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O desenvolvimento de jogos possui etapas extremamente complicadas que geralmente são executadas por diferentes profissionais com habilidades e características divergentes. Consequentemente, é necessário certificar-se a cada momento que o jogo em fase de produção não apresente falhas.

Como fazer isso? Do melhor jeito possível: jogando!

“Não há nada mais divertido do que jogar”, você pode pensar, caro leitor. Assim como Tommy Tallarico, que estreou sua carreira na tão sonhada indústria de videogames aos 21 anos como tester na Virgin Games, podemos imaginar que este é o melhor emprego do mundo. Tudo o que você deve fazer ao longo do dia é jogar a fim de procurar falhas e reportá-las ao time de desenvolvimento. Comandos que não obedecem ao jogador, pontos do mapa onde certos eventos não deveriam ocorrer, sprites e trilha sonora que falham constantemente e tantas bizarrices que acontecem quando estamos com o controle nas mãos devem ser apontadas. Entretanto, mesmo o seu título favorito pode se tornar uma pedra no sapato quando é necessário jogá-lo dezenas de vezes durante vários dias (ou meses) consecutivos.

Inicialmente parece ser uma tarefa extremamente fácil, mas, pegando como referência Mortal Kombat, imagine que o objetivo do dia é testar a eficiência da I.A. contra Shang Tsung no modo mais difícil. Após uma longa jogatina contra os outros lutadores, o tester detecta que é necessário aumentar a dificuldade da batalha. Mudanças são feitas e outro teste é solicitado. Dessa vez, o velhote está com o cão no couro e decidem que a batalha deve ser mais fácil. Após 15 outros testes, o pobre funcionário não aguenta mais ver Mortal Kombat e sai distribuindo fatalities entre os membros da equipe.

O que é debug mode?

Imagine só ter que gastar longas horas na frente de uma TV apenas para checar se parte do jogo está funcionando. Seria extremamente exaustivo, como exemplificamos anteriormente.

Para facilitar tal trabalho, antigos programadores criaram alguns atalhos para que os testers cheguem a qualquer ponto do jogo ou executem alguma tarefa rapidamente. O Debug Mode funciona como uma espécie de “trapaça” aos olhos dos jogadores.

Lembra do “truque das mil faces” do Sonic? Daquele menu do Aladdin que permite selecionar algumas opções maliciosas? E as opções escondidas no Mortal Kombat II que permitiam matar o oponente com apenas um golpe? Seleção de fases?

Pois é, amigos. Esses códigos não foram feitos pensando naquele seu amigo que gosta de moleza quando está jogando. A maior parte deles foi criada para facilitar a vida do cara que vai testar o jogo.

Mas se estas opções foram criadas apenas para testes, por que mantê-las na versão final do jogo?

Não podemos afirmar ao certo, mas alguns títulos podem tê-las deixado como extras para chamar a atenção dos jogadores, enquanto outros podem ter sido simplesmente esquecidas. Tudo o que podemos afirmar é que elas são ótimos meios de explorar mais recursos do que o jogo convencionalmente mostraria aos olhos de um mero mortal que deseja divertir-se por alguns instantes.

De onde surgiu?

Debugar significa procurar por falhas ou mal-funcionamento em algo, especialmente quando se trata de um software ou equipamento de hardware. O nome surgiu literalmente da palavra inseto em inglês (bug) e tem sido utilizado por profissionais da engenharia desde aproximadamente 1870, que ao longo dos anos sempre tiveram trabalho removendo insetos de suas invenções.

Na história da computação, os bugs ficaram realmente famosos a partir de um acontecimento relatado em 9 de setembro de 1947 pela cientista Grace Hopper. Os primeiros computadores utilizavam conjuntos de válvulas em salas extremamente grandes e aconchegantes para gerar combinações que eram atribuídas a caracteres. Essas válvulas dissipavam calor, e todos nós sabemos o que acontece quando você deixa uma lâmpada acesa dando sopa: aparecem mariposas, besouros, borboletas e todo tipo de inseto para bater a cabeça freneticamente no objeto exotérmico.

Nesse famoso caso, uma mariposa foi encontrada em um dos relés, causando mal-funcionamento ao computador. Grace relatou o ocorrido em seu diário, que pode ser encontrado no Smithsonian National Museum of American History.

Hoje em dia, até mesmo quando a cabeça daquele colega lerdo começa a falhar utilizamos a expressão “deu bug”.

Onde encontrar?

A partir daqui, caros véios, procuraremos por jogos onde vocês poderão encontrar comandos que permitam chegar a certos pontos rapidamente e testar dezenas de funções durante o gameplay sem se preocupar em ter que ficar um bom tempo passando fases do modo convencional. Com isso, poderemos estudar melhor como as interfaces de alguns jogos se comportam.

Quer saber um pouco mais sobre isso? Confira alguns jogos que lhe oferecem opções de debug:

Quer testar alguns desses comandos? Utilize o debug mode de Sonic the Hedgehog para Mega Drive. Basta fazer a combinação cima,C, baixo, C, esquerda, C, direita e C na tela inicial, segurar o botão A e apertar Start. Brinque à vontade com as novas opções de navegação. Você poderá alcançar qualquer ponto do mapa e notará algumas coisas estranhas durante o gameplay, como alguns números estranhos no lugar do score e do marcador de tempo.

Contudo, não entraremos em detalhes nesse momento. Deixaremos isso como assunto para um próximo episódio.

O mestre debugger

Para dominar a arte de criar jogos, é necessário conhecer muito bem como eles se comportam e testá-los minuciosamente. Você descobrirá coisas fantásticas que passam despercebidas aos olhos de um jogador convencional.

Conhece algum jogo que possui debug mode (ou debug menu)? Compartilhe a informação com a gente nos comentários que ele pode virar matéria nos próximos episódios, além de poder ajudar outros players interessados no assunto.

Quer aprender a fazer bons jogos? Está na hora de começar a debugar o mundo!


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Lucas Rodrigues

Gamer desde que tem memórias de sua infância, a paixão pelos videogames iniciou-se no Mega Drive e teve seu ápice no PS1 com os JRPGs (a franquia Final Fantasy foi a protagonista). Trabalha como analista de sistemas e designer de jogos. Possui mestrado em Imagem e Som em andamento pela Universidade Federal de São Carlos, onde desenvolve pesquisas sobre o mercado independente de jogos brasileiros. Sempre escolheu o Squirtle como pokémon inicial e possui alinhamento Neutral Good.

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