Era o ano de 2002, a internet ganhava cada vez mais força como meio de informação, ao contrário das revistas de videogame, que gradativamente perdiam a sua função como principal fonte de novidades sobre o mundo do entretenimento eletrônicos para os jogadores brasileiros.
Foi nessa época que surgiu a revista Game Over, comandada por Claudio Balbino e o mesmo time que consagrou a revista UltraJovem como uma das principais publicações sobre desenhos, animes e tokusatsus do Brasil. Dessa vez falando sobre games, a equipe caprichou na edição de estréia, com destaque para os textos sobre Luigi’s Mansion, Star Wars Roque Squadron 2, Halo: Combat Evolved e Final Fantasy X, jogo que estampou a capa da revista.
No tempo das revistas
Sem a pretensão de se aprofundar em notícias, a revista separou apenas duas páginas para comentar as novidades da época. Na primeira página, a edição destacou: o lançamento de Klonoa Beach Volleyball para o primeiro PlayStation; o curioso desenvolvimento da impressora Tapis MPR-505 para o PlayStation 2; o lançamento de um adaptador de controle de PlayStation para o Game Cube custando U$ 10,00; e o relançamento de clássicos da Capcom, como Mega Man X5 e Dino Crisis 2, para PCs.
A notícia mais curiosa, porém, estava na página seguinte, ao lado do lançamento do site oficial brasileiro do Game Cube e a chegada de Medal of Honor e Phantasy Star para PC. O título dizia:
SONY VENCE O PRIMEIRO ROUND CONTRA OS “MOD-CHIPS”.
Em 2002, o PlayStation 2 tinha apenas dois anos no mercado, mas já dava sinais claros de que repetiria a história de sucesso de seu antecessor. O que a Sony talvez não esperasse, era a velocidade com que os hackers começariam a produzir os chips de desbloqueio de seu novo console.
Segundo a Game Over, “A Sony venceu a ação legal movida contra os fabricantes do chip Messiah (chip que eliminava as proteções territoriais e permitia o uso de CDs e DVDs piratas no PlayStation 2). Na Inglaterra, o juiz Jacob Dean determinou que a Channel Technology, fabricante do Messiah, deve indenizar a Sony em 60 mil libras.”
Nas ondas da pirataria
Na época do julgamento citado pela Game Over, o chip de desbloqueio Messiah já era facilmente encontrado na Europa através do mercado alternativo. Dezenas, talvez milhares de PlayStation 2 já rodavam discos piratas através dessa modificação, para o terror da Sony. Contudo, como dizia a notícia, a Sony ganharia essa primeira batalha. Mas não a guerra.
Seguindo o que dizia a Game Over, “O fato do Messiah abre precedentes para o surgimento de uma onda de pirataria de jogos e DVDs no console da Sony. Aqui, no Brasil, esse chip não chegou, mas qualquer pessoa com um mínimo de inteligência sabe que isso não vai impedir a pirataria do PlayStation 2.”.
A Game Over estava certa, assim como o juiz inglês. O Messiah não só abriu precedentes, como pouco parece ter se importado com a derrota nos tribunais. Atualizações do dispositivo continuavam sendo produzidas e vendidos, tanto na Europa quanto no resto do mundo, inclusive no Brasil.
Batalha desonesta
Em uma rápida busca nos fóruns online, já é possível encontrar tutoriais de como desbloquear o PlayStation 2 com o Messiah desde o final de 2002. Nessa postagem de março de 2003, por exemplo, o usuário Caspper pergunta:”Gostaria de saber da galera q tem PLAy 2 qual o melhor chip p/ desbloquar um PLAY 2, pq cada cara vende um e fala q o seu eh melhor, O magik 3 eh mais barato, mas falam q ele dura no max 1 ano, o gameshark eu nao sei, e o messiah ta muito caro aki em Curitiba tao pedindo 500 pila pra destravar com ele”.
Mesmo com preço elevado do desbloqueio nesses primeiros anos de vida do Play 2, a onda de pirataria foi gigantesca, assim como no PlayStation 1. Novos chips, cada vez mais modernos, continuaram surgindo, como Actel Thunder, Libertador, Crystal, Matrix e até versões falsificadas dos próprios chips de desbloqueio, transformando o PlayStation 2 em um dos consoles mais piratiados da história, com jogos sendo vendidos em feiras e por vendedores ambulantes aos finais de semana.
Como a Game Over comentou, essa primeira vitória da Sony não impediria o avanço da pirataria. O caso Messiah foi apenas uma pequena vitória durante a guerra travada contra os mod-chips, responsáveis por a redução do número de venda de vários jogos para o console, ao passo que devem ter sido determinantes para a venda de milhares de consoles. Uma relação difícil de explicar, não é?
E você, Véio leitor? Lembra dessa época? Tem alguma recordação dessa onda de desbloqueios do PlayStation 2? Conta aí para a gente no comentários.