Lá se vão mais de cinco anos desde o último jogo 2D da franquia, e quando Sonic Mania chegou em 2017, virou referência do que um game bidimensional do personagem deveria ser. É com esse peso que Sonic Superstars chega para tentar impressionar os fãs do Ouriço Azul. Mas será que ele consegue? Vamos descobrir!
Adeus, pixel art!
Uma das primeiras coisas que diferencia Sonic Superstars de seu antecessor 2D é a escolha por gráficos 3D ao invés de pixel art. E apesar de ser um assunto controverso para muitos fãs, a mudança aqui pode ter sido para melhor, já que os gráficos são bonitos e detalhados o suficiente para fazer os personagens e suas individualidades se destacarem.
Ao contrário de Sonic Frontiers onde há uma disparidade entre o ouriço e o mundo aberto do game, em Sonic Superstars tudo parece fazer parte do mesmo lugar de forma orgânica e agradável. Os cenários são bonitos e as inúmeras rotas disponíveis fazem a exploração através dos atos ser prazerosa, apesar de praticamente não haver recompensas por isso.
A trilha sonora não compromete o clima do game mas também não evolui a ponto de se destacar por si só e acaba tendo pouco impacto durante a experiência. Exceto nos chefes, onde a tensão pode ser presenciada nas faixas. Confira abaixo uma das trilhas do jogo, diretamente do canal oficial do Sonic no YouTube:
Northstar Islands e as oportunidades perdidas
O jogo acontece em Northstar Islands, local inédito para a franquia do ouriço e que está sob ameaça de Eggman. Com a ajuda dos vilões Fang e Trip, o plano é capturar a vida selvagem do local e transformar os animais em badnicks comandados pelo malvado bigodudo.
A escolha de criar um novo mundo para situar a aventura – dispensando a necessidade de reinventar as mesmas fases mais uma vez – poderia ter sido melhor aproveitada e mesmo tendo algumas ideias interessantes, o jogador vai acabar passando por temas já explorados em outros jogos: deserto, pinball, fábrica, fortaleza do Dr. Eggman.
Apesar da história simples, a volta de Fang e a introdução de um novo personagem trazem um pouco de ar fresco para a franquia. Mas assim como a nova localidade, esses personagens também poderiam ter sido explorados de forma mais contundente ao longo do jogo.
O Story Mode, modo principal do game, cria poucas oportunidades para desenvolver a personalidade dos capangas. Havia a expectativa de que eles ocupassem um lugar de destaque, mas no fim servem apenas como pano de fundo, sem gerar grandes interferências no caminho natural das coisas: Sonic atravessar as fases em busca das Esmeraldas do Caos e derrotar Eggman.
Qual sentido de chamar Naoto Ohshima – criador original do design de Sonic e Eggman – para criar um personagem que mal aparece durante a aventura? E por que trazer de volta um vilão que não aparecia desde 1994 para simplesmente ser um lacaio de Eggman?
Após zerar o game, o jogador libera um novo modo chamado Trip’s Story, onde é possível jogar com a personagem. Nesse modo, Trip tem que atravessar todas as fases do Story Mode, que foram modificadas para terem um nível de dificuldade maior. Somente jogando tudo novamente é que podemos ver uma conclusão um pouco mais satisfatória para ela. Então, se você não estiver disposto a encarar essa nova aventura, a lembrança da dupla será somente a de personagens secundários.
Sonic Superstars ainda reserva a surpresa de apresentar mais um modo após a conclusão da história de Trip. Caso o jogador tenha coletado todas as Esmeraldas do Caos, o modo Final Story fica disponível, onde Super Sonic deve enfrentar o vilão Black Dragon, que só faz sentido pra quem assistiu a animação Trio of Trouble. Mais uma vez, o game pouco se esforça para situar o jogador no contexto desta última batalha, que por sinal é a mais difícil e demorada de todas.
As Esmeraldas do Caos e seus novos poderes
Uma das coisas que fica mais evidente no jogo é que o time de desenvolvimento optou por criar zonas com múltiplas rotas, favorecendo a exploração ao invés da velocidade que pode ser alcançada com fases mais lineares. Isso não é necessariamente um problema se pararmos para pensar no primeiro game para o Mega Drive e as versões 8-bit para Master System e lembrarmos que eles são mais cadenciados e o ritmo acelerado fica mesmo para as fases iniciais.
É claro que ao longo dos anos a velocidade se tornou marca registrada do personagem e todos sempre esperam por um gameplay frenético. O problema aqui é que a escolha por vários caminhos alternativos em detrimento da rapidez pouco acrescenta ao jogo. Em alguns Atos podemos encontrar as Fases Especiais que permitem ao jogador encontrar uma Esmeralda do Caos. Fora isso, existem inúmeras Fases Bônus que sempre vão te recompensar com a mesma coisa: medalhas que podem ser gastas para customizar seu avatar no Battle Mode, um dos modos online do game, totalmente desinteressante.
Se o jogador conseguir botar as mãos em uma Esmeralda do Caos durante as Fases Especiais, ele obtém o poder dessa Esmeralda, que é uma das grandes novidades de Sonic Superstars. Cada Esmeralda do Caos possui um poder diferente. São eles:
Avatar: enche a tela de clones do personagem que causam danos a todos os inimigos. Muito útil contra os chefes.
Vision: revela plataformas e trechos invisíveis que podem levar a rotas alternativas ou algum segredo.
Bullet: dispara o personagem pelo ar na direção desejada e serve tanto como ataque como para alcançar locais altos e distantes.
Slow: desacelera o tempo e ajuda a atravessar obstáculos muito rápidos.
Ivy: cria uma planta escalável e direcionável que permite chegar em áreas de difícil acesso.
Water: transforma o personagem em líquido, permitindo que suba cachoeiras e atravesse trechos aquáticos com mais rapidez.
Extra: adiciona um ataque único para cada personagem. Sonic ganha o Homing Attack, Tails o Mini Tornado e Knuckles o Fireball. Já Amy ganha o Hammer Throw e Trip o Bouncing Fireball.
Usar ou não os poderes vai depender do estilo de jogo de cada um e nos trechos onde há algo a ser revelado, o próprio jogo indica qual poder usar. Apesar de nem todos serem extremamente úteis, é uma boa adição que favorece a diversidade na jogatina. Acertar aquele último golpe no chefe usando Avatar ou fugir de morrer afogado usando Water são opções muito bem-vindas.
Paralelamente a isso, temos a individualidade já conhecida dos personagens, onde Tails pode voar com sua cauda, Knuckles consegue planar e escalar pelas paredes e Amy usar o pulo duplo e o martelo. Sonic é o mais veloz de todos com seu Spin Dash e Drop Dash. A grande novidade fica por conta de Trip, que parece combinar as habilidades de vários deles. Ela possui pulo duplo, agarra nas paredes e se transforma em um dragão dourado usando o poder das Esmeraldas.
Os modos multiplayer
Pela primeira vez na franquia, há um modo cooperativo local que permite que até quatro jogadores possam jogar o Story Mode do início ao fim. Um belo pontapé para futuros jogos do ouriço, mas que no momento ainda é um pouco confuso por conta da dificuldade da câmera em acompanhar os personagens de forma satisfatória.
Além do modo cooperativo, o game traz também o Time Attack e o Battle Mode. No Time Attack, o objetivo é terminar o mais rápido possível o cenário e há uma classificação global mostrando os melhores tempos. O problema aqui é que você só pode competir contra a sua própria sombra ao invés de poder desafiar os recordistas e descobrir como eles alcançaram seus tempos.
Por último temos o Battle Mode, que é um modo competitivo para até quatro jogadores locais e oito online. Os adversários se enfrentam em três rounds de partidas que podem ser de quatro tipos diferentes: Racing, Fighting, Star Collect e Survival.
A ideia é boa mas rapidamente cai por terra já que as partidas são entediantes e sem graça. Isso fica ainda pior se pensarmos que as recompensas que conseguimos no Story Mode são para serem usadas nesse modo. Isto é, Sonic Superstars foi construído com a exploração em foco, com os Atos desenvolvidos com múltiplas rotas, Fases Bônus, Fases Especiais e no fim as recompensas são para um modo de jogo à parte.
Vai ficar pra próxima
Falar mal de um jogo do Sonic tem sido fácil, já que a franquia tem uma longa lista de jogos com escolhas questionáveis. Infelizmente, Sonic Superstars está mais perto dessa lista do que gostaríamos que estivesse.
Os gráficos 3D trazem um visual que o distancia de Sonic Mania e marca um novo estilo visual para as aventuras em 2D do ouriço. Os poderes das Esmeraldas do Caos são uma grande adição para o gameplay do game assim como Trip – mesmo que escondida pela falta de oportunidade – também é uma novidade bem-vinda para o rol de personagens.
Infelizmente, Sonic Superstars fez suas escolhas apostando em recompensas para um modo de jogo desinteressante e pouco atraente ao invés de focar mais na história e no desenvolvimento dos personagens, sejam eles novos ou velhos conhecidos.
Esse review foi feito a partir da versão de PC (Steam). A key nos foi gentilmente fornecida pela SEGA.