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Quem perder, paga

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Remanescente da época de ouro dos fliperamas, quando jogadores se desafiavam pela glória e o status de melhor gamer do bairro, as partidas valendo o pagamento do tempo gasto em jogo, ou o famoso quem perder, paga, foram uma das maiores febres das locadoras de videogame enquanto esses templos da diversão reinaram no Brasil.

Foram mais de duas décadas de desafios diários, rixas, rivalidades e muita emoção. A cada nova geração, um novo clássico surgia para acirrar os ânimos dos jogadores que não perdiam a chance de “provar o seu valor” e jogar umas horinhas às custas do amigos.

Bate uma saudade dessa época, não é? Se você parar só um pouquinho para lembrar dá até para ouvir a galera gritando de emoção depois de uma jogada inacreditável. Ouviu? Então continue lendo, pois a nostalgia está só começando.

Do tempo das fichas

Em uma época em que era preciso frequentar bares para jogar videogame (sim, você está velho de verdade), a garotada não perdia a chance de desafiar um amigo, um colega de escola ou até o valentão do bairro em um partida de Street Fighter II. Bastava colocar uma ficha na máquina que o seu amigo estava jogando para a tensão tomar conta do recinto.

Embora jogar sozinho fosse bastante divertido nos fliperamas, principalmente se você buscava eternizar as suas iniciais na máquina, uma disputa acirrada entre dois jogadores era o que fazia desses espaços um verdadeiro centro de diversão e encontros.

Nos fliperamas, a disputa por fichas ficava por conta, quase sempre, dos jogos de luta. Desde o já citado SFII, passando pelas séries The King of Fighters e Tekken, até o alucinante Marvel x Capcom, a galera fazia uma festa quando uma partida de dois iniciava, com direito a comentários, xingamentos, gritos, lágrimas e tudo mais.

Esses contras travados em bares marcaram toda uma geração e seguiram firmes paras as locadoras, onde adquiriram um fator extra: a aposta.

Emoção pra valer

Das disputas por fichas e glória nos fliperamas, os contras entre jogadores foram parar no conforto das locadoras de videogame. Nelas, o prêmio em disputa era o pagamento do tempo gasto durante o duelo. Esse tempo podia variar de apenas uma partida, o tempo gasto em uma melhor de três, ou um tempo pré-estabelecido antes da disputa. O derrotado, claro, pagava a conta.

Essa prática clássica das locadoras era tão comum quanto ouvir o dono perguntar se você ia continuar quando o tempo acabava, ou o moleque perguntando se não podia esperar ele salvar antes de desligar o videogame. Ela estava lá, do começo ao fim do comércio de locação por minutos.

No início, os jogos de luta, assim como nos arcades, dominavam os duelos, como Street Fighter II e seus sucessores, Mortal Kombat III, The Kings of Fighter ’97 e tantos outros. Em seguida, vieram os jogos de esporte, como as corridas de Top Gear e as loucas partidas de NBA Jam – como perdi dinheiro para o meu irmão nesse basquete maluco.

Outros jogos, contudo, também se popularizaram como excelentes opções para uma partida apostando, como é o caso de Bomberman. O modo batalha do jogo foi o responsável por inúmeras partidas memoráveis nas locadoras, como o dia que a polícia veio fechar a locadora do Tadeu por causa da bagunça que estávamos fazendo durante o jogo. Era uma gritaria só.

A consagração

Foi durante a geração 32-bit/64-bit que o termo quem perder, paga se popularizou definitivamente em grande parte das locadoras de videogame do Brasil. Com a chegada do PlayStation e do Nintendo 64, muitos jogos passaram a explorar ainda mais os modos multiplayer, criando novas e instigantes possibilidades de disputas.

Entre os favoritos da galera do Nintendo 64, estava o clássico Mario Kart 64. Era uma loucura só. Quatro jogadores apostando o tempo de jogatina, em partidas que valiam de tudo, desde formar equipes para tentar vencer o melhor jogador, até andar na contra mão para atrapalhar o adversário. Ainda no N64, Super Smash Bros., Mario Party e até Conker’s Bad Fur Day serviram como pretexto para um boa partida de quem perder, paga.

No PlayStation, um dos queridinhos das locadoras de videogame, as disputas pelo pagamento do tempo de jogo também ficaram a cargo de grandes jogos. Entre os sucesso da época, lembro de presenciar verdadeiras destruições de controles com Twisted Metal, Vigilante 8, Road Rash e Tony Hawk’s Pro Skater. Eram partidas rápidas, emocionantes e cheias de disputas, do jeito que a turma da locadora gostava para gerar apostas.

Outro sucesso dessa época foi Crash Team Racing , jogo de kart com os personagens de Crash Bandicoot. Seja no modo batalha, ou nas corridas convencionais, o jogo era um baita atrativo para desafiar os amigos, com direito a campeonato e tudo. Perdi até as contas de quantas brigas presenciei em campeonatos de C.T.R. Era tenso.

Essencial

É difícil enumerar todos os jogos que fizeram sucesso nas locadoras nessa modalidade de quem perder, paga. Cada espaço de jogatina tinha os jogos favoritos de seus frequentadores. Passaríamos dias relembrando cada um aqui. Contudo, um deles foi praticamente unanimidade, tornando-se quase sinônimo de do termo. Falo de Winning Eleven.

Historicamente, o futebol sempre contribuiu para deixar amigos com os ânimos exaltados. E quando esse esporte apaixonante invadiu as locadoras, principalmente quando o PlayStation foi capaz de gerar partidas mais realistas e estratégicas, rapidamente ele se tornou a nova preferência gamer da época.

Disputar os torneios mais importantes do mundo, criar o time do bairro, atualizar as escalações com as contratações da temporada. Tudo isso fazia a alegria dos jogadores. Mas jogar contra um amigo, cada um usando o seu time de coração, ou mesmo os melhores times da Europa, tornou-se uma febre nas locadoras.

Meu time é melhor do que o seu! Eu jogo muito mais! Duvido que você faça mais que dois gols em mim! Ah, é? Então vamos quem perder, paga? Bora!

Enquanto frequentei locadoras, principalmente no começo dos anos 2000, ouvi essas frases diariamente. Todos os dias, alguém era desafiado para uma partida de futebol valendo o tempo de jogo. Chegou um momento que era comum entrar na locadora e se deparar com todos os televisores com telas verdes. Era o fenômeno do futebol.

Nisso, praticamente metade das partidas envolviam algum tipo de aposta. Valia apostar de tudo: hora de jogo; R$ 1,00 por partida; cinco picolés; um cascudo. Só não valia apertar, como dar carrinho sem parar, “chutão” toda hora, escalar jogador “dopado” e só fazer gol de tabela.

Emoção na medida certa

Foram anos de muitas partidas, disputas, apostas, e umas briguinhas de leve para animar a torcida. Tudo isso sempre com muito respeito e equilíbrio, pelo menos era isso que eu contava para a minha mãe. Se ela sonha que eu apostava na locadora…

 


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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