Pesquisar
Close this search box.

Tec Toy: Visita à fábrica em Manaus feita pela revista Videogame

compartilhe!

Você sabe como eram fabricados os jogos e consoles da Tec Toy no Brasil, no comecinho da década de 1990? Para descobrir como funcionava esse processo inovador, voltamos até julho de 1991 para saber o que a revista Videogame #05 publicou sobre esse momento que marcou a história dos jogos eletrônicos no Brasil. 

A força da Sega e da Tec Toy

Quando a quinta edição da revista Videogame chegou às bancas, em julho de 1991, o Mega Drive já era um dos consoles mais populares do país. Muito disso se deve a atuação da Tec Toy, sendo a representante oficial da casa do Sonic em terras brasileiras.

Por aqui, a Tec Toy já havia lançado o Master System oficialmente em 1989. Nesse ano, por exemplo, o faturamento da empresa foi de cerca de 66 milhões de dólares, segundo matéria publicada em dezembro de 1989 no jornal O Estado de São Paulo. Desse valor, mais da metade vinha do 8-bit da Sega. Os números se mantiveram altos em dezembro de 1990, quando o Mega Drive foi lançado.

Com uma campanha avassaladora de marketing, o ano de 1991 foi determinante para a consagração da Tec Toy como uma das empresas mais importantes do país. E para isso, ela investiu na divulgação dos seus produtos e até em uma aproximação maior com o seu consumidor. Entre as diferentes linhas de atuação, estava a parceria direta com as principais revistas de videogame da época.

Abrindo as portas

Ao lado do Natal, as férias do meio do ano são um dos momentos mais importantes para a indústria dos games. Foi justamente nessa época que a Sega lançou Sonic The Hedgehog, sua maior aposta para lidar com o Super Nintendo e Super Mario World. E, como era de se esperar, o ouriço logo estampou as capas das revistas brasileiras, como a da Videogame #05, de julho de 1991.

A Tec Toy aproveitou o bom momento da Sega e não mediu esforços para divulgar os seus produtos. Nessa edição da Videogame, a empresa, além de anunciar uma promoção que dava três Mega Drive e 27 camisetas, abriu as portas da sua fábrica em Manaus/AM para mostrar ao jogador brasileiro que a Tec Toy era a Sega no Brasil e que tudo era feito com muita qualidade e capricho. 

O caminho dos pixels

Diferente da maioria dos países que consumiam videogame na época, no Brasil, devido a parceria da Tec Toy com a Sega, parte da produção/montagem dos jogos e consoles era feita por aqui mesmo. Contando, inclusive, com peça e componentes nacionais.

Essa é uma característica única do nosso mercado, que mereceu matéria nas páginas da Videogame. Por isso, a revista enviou o jornalista Mário Fittipaldi até Manaus para conferir de perto o processo. Veja como funcionava.

Tudo começa com o chip. Segundo a Videogame, “é nele que estão gravadas as informações dos jogos, no caso dos cartuchos, e as instruções para dar ação a esses jogos, no caso do console”. Nos jogos da Tec Toy, os chips não eram produzidos no Brasil, sendo importados do Japão. Mas toda a montagem era feita em Manaus, da seguinte forma:

Ligação dos componentes

Para transformar todas aquelas “pecinhas” que compõem a parte interna dos jogos e consoles, é preciso montar e encaixar de tudo. De um lado ficavam os componentes, organizados e enfileirados, e de outro filetes de cobre. Cada operário colocava na placa uma parte dos componentes, até que saia pronta e completa no final do processo. 

Essa montagem era feita na fábrica da Evadin Componentes, uma empresa que atua na Zona Franca de Manaus desde 1967, sendo uma das mais qualificadas do Brasil no ramo. Era ainda na Evadin que acontecia o segundo passo do processo de produção dos produtos da Tec Toy: a solda.

Solda nas placas

Com os componentes montados nas placas, era preciso soldar tudo para que não ficassem soltos. Esse processo era feito por uma máquina, da seguinte forma, segundo a Videogame: “a placa é colocada na máquina e passa então por um tanque com solda derretida, que vai aderir justamente nos filetes de cobre.”

Todo esse processo de montagem era feito de forma manual, com auxílio de algumas máquinas. Mas segundo a matéria da Videogame, um método mais prático e automático já estava sendo implantado na Evadin, que consistia em duas máquinas trabalhando em conjunto. 

Segundo a matéria, “uma delas vai organizar todos os componentes em uma tira, já na ordem certa em que eles devem ser colocados na placa. E a outra pega essa tira e monta todos eles, como se fosse um grampeador gigante“. A mudança, aliás, foi apressada se adaptar a chegada do Game Gear, que contava com peças bem pequenas para montagem manual.

Com a placa completinha e funcional — depois de uma bateria eletrônica de testes feitos por computadores —, a Evedin enviava as peças para a fábrica da Tec Toy, que seguia com o terceiro passo do processo: o acabamento.

Acabamento

Com as placas montadas, a Evadin enviava tudo para a Tec Toy. Na fábrica da empresa em Manaus, os funcionários, em um linha de montagem, encaixam as peças.

No caso dos consoles, a placa era encaixada no gabinete e recebia as soldas finais que ligavam ao transformador, ao controle e aos interruptores. Com o gabinete fechado, eram colocados os adesivos. No caso dos cartuchos, o funcionário colocava a placa na embalagem do jogo com a label.

Com tudo pronto, os consoles e jogos eram testados mais uma vez. Se tudo estivesse em ordem, eram colocados nas caixas, lacrados, e enviados para as lojas. E das lojas, os jogos da Tec Toy chegavam até nós, em todos os cantos do Brasil, onde estávamos prontos para embarcar nas mais fantásticas aventuras virtuais.

Tec Toy de Portas abertas

A Videogame, contudo, não foi a única revista a visitar a Tec Toy em Manaus. A Ação Games também foi até a linha de montagem da empresa para saber como os jogos e consoles da Sega se transformavam naqueles objetos dos nossos sonhos. A matéria dessa visita foi publicada na edição número 4, de agosto de 1991.

Aliás, você sabia que a Ação Games teve uma versão argentina? Nós já falamos sobre isso e você pode ler clicando aqui.

Entre os detalhes que a Videogame não viu, a Ação Games descreveu até a temperatura da solda, que era de 250º C. Além disso, a revista chamou a atenção para detalhes importantes, como os testes nas placas feitos por computadores.

Cada placa passava por uma série de testes. Caso algum problema fosse detectado, a placa era enviada para um técnico que tentava encontrar o erro e consertava quando possível. Até os controles passavam por uma máquina para comprovar o seu funcionamento.

Mercado único

A parceria entre a Tec Toy e a Sega foi realmente marcante para o mercado de jogos eletrônicos no Brasil. Por aqui, tivemos a oportunidade de vivenciar intensamente os anos de ouro dos videogames, recebendo propagandas localizadas, jogos com manuais e caixas no nosso idioma, jogos nacionais e até montar os próprios consoles e jogos, empregando uma enorme quantidade de pessoas.

Para se ter ideia da magnitude disso tudo na época, basta ver que, mesmo hoje, não é tarefa fácil contar com uma linha de montagem de consoles no nosso país. E a Tec Toy enfrentou os desafios dessa logística complicada e fez história no nosso país, como relembramos nessa breve visita às páginas das antigas revistas de videogame. 


E aí, curtiu esse post? Se inscreva no nosso Canal no WhatsApp e fique por dentro das novidades sobre games e animes, além de conferir conteúdos exclusivos do Jogo Véio.

Picture of Ítalo Chianca

Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

Veja também

Espaço da Veiarada