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Dia desses acordei de madrugada com o celular vibrando e levei um susto. Levantei da cama para olhar e era o anúncio de um novo jogo, assim, sem mais nem menos. Em poucos minutos a notícia havia virado trending topic no Twitter. Em horas, pipocaram diversos vídeos e podcasts debatendo o assunto com vigor.

O intervalo de tempo entre a revelação de um jogo e a propagação da notícia, hoje, é de alguns minutos. Quatro décadas atrás, no entanto, essa distância era muito maior e podia chegar a meses. As revistas de videogame tiveram papel fundamental nessa evolução e por isso são as estrelas deste post.

As pioneiras

Nos Estados Unidos as primeiras publicações especializadas surgiram na década de 1970, com ênfase em máquinas de pinball e arcade. Revistas especializadas mais conhecidas como a Nintendo Power ou a Electronic Gaming Monthly surgiram alguns anos mais tarde, respectivamente em 1988 e 89.

Primeira edição da revista Nintendo Power, lançada em 1988

Aqui no Brasil, a primeira publicação dedicada aos videogames foi a Odyssey Aventura, de 1983, que falava apenas dos lançamentos do console da Philips. Só que ela foi pouco divulgada, já que a distribuição era restrita aos donos do console.

Eu não era um desses felizardos e só fui ter a minha primeira revista em 1991, ano que marcou o nascimento das revistas Videogame (Março / 91), Ação Games (Maio / 91) e Supergame (Julho / 91).

Comecei minha coleção com a Ação Games Nº 2, com Double Dragon III na capa. “Super Estratégias demolidoras! Uma overdose de lançamentos! Super Promoção!” – tudo com aquele ar “radical brega”, que só quem viveu a época sabe descrever.

Inclusive, quase todas as fotos que ilustram este post são de revistas da minha própria coleção. Boa parte delas me acompanha desde a infância!

Entre os destaques da revista, tínhamos uma seção de notícias e lançamentos, quase sempre com um pequeno delay em relação às publicações do exterior. O próprio Double Dragon III, destacado na capa, havia sido lançado três meses antes.

Em entrevista concedida ao UOL Jogos como parte do documentário “História das Revistas de Videogame”, o jornalista e ex-editor da revista Supergame, Matthew Shirts, revelou que um dos redatores da revista era fluente em japonês e ía até o bairro da Liberdade, em São Paulo, para comprar as publicações japonesas e conseguir dar notícias quentes com exclusividade. Lembrem-se: estamos falando de um mundo pré-internet, então devemos muito ao trabalho pesado dessa turma!

Com o tempo vieram outras publicações, cada uma com um linguajar diferente para disputar a atenção dos leitores. Em comum entre elas havia um certo “amadorismo”  – com todas as aspas do mundo  –, não por inaptidão, mas por se tratar de um universo novo, mesmo entre os jornalistas mais experientes.

Foi nessa época que surgiram os “pilotos” das revistas de videogame, que na verdade eram meninos selecionados a dedo nas locadoras de São Paulo. Afinal, as redações precisavam de alguém que dominasse os jogos e soubesse como terminá-los. Assim, os pilotos iam até a sede das revistas, terminavam o jogo com o gameplay capturado em fitas VHS, para mais tarde haver um trabalho de captura das imagens que seriam usadas na revista.

Confiram algumas das principais publicações

Ação Games

Editora Azul / Abril – 171 Edições + Especiais

Idealizada por Marcelo Duarte, jornalista e autor do Guia dos Curiosos, nasceu como um especial da revista esportiva A Semana em Ação, inteiramente dedicada aos videogames. A primeira edição (Nº 17A) é de dezembro de 1990 e a ideia deu tão certo que motivou uma continuação, lançada em março de 1991 (Nº 26A).

Posteriormente, a publicação ganhou vida própria pela Editora Azul, com 171 edições regulares e diversas revistas especiais. Em sua fase mais conhecida, a Ação Games se destacou por ter um formato avantajado, meio quadradão, muito maior que as revistas tradicionais. A ideia, segundo os editores, era se destacar das concorrentes nas prateleiras das bancas de jornal.

Inclusive, a publicação chegou a ser lançada na Argentina com o nome Action Games, e nós falamos sobre ela aqui.

No começo de 2002, a edição de número 171 veio acompanhada de um comunicado de encerramento das atividades com periodicidade definida. Foram lançadas apenas mais duas edições especiais, ambas em 2003.

Comunicado de encerramento das atividades da Ação Games – Fonte: Datassette.org

Videogame

Sigla Editora – 63 Edições + Especiais

Criada pelos jornalistas Roberto Araújo e Mario Fittipaldi, a revista Videogame surgiu como mais uma opção para atender às necessidades do novo público que surgia.

Segundo o próprio Roberto Araújo em entrevista para o documentário “História das Revistas de Videogame”, a oportunidade de criar a publicação surgiu quando ele editava a revista Duas Rodas. Na ocasião, questionado se conhecia nomes como Sega e Nintendo, disse que não sabia do que se tratava. Mesmo assim, decidiu encarar o desafio.

Uma das edições da Videogame que mais me marcou foi a Ed. 8A, de novembro de 1991, especial de Super Mario Bros. 3. Que criança naquela época não estava perdidamente apaixonada pelos jogos do Mario? Ver um detonado daquele tamanho, com fotos detalhadas das fases e dos mapas foi realmente muito impactante.

Supergame

Editora Nova Cultural – 32 Edições

Uma revista 100% dedicada aos consoles da Sega, que aqui no Brasil fizeram muito sucesso graças à parceria da empresa nipônica com a Tectoy. Essa relação surgiu com o lançamento da pistola Zillion, mas ganhou força de verdade com o sucesso monstruoso do Master System e do Mega Drive no Brasil.

A Supergame ficou muito famosa por ter a figura do “Chefe”, personagem que representava o editor da revista, o jornalista Matthew Shirts. Com os cabelos desgrenhados e um visual meio maníaco, era ele quem dava as ordens na redação, sempre de forma bem-humorada.

A publicação durou apenas 32 edições, pois rolou uma fusão com a outra revista da editora Nova Cultural, criando a SuperGamePower em 1994.

GamePower

Editora Nova Cultural – 21 Edições + Especiais

Já que a Sega tinha uma revista brasileira pra chamar de sua, o mesmo precisava ser feito com os consoles da Nintendo. Nasceu assim a revista GamePower, imortalizada por seus “críticos”, como eram chamados os personagens que assinavam as matérias: “Baby” Betinho, Marcelo Kamikaze, Marjorie Bros e Lord Matias. Cada um desses críticos tinha uma personalidade caricata e um gênero favorito de jogos.

A GamePower durou apenas até março de 1994, quando rolou a fusão com a revista Supergame.

SuperGamePower

Editora Nova Cultural / Option – 133 Edições + Especiais

Da união entre Sega e Nintendo nasceu uma revista gigante. As primeiras edições da SGP tinham mais de 80 páginas, enquanto as concorrentes chegavam a, no máximo, 60 páginas.

A ideia dos personagens das publicações anteriores permaneceu e ganhou ainda mais força, com histórias em quadrinhos e votação para a criação de novos membros do time.

Nesse primeiro momento das revistas no Brasil, a SuperGamePower era a responsável pelos maiores detonados, além de dividir o espaço da revista de maneira bastante democrática entre consoles da Sega, Nintendo e, posteriormente, Sony e Microsoft.

A revista seguiu sendo publicada até meados de 2005 e chegou a cobrir diversos lançamentos de Xbox, PlayStation 2 e Game Cube, inclusive estampando os logos dos consoles nas chamadas dos jogos na capa.

ProGames

Editora Escala – 3 Edições

Da ProGames eu só tenho essa número 2, já bem castigada pelas traças

A revista ProGames teve poucas edições, mas merece ser mencionada por outros motivos. A publicação pertencia à rede de locadoras de mesmo nome, que chegou a ter dezenas de filiais em diversos estados do Brasil.

A publicação seguiu a fórmula da Supergame e GamePower, com personagens assinando as matérias: Wolferrá, Senhor Off, Chu-Chi, Mister-X, T-90 e Daikon. Quem também dava as caras em tirinhas era o personagem Capitão Ninja, criado por Marcelo Cassaro e que fez ponta em diversas publicações da época.

Posteriormente, a revista ProGames acabou se transformando na Gamers. A gente continua essa história na segunda parte da matéria!


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Eidy Tasaka

Redator e diagramador freelancer, apaixonado por jogos e revistas antigas, incentivado por um pai que sempre nutriu os mesmos vícios. Fã de RPGs japoneses e jogos de plataforma, divide seu tempo entre o Jogo Véio e as poucas horas de sono que possui.

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