Com novidades, ajustes, surpresas e refinamento nas mecânicas vistas nos seus antecessores, Mega Man 3 chegou ao NES durante um momento de transição entre gerações, mostrando que o 8-bit da Nintendo ainda tinha lenha pra queimar.
Sem perder a linha
Com o sucesso de Mega Man 2, considerado por muitos na mídia especializada como um dos melhores jogos do NES — e vendendo milhões de cópias —, a Capcom, obviamente, não perderia a chance de dar sequência a sua mais nova franquia. E ela veio no final de 1990.
Estreando no Japão em setembro de 1990 e alguns meses depois nas Américas, Mega Man 3 chegou às lojas com a difícil missão de manter o alto nível de seu antecessor. Essa tensão, aliás, foi agravada pelo conturbado processo de criação do game.
Segundo Keiji Inafune, um dos artistas por trás do título, a equipe foi forçada a entregar Mega Man 3 antes do tempo, deixando muita coisa planejada de fora e até inacabada.
Muitos membros do time, inclusive, saíram durante o processo de criação do jogo, como o planejador principal e até a compositora Harumi Fujita (que foi mãe e precisou se ausentar). Todos os problemas internos eram ainda duplicados pela pressão da Capcom em lançar o jogo o quanto antes, o que fez com que Inafune considerasse Mega Man 3 como o seu jogo menos favorito da série.
Mesmo com tantos problemas internos, Mega Man 3 foi lançado direto no topo da lista dos jogos mais vendidos da plataforma, além de ser aclamado por grande parte da mídia especializada. No Brasil, por exemplo, Mega Man 3 foi capa da revista Videogame #02, lançada em abril de 1991. Nessa edição, o game recebeu 5 estrelas (nota máxima).
Como nos velhos tempos
Em Mega Man 3, descobrimos que o Dr. Wily se arrependeu das suas maldades anteriores e, após ser derrotado duas vezes, passa a trabalhar com o Dr. Light na criação de um robô chamado Gamma.
Essa criação em conjunto entre os dois brilhantes cientistas existiria para trazer paz para o mundo. Mas algo sai de controle quando alguns robôs que mineravam os cristais necessários para a finalização de Gamma se rebelaram e fugiram com os oito cristais do poder.
Com a situação fora de controle. Mega Man é convocado para recuperar os cristais. Mas dessa vez ele não está sozinho nessa jornada. Como fiel companheiro, o Blue Bomber agora tem o auxílio do cãozinho-robô Rush.
Novidade canina
A Capcom não quis inventar moda em Mega Man 3. Mais uma vez podemos escolher livremente uma das oito fases disponíveis, vencer o chefe e usar a arma adquirida para derrotar inimigos e outros chefes.
Saber como usar as novas habilidades adquiridas continua sendo uma experiência divertida e prazerosa aqui. Mas ela ganhou novas possibilidades e formas com a inserção de duas novidades muito bem-vindas.
A primeira delas é a “rasteira” do personagem. Pressionando para baixo no direcional junto com o botão de pulo, Mega Man desliza pelo cenário, criando muitas possibilidades para desviar de inimigos e passar por trechos novos de plataforma. É impressionante como apenas um movimento muda bastante a forma de encarar os estágios, tornando tudo ainda mais rápido e frenético.
A segunda grande novidade é a utilização das habilidades fornecidas por Rush durante o jogo. Com ajuda do seu cão-robô, Mega Man pode saltar muito mais alto com o Rush Coil; atravessar trechos debaixo da água com o Rush Marine; e voar em várias direções com Rush Jet.
Cada uma dessas habilidades ajuda bastante no momento de superar plataformas e, principalmente, encontrar vidas extra, E-Tanks e outros power-ups essenciais para a conclusão da aventura. Conclusão essa que exige muita habilidade do jogador.
Outra novidade que fez bastante sucesso entre fãs é o novo robô que surge durante as fases. Chamado inicialmente de Break Man, mais tarde descobrimos se tratar de Proto Man.
Durante várias fases, o estiloso robô de cachecol surge como um mini-chefe para desafiar Mega Man. Cada novo encontro é precedido por uma linda canção. E para completar, só é possível prosseguir no estágio após derrotá-lo. No final do game, contudo, descobrimos que Proto Man é, na verdade, o irmão mais velho do nosso herói.
Sofrimento e mais sofrimento
Assim como os títulos anteriores, Mega Man 3 não deixa o jogador respirar calmamente. As fases possuem um excelente level design, com trechos de plataforma dificílimos, inimigos em todos os cantos e uma ótima variedade de desafio, fazendo com que o jogador use bem as habilidades do personagem e o próprio reflexo para superar o que surge pela frente.
A diversidade de cenários, fases, inimigos e chefes nesse terceiro jogo é realmente louvável. Mega Man 3 é ainda maior do que Mega Man 2. Além de enfrentar as oito fases iniciais e seus chefes (Needle Man, Magnet Man, Gemini Man, Hard Man, Top Man, Snake Man, Spark Man e Shadow Man), o jogo possuía uma sequência nova de desafios, composta por mais quatro fases remodeladas, onde enfrentamos todos os oito robôs de Mega Man 2 reconstruídos e ainda mais difíceis, para recuperar de vez os cristais.
Com os cristais de volta ao laboratório do Dr. Light após o confronto contra os velhos conhecidos, o Dr. Wily rouba Gamma e foge para a sua fortaleza, traindo todos e se tornando o verdadeiro vilão que todos esperavam. É nesse momento que o jogador se encaminha para o confronto final depois de mais quatro fases extremamente difíceis até o duelo contra o chefão final.
Certamente você morrerá incontáveis vezes até descobrir as melhores maneiras de avançar no jogo. Ainda bem que o sistema de passwords está presente para permitir continuar o jogo de onde parou.
Consagração
Vendendo mais de 1 milhão de cópias, Mega Man 3 foi mais um grande sucesso da Capcom durante a geração 8-bit. Mesmo com o Mega Drive há quase dois anos no mercado e o Super Nintendo chegando para suceder o NES, o game foi um grande atrativo para os jogadores que queriam se desafiar mais uma vez no controle de Mega Man.
Com um jogo mais longo, mais bonito (destaque para a variedade de objetos, cores e tipos de plataforma) e com novidades que conseguiram agregar à franquia, o título é considerado como um dos melhores entre os seis lançados para o NES.
Porém, queixas quanto ao desgaste da fórmula também já surgiam nesse período. A falta de inovação era umas das críticas da mídia especializada junto ao excesso de dificuldade.
Saber quais dos dois jogos é o melhor, Mega Man 2 ou Mega Man 3, é uma tarefa bastante subjetiva. Contudo, jogar essa incrível obra da Capcom é uma missão quase obrigatória para os fãs de jogos clássicos de plataforma.
Obrigatória e acessível, pois Mega Man 3 está disponível em diversas coletâneas em quase todas as plataformas possíveis, inclusive as mais novas. Esse é um daqueles clássicos atemporais que nunca é demais jogar e rejogar.
Revista Jogo Véio Nº 2
Quer saber mais sobre a origem do personagem? Mega Man foi capa da Revista Jogo Véio Nº 2, que você encontra lá na Loja do Véio.