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Abrimos o baú de relíquias do Véio para relembrar a chegada às bancas da revista GamePower #01, publicação nacional especializada no universo da Nintendo que marcou época até se fundir à revista SupeGame e dar origem a lendária Super GamePower. Vamos relembrar?

Momento de transição

Em 1992, o mercado de jogos eletrônicos vivia um momento de transição entre as gerações 8-bit e 16-bit. Embora Mega Drive e Super Nintendo já fossem os queridinhos da galera, ainda era bastante comum encontrar Master System e Nintendinho nas locadoras e nas casas dos jogadores.

Esse período, aliás, também marcava o crescimento exponencial da rivalidade entre Nintendo e Sega. A essa altura, as duas gigantes dos videogames disputavam a preferência dos gamers em três frentes: 8-bit (NES x Master System), Portátil (Game Boy x Game Gear) e 16-bit (SNES x Mega Drive).

Com todo esse fervor no mundo dos games, os jogadores buscavam cada vez mais informações sobre seus consoles e jogos favoritos. E, para atender essa demanda, pelo menos dos fãs da Nintendo, chegava às bancas brasileiras, em julho de 1992, a primeira edição da revista GamePower, uma das publicações sobre videogames mais queridas do Brasil.

É GamePower ou nada

Outras revistas de videogame já faziam a alegria dos jogadores nos primeiros anos da década de 1990. Videogame e Ação Games, por exemplo, já eram responsáveis por movimentar as bancas de todo o Brasil com dicas, notícias, detonados e análises dos principais jogos. Contudo, as duas gigantes do mercado editorial receberiam uma nova concorrente.

Publicada pela Editora Nova Cultural – custando Cr$ 7.900,00 –, a primeira edição da revista GamePower foi lançada para noticiar tudo sobre o universo da Nintendo nos videogames, enquanto a revista SuperGame (também da Nova Cultural) traria as novidades sobre a Sega e seus games.

O foco na Nintendo era uma opção editorial, como bem diz a Carta do Editor, na página nº 4: “Chegou a GamePower, a única revista do Brasil especializada no sistema Nintendo de videogames”. A proposta era ousada, mas o periódico estava disposto a fazer história. “De hoje em diante, falou Nintendo, falou GAMEPOWER.”

Time dos sonhos

Com a difícil missão de disputar espaço com outras gigantes do mercado editorial, a GamePower apostou em algumas novidades, como o time de redatores fictícios que assinava as matérias da revista. Esse ponto, aliás, foi um dos responsáveis por criar uma identidade para a publicação logo nas suas primeiras edições.

Formado por personagens carismáticos e facilmente identificáveis, o time de “Críticos da GamePower” era formado por:

 

Baby Betinho: O careca bombadão carinhosamente apelidado de Baby. era o responsável por analisar os principais jogos de luta, de esporte e de tiro.

Marcelo Kamikaze: O japoneses nerd era o mestre dos RPGs e o responsável por trazer as notícias do outro lado do mundo.

Lord Matias: O carioca descolado era o especialista em música da turma, mas também dominava qualquer jogo.

Marjorie Bros: A musa da galera era a fã dos jogos do Mario e uma das críticas da maioria dos principais jogos da Nintendo. Para completar, como dizia no editorial, “Marjorie é natural de Porto Alegre, tem 26 anos e, embora não seja da nossa conta, está solteira no momento”.

Grande estreia

A revista GamePower não poderia ter surgido em melhor momento. Em sua edição de estreia, a publicação trazia Street Fighter II, sucesso dos fliperamas que acabava de ser lançado para o Super Nintendo.

Assim como os jogadores da época, a revista não mediu palavras para recepcionar o game. No subtítulo da matéria estava escrito: “Saiu nos EUA e no Japão o melhor jogo de luta da história.”

A euforia com o lançamento de Street Fighter II estava por cada canto do primeiro grande texto da publicação. “O lançamento mais esperado de toda a história do videogame já chegou às locadoras brasileiras. Street Fighter II provocou filas imensas no Japão, disputas entre jornalistas americanos e verdadeiros leilões nas importadoras do país

A revista fez questão de exaltar a fidelidade do jogo em relação a versão dos arcades – que também recebeu uma matéria especial nessa edição –, com exceção dos cenários, que sofreram pequenas adaptações. Além disso,algumas páginas foram dedicadas a história dos personagens do jogo e dicas.

E por falar em dicas, o pessoal da revista caprichou. Tinha desde um código para jogar com dois personagens iguais, até macetes para enfrentar cada personagem, lista de golpes e apelações para você deixar o adversário maluco.

Bônus Stage

Além de trazer uma “linda” imagem do Blanka na capa, a revista também aproveitou para presentear os seus leitores com alguns brindes. O primeiro deles era um pôster enorme com a arte oficial do cartucho de Street Fighter II do Super Nintendo.

O segundo era uma promoção que dava três SNES, dois NES, cartuchos, bonés e camisetas. Para ganhar um dos prêmios, era só enviar uma frase que definisse, de maneira criativa, a revista GamePower. Ruim era só ter que recortar a revista para mandar o cupom.

Retratando o momento de transição entre plataformas que a Nintendo passava naquele momento, o restante da revista alternou entre lançamentos de Super Nintendo, Nintendinho e GameBoy.

Do lado dos 16-bit, tinha: Super Soccer, Rocketeer, Krusty’s Super Fun House, Top Gear e Contra III. Do lado dos 8-bit, foram citados: Flying Warriors, Where in Time is Carmen Sandiego?, Super Spy Hunter, Vice, Race America. E sobre o GameBoy, a publicação ainda deu espaço para Joe & Mac, Monopoly, Adventure Island e dicas para muitos outros títulos.

Eterna rivalidade

Nem só de prévias, análises, dicas e códigos era feita a GamePower #01. Uma das melhores matérias dessa edição de estréia era um especial escrito por Marcelo Kamikaze, chamada “Os caminhos surpreendentes da briga entre Nintendo e Sega”.

Cheia de detalhes, a matéria trazia uma análise interessante do momento de disputa entre as duas gigantes do entretenimento eletrônico. Segundo a edição, “a disputa entre a Nintendo e a Sega vai continuar acirrada por algum tempo, até 1993 no mínimo. A briga passa por preço, software, títulos e hardware e parece mais dura a cada mês. Quem lucra com isso, felizmente, é o consumidor”.

Ah, e teve até previsão sobre o mercado nacional. “A Nintendo do Japaão está negociando com a Gradiente e a Estrela a comercialização dos seus produtos no Brasil. Numa primeira etapa os produtos serão importados. A briga com a Tec Toy, que produz os jogos e consoles da Sega no país, deverá ser das boas”.

Surge uma lenda

Com os carisma de seus personagens, ótimas matérias, diagramação no capricho e um aparente carinho na produção dessa histórica primeira edição, a revista GamePower chegou para fazer história nas bancas brasileiras.

Foram 25 edições incríveis sobre os jogos e consoles da Nintendo até ela se fundir com a SuperGame, dando origem a lendária Super GamePower, uma das publicações mais lembradas pelos jogadores da época. Contudo, tudo começou com essa edição de julho de 1992. Bons tempos…


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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