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1991 foi um ano bastante importante para os videogames no Brasil. Foi em março desse ano que o mercado editorial brasileiro recebeu a revista Videogame, uma das primeiras e mais importantes publicações especializadas em jogos eletrônicos. Com ela, o jogador pôde, enfim, manter-se informado sobre tudo que acontecia do mundo dos games.

Notícias, dicas, truques, códigos, detonados, análises de jogos e consoles. A Videogame tinha um papel de extrema relevância para o fortalecimento do mercado nacional de jogos, tanto divulgando os novos produtos (games e consoles) quanto servindo de “ponte” para as empresas que surgiam, como as locadoras de videogame, chegarem a novos públicos.

Além de tudo isso, assim como outras publicações fizeram posteriormente, a revista Videogame também abriu um espaço importante para que os seus leitores pudessem vender, comprar e trocar os seus videogames com outros leitores. Surgia aí a inesquecível sessão de Rolos & Trocas da publicação.

Para todos os gostos

Foi em junho de 1991, na quarta edição, que os leitores se depararam com a estréia da coluna “Rolos & Trocas” da revista Videogame. A coluna, que acompanhou toda a trajetória do periódico (que durou de março de 1991 até julho de 1996) fez parte do imaginário de toda uma geração que cresceu aproveitando essas oportunidades publicadas ou que ficava maluco por morar muito longe de conseguir aquele jogo desejado por um precinho camarada.

E é justamente para relembrar as melhores e mais inusitadas ofertas publicadas na coluna “Rolos e Trocas” que nós inauguramos essa série aqui no Jogo Véio. Prepara-se, pois tem muita coisa boa para relembrar.

A estreia da coluna de Rolos & Trocas da Videogame foi anunciada no editorial da quarta edição. essa era uma das duas novidades que a revista publicava atendendo aos pedidos dos seus leitores. Segundo os editores, a coluna de Rolos & Trocas seria “um espaço onde se podem anunciar gratuitamente trocas, compras e venda de cartuchos ou consoles”. 

Quem quer?

O primeiro ponto que vale destacar na coluna de compra e venda era que a revista Videogame não cobrava pelo anúncio, diferente dos classificados dos jornais. Além de serem caros, os anúncios em jornais possuíam limitação de caracteres, o que levava a abreviações bem estranhas que até dificultavam o entendimento dos anúncios. Mas a Videogame prometia fazer de graça para os seus leitores.

Além de não cobrar pelo anúncio, também não existia fronteiras para os interessados. Qualquer pessoa, em qualquer Estado, podia mandar o seu anúncio para a revista. Obviamente, para quem estava em São Paulo ou no Rio de Janeiro as oportunidades eram muito melhores e mais fáceis, como mostram os anúncios publicados na coluna de estreia da edição nº 4. 

Na página nº 16, onde ainda dividia espaço com a amada sessão de cartas, a coluna Rolos & Trocas fez a sua estreia com oito anúncios, sendo cinco de São Paulo, dois do Rio de Janeiro e um do Paraná.

Para a turma do Rio de Janeiro, o Felipe Augusto de Souza estava oferecendo um Dynavision II, com dois controles, uma pistola e oito jogos. Já o Felipe Romeiro de Carvalho queria trocar um Atari com 14 fitas variadas e de boa qualidade por um Master System. 

Dependendo do preço, esse Dynavision II até que é uma boa pedida. Já a oferta de troca do Felipe Romeiro é complicada de aceitar. Em 1991, com o Mega Drive e o Super Nintendo já no mercado, dificilmente alguém que teria Master System gostaria de voltar uma geração ao invés de avançar  para os 16-bit. Será que Felipe conseguiu pegar alguém nessa proposta?

O paraíso paulista

Para o pessoal de São Paulo, as opções eram enormes. Em São José dos Campos, o Marcelo Navarro Costa vendia um Phantom System com adaptador J72 (que fazia cartuchos de japoneses de 60 pinos rodarem em consoles com padrão americano de 72 pinos), uma pistola laser Gun e sete jogos (Mega Man II, Double Dragon II, Robocop, Contra, Predador, Ghostbusters e Crime Busters) por CR$ 100.000,00 (cerca de R$ 3.636,36 na cotação atual).

Tinha gente em São Paulo interessada em comprar também, como era o caso do Cristiano Gomes da Silva, de Arujá. Ele queria pegar um Master System ou um Phantom com dois jogos. Será que o rapaz entrou para o lado da Sega ou da Nintendo nessa época?

Renovação

Bom mesmo era aproveitar os itens que já tinha para renovar a coleção. Por isso, as oportunidades de troca eram, geralmente, as melhores. Nessa edição, o Maurício Ferreira da Costa queria trocar um Atari e um Dactar, ambos com cartuchos e controles, por um Master System ou um Mega Drive. Quem topasse retornar à geração anterior, sairia com dinheiro no bolso, pois o Maurício pagava a diferença.

Outro disposto a pagar a diferença foi o André Okaroara, de São Paulo, que trocava Marksman Shooting & Trap Shooting de Master System por Kendeiden ou Castle of Illusion, ambos de Mega Drive. Essa realmente não era uma boa troca, a não ser que você estivesse mais interessado nos Cr$ 7.000,00 da volta.

Sem maiores exigências, a outra oportunidade de troca vinha do Luiz Carlos da Silva Cunha. O rapaz tinha o primeiro Super Mario Bros., Guerrilheiros Indomáveis (clone de Gotcha! The Sport), Caça Fantasmas e Crime Busters, todos de NES e disponíveis para o rolo e ofertas.

Inusitado

De todos os anúncios publicados na sessão de estreia da coluna Rolos & Trocas, nenhum se destaca mais do um vindo direto de Ponta Grossa/PR. Nele, o Luiz Haroldo F. Ferreira diz que tem interesse em comprar qualquer cartucho Nintendo americano (padrão de 72 pinos de NES) que não esteja rodando mais. Inusitado, não é? Mas afinal, o que será que ele queria com esses cartuchos aparentemente não funcionais.

Podemos especular bastante. Mas algumas opções possíveis são: a) Luiz poderia trabalhar com manutenção de jogos e talvez soubesse consertar os cartuchos; b) Luiz tinha interesse em reutilizar as carcaças dos jogos com outros chips que ele já tinha; c) Luiz queria testar a sorte e ver se o cartucho que não funciona em um console talvez funcionasse no dele.

Oportunidades de negócio no ramo dos videogames não faltavam no comecinho das década de 1990. Muito disso, graças a sessão Rolos & Trocas da revista Videogame e de outras publicações. Essa foi apenas a primeira de muitas páginas dedicadas a esse tipo de negociação num período de aprendizado e expansão dos jogos eletrônicos no Brasil.

Além do mais, alguns negócios feitos nessa época podem ter aproximado jogadores dessas regiões por uma paixão em comum pelos videogames. Vale lembrar que não era tão comum assim as pessoas demonstrarem publicamente o amor e a devoção pelos videogames. Certamente algumas amizades podem ter surgido devido essas compras, vendas e trocas. 

 E se você gostou de relembrar de tudo isso, conta aí pra gente nos comentários se você gostaria de ver mais matérias como essa aqui no Jogo Véio. Enquanto isso, vou procurar o Luiz Haroldo para descobrir o que ele fazia com esses cartuchos de NES 72 pinos que não funcionavam mais. 


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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