Na década de 90 os jogos de luta estavam com a bola toda, em um primeiro momento surfando a onda de Street Fighter II e Mortal Kombat, enquanto mais para o final dela quem passou a ditar as regras foi a SNK e a sua chuvarada de excelentes títulos e franquias.
Com todo esse sucesso, naturalmente outras empresas se aproveitaram para abocanhar o seu espacinho aqui e ali lançando jogos novos a todo momento, com as temáticas mais variadas o possível (ou não, apenas clonando na cara de pau mesmo). Uma dessas tentativas não tão bem sucedidas assim resultou em Primal Rage, um jogo de luta sangrento com monstros gigantes e dinossauros enfurecidos no papel de protagonistas. A ideia até que não era das piores e a execução também não foi de todo o mal, salvando assim o título de estrear a nossa coluna Nota Zero. Mas foi por pouco, viu?
Kaijus ou Dinossauros?
O jogo foi criado pela Atari Games, que merece algum crédito pela ousadia de deixar os manjados seres humanos de lado (frágeis, nada inspiradores) em detrimento de feras muito mais assustadoras e passíveis de todo aquele frenesi vermelho que rola durante os combates. Lançado para as mais diversas plataformas, Primal Rage teve sim algum destaque na mídia, com direito a algumas páginas nas revistas especializadas brasileiras. Isso quer dizer que o jogo seja bom? Não, mas passados vinte e dois anos desde o seu lançamento, certamente vale pelo menos uma jogada pra recordar!
A história é bem genérica, mais ou menos como quase todos os jogos de luta da época: um meteoro devastou a Terra e dizimou grande parte da civilização humana, gerando um retrocesso que nos levou de volta à Idade da Pedra. A população que restou rebatizou o planeta como Urth (de “Earth” mesmo) e se acostumou a viver entre ruínas e pântanos, reminiscências do que o planeta havia sido um dia. Esse novo mundo abriga sete grandes monstros adorados como deuses, divididos entre aqueles que querem a paz para Urth e os que querem apenas a destruição. Ah! E tem também o Sauron, o grande Deus da Fome, que tem posicionamento neutro no meio de toda essa bagunça.
Abaixo você confere todos os sete personagens disponíveis:
Todos os monstros têm humanos como seus adoradores, que podem servir de alimento durante as lutas, ou até mesmo de bola de vôlei se a partida estiver chata. Devorar os seguidores do adversário rende pontos, já que o pano de fundo é a guerra declarada entre as sete entidades, também conhecida como a Guerra da Fúria Primitiva, ou em inglês, Primal Rage.
O jogo em si
As batalhas acontecem em arenas bidimensionais, com gráficos gerados pelo sistema de pixelation (mesmo esquema de Mortal Kombat, com sprites gerados a partir de imagens digitalizadas) e muito sangue em todas as batalhas.
Cada personagem tem um movimento de finalização equivalente a um fatality, que é um dos poucos pontos altos de Primal Rage. O problema é que o pessoal da Atari perdeu a mão em alguns momentos, como no golpe do macacão Chaos, em que ele urina no adversário até dissolvê-lo por completo. Em MK os golpes fatais tinham um quê de pastelão que serviam para amenizar a violência do jogo, algo que a Atari ignorou até certo ponto. O resultado disso foi uma recepção não muito calorosa, além de alguns protestos que levaram o jogo até mesmo a ser reprogramado, a fim de adaptá-lo para o público mais jovem.
Os gráficos são bons, mas a animação dos personagens não é das melhores. Em alguns momentos, parece que alguns quadros foram surrupiados, deixando os movimentos pouco naturais, com cara de filme em Stop Motion. Apesar disso os sprites são bem detalhados e os personagens são bastante marcantes. Claro, rolou um control+c, control+v entre Sauron e Diablo, e entre Blizzard e Chaos. Tudo bem, essa parte a gente até abstrai porque era moda na época. Os cenários são bonitos e mostram um cenário pós-apocalíptico com muitas ruinas de prédios e vegetação abundante. Dá pra se deixar levar pelo clima, principalmente porque o jogo não ajuda muito e você vai acabar encontrando tempo para admirar os cenários mesmo.
Sobre a trilha sonora e os efeitos de áudio, prefiro não comentar muito, já que é o calcanhar de Aquiles da coisa toda: músicas chatas, sons irritantes e pouco inspirados. A coisa toda parecia muito boa no projeto, mas foi mal executada, mesmo na versão para Arcade ou na conversão para 32X.
Havia um projeto para uma continuação, onde os dinossauros seriam substituídos por personagens humanos, seus “avatares”, que chegou a ganhar algumas imagens e uma tela de seleção de personagens, mas o título acabou cancelado em 1997 por conta das vendas mornas do jogo original.
Mesmo se tratando de um jogo razoável para fraco, Primal Rage conseguiu angariar um bom número de fãs, que continuaram consumindo outros produtos lançados com base no título como cards ilustrados, action figures e quadrinhos. O segundo jogo, inclusive, rendeu a série Primal Rage: The Avatars, lançada pela Sirius Comics.
Primal Rage não é um clássico, tampouco merece destaque como um grande jogo de luta. Vale dar uma olhada por se tratar de um jogo bastante curioso para a época, mas nada que possa obrigar o jogador a correr atrás de um cartucho e perder dinheiro por isso. Nesse caso, só alguns vídeos do YouTube mesmo e bola pra frente!
Hadouken!
Vídeos
Processo de criação e modelagem dos personagens (fonte: VideoGameEphemera’s)
Todas as finalizações (fonte: Life and Death)
Algumas finalizações de Primal Rage 2 (não lançado). Reparem na semelhança com Killer Instinct! (fonte: Gruntzilla 94)