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Abrimos o baú de relíquias do Véio para relembrar a seção do lojista, coluna da revista ProGames, com dicas valiosas para os donos de locadora de videogame de todo o Brasil terem sucesso!

Para todos os gostos

Quando a revista ProGames chegou às bancas em 1993, a rede de locadoras de mesmo nome já era uma das maiores franquias de lojas dedicadas à venda e locação de games no Brasil.

Na época, já eram mais de vinte grandes filiais espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Bahia, Minas Gerais e Paraíba, como revela o anúncio das páginas finais da primeira edição da revista. 

Nessa época, o mercado brasileiro vivia um interessante momento de transição entre as gerações 8-bit e 16-bit. A diversidade de consoles e jogos era enorme. O Atari ainda era bastante jogado; os portáteis Game Boy e Game Gear já eram vistos nos bolsos da garotada; Master System e Nintendinho (e todos os seus clones) estavam em milhares de lares brasileiros; e Mega Drive, Super Nintendo e Neo Geo eram os sonhos de consumo de todo jogador.  

Foi justamente nesse momento de transição que a locadora ProGames tomou proporções colossais. Segundo Ivan Battesini, um dos criadores da rede de locadoras e hoje sócio da WarpZone, em entrevista ao “Quadro Retrô”, apresentado por Marcel Campos durante a Brasil Game Show de 2019, a primeira loja cresceu rapidamente devido a compra, venda e troca de cartuchos de consoles antigos e novos. 

Quem tinha consoles e jogos antigos de Atari, Master System e NES, por exemplo, costumava vender por preços baixos ou trocar grandes quantidades de cartuchos por apenas um título da nova geração. Foi com negócios assim que a ProGames dobrava de tamanho todo mês, aumentando a variedade de plataformas e jogos para locação.

Chamativo

Na edição de estreia da ProGames, a revista dedicou uma página inteira para falar diretamente sobre as vertentes profissionais do negócio de games, como eles fizeram questão de destacar: “A revista PROGAMES, preocupada com este aspecto (técnico), trará a cada edição informações úteis sobre os vários itens que fazem diferença entre ter ou não sucesso.”

As duas primeiras edições abordaram temas importantes para uma locadora de sucesso na coluna chamada Seção do Lojista. Na edição #01, a dica foi sobre o visual, pois é “por ele que o cliente é atraído para dentro do seu estabelecimento”. E, no caso das locadoras de videogame, esse visual precisava ser tão atrativo quanto os próprios jogos.

Segundo as dicas da edição, “é interessante criar ambientes relacionados com o mundo dos games”. Algumas formas interessantes de fazer isso na época era grafitando personagens e cenários de jogos na parede e na fachada da loja e até colocando pôsteres bem chamativos dos títulos do momento. Além disso, era preciso ter cuidado para sempre renovar as artes conforme novos games eram lançados.

Nas locadoras que joguei em São José do Seridó/RN, não existiam artes e nem pinturas nas fachadas e no interior. Mas os pôsteres e as caixas dos jogos nas paredes foram usados para criar uma atmosfera bem própria para o espaço, tornando o lugar ainda mais atrativo. 

Em ordem

O espaço da locadora também precisava ser funcional, como detalha a sugestão de layout proposta na edição #01 da ProGames. Além de adotar cores claras para o fundo das paredes, era preciso deixar “um bom espaço para circulação nas áreas de exposição e próximo ao balcão de atendimento, para que os clientes possam sentir-se à vontade dentro da locadora”

E para as locadoras que também tinham espaços para a galera jogar nos consoles da loja, o famoso “play-game”, a revista sugeria que era preciso “reservar uma área diferenciada para ele, pois esse setor geralmente concentra um grande número de pessoas e não deve interferir no movimento da loja”

Vale destacar que o “Play-Game” era o tipo de locadora predominante no interior do país e em cidades menores. Não era comum que as crianças tivessem o próprio console em casa nessas regiões. Para jogar, geralmente era preciso usar os consoles da própria locadora.

Nos grandes centros, no entanto, as locadora de videogame funcionam de forma mais semelhante às locadoras de filmes. O cliente, que geralmente já possuía o console em casa, alugava apenas o cartucho. Existia até a opção de alugar o videogame com jogos, como era o caso das lojas da ProGames.

Acervo variado

De nada adiantaria ter uma locadora bonita, aconchegante e espaçosa sem ter bons e variados jogos. Foi com essa preocupação que a coluna Seção do Lojista da revista ProGames #02 dedicou o seu espaço para trazer dicas e orientações com o acervo das locadoras de videogame.

Segundo a ProGames, com base em dados levantados por um sistema próprio, foi possível classificar dois padrões de locadoras distintos,  que merecem “profunda análise e reflexão para tomada de decisões”. Esses dois padrões foram classificados da seguinte forma:

Padrão de locadora 1

Presente em capitais, bairros nobres, interior e cidades de médio porte. Tem predominância de consoles de 16-bit, possuindo um acervo de cerca de 400 cartuchos. 

Veja os dados da tabela, com destaque para porcentagem de jogos instalados pos sistemas e a preferência média do público por gênero de jogo.

Como podemos observar, existia uma preferência acentuada pelos consoles da Nintendo, com Nintendinho e Super Nintendo levemente à frente do Master System e do Mega Drive. Já sobre os gêneros, os jogos de ação representam quase metade do interesse do público, seguido de esporte e aventura. 

Padrão de locadora 2

Presente em capitais, bairros de periferia, interior e cidades de pequeno porte. Tem predominância de consoles de 8-bit e um acervo de cerca de 246 cartuchos. 

Segundo os dados da tabela, vale destacar a mesma porcentagem de preferência dos jogadores pelo Nintendinho, Super Nintendo e Mega Drive, com Master System logo em seguida.

Assim como na tabela anterior, os portáteis eram poucos procurados e os jogos de ação, esporte e aventura estavam no topo da lista das preferências da garotada. 

Antes de concluir a matéria, a ProGames tirou conclusões interessantes com base nos dados da tabela para ajudar o lojista, como “verificar a possibilidade de diferenciação de preços de locação entre os cartuchos de lançamento e os mais antigos”, e “fazer promoções com os título mais antigos, do tipo Leve 5 cartuchos por 2 dias e pague 1 locação de cada”

Mas a dica mais interessante obtida dessa análise é a que diz que, “quando grande parte do acervo estiver defasado, ao invés de vender os cartuchos usados é preferível montar uma segunda locadora na periferia, isto gera uma grande economia, além de criar condições de reciclar os cartuchos entre as suas lojas”

Expansão

Esse pensamento de criação de novas lojas em bairros cada vez mais afastados dos grandes centros, contribuiu diretamente para a expansão dos videogames no Brasil, tornando as locadoras um fenômeno nacional, com jogos e consoles chegando nos lugares mais remotos desse país, como a minha querida São José do Seridó/RN

Com a ProGames, os jogadores das grandes cidades brasileiras tiveram a chance de experimentar os consoles e jogos que saiam simultaneamente no Japão e nos Estados Unidos, pois a busca por novidades era necessário para o sucesso da empresa.

Na primeira metade da década de 1990, por exemplo, as revistas de videogame já informavam os mais apaixonados sobre tudo que estava rolando lá fora. Com isso, a ProGames precisava correr atrás e abastecer as suas lojas com os lançamentos e poder continuar a sua expansão.

E com cada vez mais jogos chegando, mais jogos saiam do interesse do público das capitais e chegavam até o interior e as periferias, ganhando vida nova e divertindo cada vez mais pessoas. Foi um ciclo de sucesso e diversão que durou até a chegada da pirataria e da criminalidade. Mas a queda só viria depois de uma jornada gloriosa.

Seja ProGames

Além das dicas valiosas, todas as edições da revista ProGames traziam, nas páginas finais, um anúncio da própria rede de locadoras, convidando o interessado para conhecer as instalações de alguma das suas lojas e se tornar um franqueado.

Na edição #03, por exemplo, a última antes da revista se tornar a GAMERS, a revista fez questão de destacar que a partir daquele momento, eles contavam com a “linha completa de produtos TEC-TOY e PLAYTRONICS“. 

Até quem não sabia nada sobre videogames podia montar a sua própria locadora, pois a ProGames oferecia “assessoria completa para montagem, desde a definição de layout, treinamento de atendimento e comércio, até a escolha de acervo”.

Foi com essa mentalidade empreendedora e profissional que a ProGames se transformou em um fenômeno, abrindo filiais e contribuindo diretamente para a disseminação das locadoras de games pelo país e, dessa forma, fortalecendo o mercado de jogos no Brasil ainda mais. 

Se você jogou em uma locadora de videogame em qualquer lugar do Brasil, parte dessa sua experiência se deve à ProGames e a diversas pessoas que investiram tempo e dinheiro para proporcionar que toda uma geração de jogadores e jogadoras tivessem acesso aos jogos do momento, em lugares que se transformaram no principal espaço de sociabilidade infanto-juvenil das cidades.

Scans das revistas utilizadas nesta edição:
Datassette / Retroavengers


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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