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Minha relação com os videogames é bem intensa, começando na locadora aos quatro anos de idade. Um pouco maior, passei a arte para os meus irmãos. Com o do meio, crescemos jogando Kirby em cooperativo, mas logo os gostos se distanciaram, e ele foi para os FPSs da vida. Contudo, com meu irmão mais novo, nossa aproximação era de dois viajantes que se completavam no desenrolar de aventuras e jornadas épicas. Mesmo sem nunca ter segurado o controle do meu lado, ele foi a mente por trás dos meus maiores feitos no mundo dos games, o meu player 2.

Ensinamento de mestre

Como comentei anteriormente, logo que aprendi a jogar meus primeiros títulos sozinho, passei a arte dos jogos para meus irmãos. Joguei com meu irmão do meio, Igsson, os maiores clássicos do Super Nintendo: Super Mario World, Donkey Kong Country, Power Rangers e, principalmente, Kirby Super Star. Foram momentos marcantes, contribuindo ainda mais para nossa aproximação enquanto irmãos.

O tempo passou e ele foi tomando gosto por outros títulos, e enquanto dividíamos algumas aventuras juntos no PlayStation, ele foi sendo fisgado pelos games de tiro: Medal of Honor, 007 e Call of Duty. Não é à toa que ele foi conhecido como o Goldenboy, o melhor jogador de Goldeneye 007 da região.

Enquanto isso, meu irmão mais novo, Iago, ainda muito criança, acompanhava de perto nossas batalhas por mundos virtuais. Sempre fascinado pelo que via, sentava e assistia, como se fosse um filme, a tudo que acontecia na tela da TV, fosse na locadora no início ou mais tarde em casa. Como um bom observador, ficava atento a tudo, pensando enquanto agíamos. Foi como expectador das maiores pérolas do Super Nintendo e do Nintendo 64 que ele se especializou como um excelente auxiliar.

O pensador

O forte do meu irmão não era realmente jogar, mesmo tendo se aventurado algumas vezes sozinho em títulos específicos. Com exceção de Mario Kart, onde a turma toda jogava (inclusive ele), a sua especialidade mesmo era pensar nas mais difíceis situações de um jogo. Isso até ele querer ser um mestre Pokémon, mas enquanto esse dia não chegava, ele seguiu firme do meu lado, como um bom companheiro.

Desde que me lembro, meu irmão me acompanhava durante as jogatinas. Seus comentários eram sempre valiosos, ajudando-me a seguir em frente e superar os desafios do jogo. Sua função era de auxiliar, uma mistura de Luigi e Navi. Assim como destes assistentes, eu recebia dele dicas, sugestões e o suporte necessário para destravar aquela parte mais complicada e resolver os quebra-cabeças mais desafiadores.

Em nossas primeiras aventuras no Super Nintendo, éramos os três jogando o clássico Goof Troop. Eu e meu irmão do meio controlando Pateta e Max, e Iago, o mais novo, pensando nas estratégias para resolver os puzzles do game. Foram vários os momentos que ele nos tirou do buraco, encontrando a melhor saída para vencer os inimigos e desbloquear as passagens necessárias para seguir adiante.

O mestre das soluções

Sempre perspicaz, em Kirby Super Star, Donkey Kong Country e Super Mario World, Iago era o responsável por tentar encontrar, apenas olhando, possíveis passagens secretas e itens escondidos. Não era uma tarefa muito fácil, pois a velocidade dos jogos era alta, exigindo reflexos mais rápidos e um pensamento ágil, além de saber encontrar padrões que ajudariam a identificar os locais que os desenvolvedores escolheram para esconder os extras do jogo. Mas era nisso que ele se destacava.

Com Mega Man, ele me guiava pelos maravilhosos cenários do jogo, prestando atenção em possíveis locais onde poderiam estar escondidos os corações, energy tanks e até as armaduras. A parceria fez sucesso e logo concluímos praticamente todos os títulos do Blue Bomber, do Nintendinho, passando pelo Super Nintendo até o PlayStation. Quando ele dizia, “espere aí, acho que tem alguma coisa ali”, era sinal que com certeza ele havia encontrado uma entrada ou item secreto. Foram bons anos enfrentando a trupe do Dr. Willy.

Ainda no Super Nintendo, um dos momentos mais marcantes com meu irmão copiloto foi a maratona de Chrono Trigger. Passamos horas, dias e semanas jogando um dos melhores RPGs de todos os tempos. Mesmo crianças, tínhamos até certo domínio do inglês, mas por incrível que pareça, mesmo sendo cinco anos mais novo que eu, ele era ótimo nas traduções.

Acompanhar a saga de Crono e cia pelos confins do tempo foi uma tarefa difícil, mas prazerosa, nos unindo ainda mais. E claro, ele me tirou de cada enrascada, como por exemplo uma parte em que era preciso dar três voltas no sentido horário ao redor de Spekkio, o Mestre da Guerra. Só Iago para me tirar dessa. Chegando no final, foram seus conselhos precisos e calculados que me fizeram vencer Lavos. No final, foi uma emoção e tanto curtir juntos as cenas finais.

Nova era

Chegava o Nintendo 64 e a parceria continuava rendendo bons frutos. Em Super Mario 64, se não fosse por ele, estaria até hoje penando para conseguir as 120 estrelas. Em Pokémon Stadium, por exemplo, como grande conhecedor do universo dos monstrinhos de bolso (única franquia que ele realmente jogava. E como jogava), era ele, Iago, quem traçava as estratégias para cada líder de ginásio.

Mas a sua participação mais marcante e que até hoje ele faz questão de se gabar, foi o golpe final na Mission: Skedar Ruins – Skedar Leader Encounter, o último chefe de Perfect Dark (N64). Já estava na quarta ou quinta tentativa em finalizá-lo sem sucesso, quando meu irmão passou do lado da TV, sentou-se, deu uma rápida olhada e disse, “atire naquela pedra no topo da tela, em cima da cabeça dessa lagartixa, se ela cair, mata esse troço e você zera logo esse jogo”.

Quando fiz e deu certo, ele levantou-se e saiu com aquele sorriso irônico, que deixa qualquer um nervoso. Mas depois caímos na risada — até hoje escuto em toda roda de conversa sobre essa ajuda.

Meu Navi particular

Embora ele nunca tenha jogado Zelda na vida, tenho certeza que ele conhece até melhor do que eu, que joguei todos os títulos lançados desde do Super Nintendo (os do NES só fui jogar há pouco tempo), as histórias e acontecimentos de cada jogo. Ele era o meu Navi, comentando cada cena, objetivo e dungeon.

Era um verdadeiro auxiliar, até as notas das canções ele decorava para mim. Ele sofreu comigo a maldição do meu cartucho de Majora’s Mask e me ajudou na conclusão de Ocarina of Time e Twilight Princess. Não tenho de que reclamar e nem me sinto menos jogador por ter sempre alguém ao lado, aproveitando cada momento, cada história, cada minuto de ação. E o fato desse alguém ser justamente meu irmão é uma sensação indescritível.

Player 2

Crescemos juntos e aproveitamos o mundo mágico dos games um ao lado do outro. Ele me ensinou os caminhos para ser um jogador melhor, pensar e resolver os problemas antes mesmo de enfrentar de cabeça uma situação. Ensinamentos como estes transcendem os games e seguem para vida toda.

Fomos muito felizes juntos. Foi, sem dúvida, uma infância memorável em companhia dos videogames. Nas locadoras, em casa, onde fosse, lá estávamos, eu e meu player 2, dividindo boas histórias. Hoje, morando um pouco longe dos meus irmãos, os poucos momentos juntos são sempre mais intensos e divertidos, mas claro, acompanhados de um bom videogame.

Legado

Muito se discute sobre o lado negativo dos videogames hoje em dia. Seja em relação à violência ou em como crianças abandonam suas vidas sociais em detrimento de horas e mais horas em jornadas absurdas no mundo virtual. Mas o que poucos realmente sabem ou conhecem são as histórias de amizade, união e aprendizagem que envolvem esse universo maravilhoso dos videogames.

Atuando diretamente ou não na ação e na trama dos jogos, tive ao meu lado a companhia de grandes amigos e principalmente dos meus irmãos, enquanto me aventurava por reinos desconhecidos e universos distantes. Cada um teve sua importância e muitos foram os momentos marcantes, na maioria deles, lá estavam, eu, meu irmão e várias missões para resolver. Enquanto eu era a habilidade, ele era o pensador.

E foi assim que ajudamos os mocinhos a salvarem suas princesas e o mundo pôde viver em paz novamente.


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Ítalo Chianca

Gamer que cresceu jogando com seus irmãos, lendo revistas sobre games e frequentando as antigas locadoras de videogame, hoje divide o seu tempo livre entre as jogatinas e os textos sobre games que costuma publicar no Jogo Véio e nos seus próprios livros (Videogame Locadora, Os videogames e eu, Papo de Locadora, Game Chronicles e Gamer).

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