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Final Fantasy Tactics Advance (GBA) e a distorção da realidade

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Se pudesse remover todos os espinhos de seu caminho, manter ao seu lado somente o que lhe cativa e trazer de volta todos aqueles que já partiram sem sua aprovação, será que você encontraria a felicidade? Há quem diga que sim. Porém, viver na fantasia em busca das peças que faltam em sua alma incompleta não pode ser encarado como a grande solução dos problemas da humanidade. É com este dilema que Marche e seus amigos iniciam suas jornadas em Final Fantasy Tactics Advance.

O mundo real

No início deste clássico da Square Enix, os personagens se encontram em uma escola na fria e nevosa cidade de Ivalice. Em uma das aulas dedicadas para a prática de esportes, os personagens principais sofrem com o abuso verbal e o preconceito (o tão famoso bullying da atualidade) dos outros alunos por suas diferentes características.

Ritz é uma garota de forte temperamento que não suporta discursos opressivos e tenta defender o franzino Mewt, que é o alvo principal dos valentões da escola. Ela também vira alvo quando os garotos dizem que todos sabem que ela pinta os cabelos, pois são naturalmente brancos e fazem-na parecer uma senhora de idade. Marche é apenas o novato da turma, mas não fica de fora da zoação.

Após uma amistosa guerra de bolas de neve, onde Mewt é ferido por uma pedra escondida em uma delas, as três vítimas se tornam amigos e decidem passar a tarde juntos, apreciando um livro de ficção recém comprado por Mewt. Para completar o time, eles contam com a presença do pequeno Doned, o irmão mais novo de Marche, que possui uma deficiência física de nascença e se locomove com o auxílio de uma cadeira de rodas.

O mundo da fantasia

Qual criança que nunca quis fugir da realidade e viver em um mundo repleto de criaturas mágicas e armas medievais? Pode-se viver como um virtuoso herói a serviço de seu povo, um destemido vilão em busca de poder ou até mesmo um anônimo caçador de recompensas em busca de tesouros que o tempo transformou em lendas.

O livro que as crianças deste jogo lêem mostra exatamente as virtudes que a fantasia poderia proporcionar-lhes. Quando o destino reserva-lhe o papel de uma criança infeliz em um mundo acinzentado, sonhar com os diferentes caminhos que a vida poderia seguir se torna extremamente prazeroso.

Ao fim do dia, Ivalice se transforma em um imenso reino desértico e os sonhos destes heróis se tornam realidade. Marche acorda em um mundo desconhecido cercado de criaturas estranhas. Sem entender o que se passa, ele conta com a ajuda do moogle Montblanc para manter-se longe de encrencas. Os dois se tornam companheiros inseparáveis e começam sua jornada para desbravar as dezenas de cidades de Ivalice.

Jogabilidade

Para quem já passou horas lutando na Guerra do Leões em Final Fantasy Tactics (que também se passa em Ivalice, mas em uma época diferente), lançado para o PlayStation em 1997, a mecânica do jogo não é muito diferente. Você controla um determinado número de personagens em um campo de batalha tático. Além de se preocupar em sobreviver e derrotar todos os inimigos, você tem que se locomover a fim de se posicionar da melhor maneira possível para utilizar seus ataque e habilidades. O terreno muitas vezes oferece diferentes obstáculos, como vários níveis de altura, rios, lava e até mesmo penhascos.

Quando o jogador não está em luta, pode definir as profissões de seus personagens, suas habilidades, comprar equipamentos, buscar novas missões e até enfrentar outros clãs para ganhar pontos e conquistar fama.

Diferentes raças em equilíbrio

Uma característica que marca a exclusividade deste game em comparação com o seu pai do PS1 é a presença de diferentes raças de personagens. Cada raça possui profissões exclusivas que devem ser analisadas cuidadosamente ao se escolher suas táticas de batalhas. As raças presentes neste jogo são:

  • Humano dispensa apresentações (acredito que todos saibam o que é um humano). Possuem foco em habilidades de combate corpo a corpo, mas também podem ser úteis como magos;
  • Profissões primárias: soldado, ladrão, arqueiro, mago negro e mago branco;
  • Profissões secundárias: paladino, lutador, ninja, caçador, mago azul e ilusionista;
  • Moogle uma famosa criatura branca e extremamente fofinha que parece a mistura de um coelho com um gato. Está presente em dezenas de outros jogos da franquia Final Fantasy. É extremamente eficiente com o uso de armas mais leves e magia;
  • Profissões primárias: animista, ladrão e mago negro;
  • Profissões secundárias: atirador, cavaleiro Mog (?), malabarista, mago do tempo e uma classe nomeada como Gadgeteer, que dificilmente poderá ser traduzida (mas seria algo do tipo Inspetor Bugiganga, que faz até uma frigideira virar arma);
  • Bangaa um tipo de lagarto bípede. Nunca cometa o erro de chamar um Bangaa de lagarto (eles não gostam). Lagarto é lagarto, Bangaa é Bangaa! Seus maiores poderes estão no combate corpo a corpo;
  • Profissões primárias: guerreiro e monge branco (só isso?);
  • Profissões secundárias: Dragoon, defensor, gladiador, bispo e templário;
  • Nu mou – algo parecido com um cachorro. Abuse da magia com este tipo de personagem;
  • Profissões primárias: domador de feras, mago branco e mago negro;
  • Profissões secundárias: morfador (Power Rangers!!!! – a piada é inevitável), sábio, ilusionista, alquimista e mago do tempo;
  • Viera uma garota com características humanas e orelhas de coelho. São praticamente criaturas híbridas, facilitando o combate em todas as ocasiões;
  • Profissões primárias: espadachim, mago branco e arqueiro;
  • Profissões secundárias: mago vermelho, elementalista, atirador de elite, assassino e evocador.

Procure testar todas as profissões a fim de detectar quais se adaptam melhor ao seu estilo de jogo.

Leis – importantes ferramentas para a manutenção da vida

Voltando ao enredo do jogo, os personagens e os diferentes clãs buscam seu espaço em Ivalice através do combate. Quando um duelo se iniciar, um juiz montado em um chocobo aparece e impõe algumas regras que podem ser penalizadas ou premiadas. Na prática, estas regras são apenas para dificultar a vida dos jogadores. O bom é que após um certo ponto do jogo, pode-se manipular tais regras usando cartas mágicas. O jogador que infringir alguma lei levará uma advertência (cartão amarelo no jogo – sério, é um cartão amarelo mesmo!!!). Infringindo a lei uma segunda vez na mesma batalha, irá para a cadeia automaticamente (cartão vermelho nele, seu juiz!!). Matar um oponente infringindo uma lei é cadeia direto, sem advertência!

Na história do jogo, as leis são uma burocracia que impede os combates de serem mais intensos. Entretanto, um importante ponto é levantado por Montblanc: as leis impedem que alguém morra em combate. Enquanto as leis estiverem presentes em sua batalha, os jogadores apenas ficarão inconscientes ao término de seus pontos de vida. Em locais onde não há leis (Jagds), os personagens morrem. Portanto, tome cuidado para não deixá-los perder todo o HP.

Um dos personagens mais icônicos que você irá enfrentar é o poderoso juiz mestre Cid, pai de Mewt.

A utopia de um príncipe e a realidade

Neste mundo da fantasia, não há mais valentões o incomodando. Todos os moradores de Ivalice o respeitam. Ele tem o poder de criar e aplicar quaisquer leis desejadas. Sua mãe ainda está viva e é ninguém menos que a rainha Remedi. Seu pai é o juiz mais prestigiado de todos os cantos de seu reino. Estamos falando do príncipe Mewt e sua vida utópica.

Nada poderia atrapalhar seu eterno deleite, a não ser seu antigo amigo Marche e seus planos de voltar para casa. Por mais que você deseje que a fantasia não acabe, é necessário saber onde é o seu lugar. Marche é o único do antigo grupo de amigos que aparentemente sabe que a realidade é dura, mas seu lugar é na fria Ivalice com seu irmão debilitado e sua mãe.

Sabendo o que fazer para voltar, Marche decide ir até as últimas consequências. Ritz encontra seu amigo durante a jornada e se mostra neutra – não irá ajudá-lo, mas também não irá pará-lo. Enquanto isso, o príncipe faz de tudo para que o desejo de Marche não se concretize, pois ele não pode perder todos os seus brinquedos favoritos neste mundo. Assim, as leis são fortalecidas cada vez mais e a caça pelos que se opõem à família real se torna mais intensa, não impedindo que nosso principal herói avance com seus objetivos.

O fim desta história não poderia ser outro. Contudo, é melhor que você não obtenha spoilers e veja com seus próprios olhos o que acontecerá.

Uma lição para a vida

Final Fantasy Tactics Advance não é apenas um RPG de turnos com um sistema de batalhas criativo e história cativante – é também uma inspiração para sua vida. Na próxima vez que tentar fugir de seus problemas como Mewt, pense em como encarar a realidade de cabeça erguida, como Marche.

Com uma visão mais empática do que poderá ser feito para melhorar o ambiente em que você vive, não será necessário manipular as vidas que o circundam e os momentos de felicidade poderão ser vividos intensamente – na realidade. Viva o aqui e agora! 

E ainda há quem diga que os jogos não nos ensinam absolutamente nada!


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Lucas Rodrigues

Gamer desde que tem memórias de sua infância, a paixão pelos videogames iniciou-se no Mega Drive e teve seu ápice no PS1 com os JRPGs (a franquia Final Fantasy foi a protagonista). Trabalha como analista de sistemas e designer de jogos. Possui mestrado em Imagem e Som em andamento pela Universidade Federal de São Carlos, onde desenvolve pesquisas sobre o mercado independente de jogos brasileiros. Sempre escolheu o Squirtle como pokémon inicial e possui alinhamento Neutral Good.

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