanto joga são apresentadas a ele uma série de oportunidades de refletir sobre condutas comuns em sociedades que não estão ameaçadas de catástrofes naturais como é o caso do jogo.
Das ações das grandes corporações baseadas na obtenção de lucro à reação de grupos independentes em busca de algum tipo de liberdade, passando pelos irreparáveis efeitos colaterais e toda a área cinzenta que contempla aqueles que não tomam atitudes concretas, Final Fantasy VII é quase um tratado de sociologia e política.
O melhor de tudo é que toda essa carga é diluída de forma eficaz entre combates, corridas de chocobo, passeios em sua aeronave particular, evoluções de matéria, e histórias particulares de cada personagem que levam o jogador do riso ao coração partido em questão de segundos.
E para possibilitar que a experiência de cada jogador seja diversa, Final Fantasy VII utiliza trechos inteiros da história como conteúdo opcional. Enquanto alguns personagens como o tiro, porrada e bomba Barret Wallace, a primeira lutadora de MMA dos games Tifa Lockhart, o esquisito Cait Sith, o mau-humorado Cid Highwind e a santa/mártir Aeris (Aerith no japonês) Gainsborough são obrigatoriamente parte da história, outros como a hilária ninja Yuffie Kisaragi e o filme de terror ambulante Vincent Valentine são extras que muita gente só fica sabendo que existe quando é tarde demais.
E conseguir cada um deles envolve uma experiência de diversão a parte, traz novos elementos à história capazes de tornar a compreensão da trama mais completa, mas não oferecem penalidades de fato para aqueles que terminam o game sem habilitá-los.
Um jogo ainda atual
Não bastasse toda essa soma que faz de Final Fantasy VII um game atemporal, tanto no quesito história como em relação a seu gameplay e valor de replay, a Sony e a Square Enix anunciaram em 2015 que essa jóia vai ganhar um remake.
Isso significa que quem não jogou a versão original vai ter a oportunidade de experimentar esse clássico como se ele tivesse acabado de sair. Muito disso se deve ao fato de que o visual do jogo está sendo completamente repaginado para se adequar à realidade gráfica atual e ao avanço da própria série Final Fantasy, que já ultrapassa 15 episódios em sua linha principal.
Para quem ainda não conferiu a experiência original de 1997, ainda é possível jogá-lo e aproveitar para chegar afiado à nova versão, que deve seguir a tendência atual e ganhar não só uma nova cara, mas acréscimos à trama através dos populares DLC’s.
Chega de ler! Vá atrás do seu Final Fantasy VII, monte seu chocobo, carregue seu Limit Break, equipe sua melhor Materia e boa jogatina.
Vídeo
Final Fantasy VII – Longplay – Fonte: World of Longplays