Jogar futebol nos videogames é uma experiência bastante antiga, com games como Intellivision Soccer (1980) e Real Sports Soccer (1982) representando o esporte bretão nas telinhas. Contudo, apesar de ter o verde da grama, traves e bolinha, faltava algo. Faltava parecer com futebol de verdade. Isso, a Konami resolveu.
Lançado em 1994, International Superstar Soccer (Jikkyou World Soccer, no Japão) deixou para trás a ideia de que jogos de futebol deveriam ter vista superior, no estilo Futebol Gulliver. Os jogadores tinham rosto, braços, pernas e movimentos melhores. Tinha embaixadinha, lambreta, carrinho e gol de cabeça. Os jogadores tinham tons de pele, penteados distintos e camisetas numeradas. Era uma diferença monumental!
A Konami e o Futebol
A Konami já havia lançado Konami Soccer (MSX) em 1985 e Konami Hyper Soccer (NES) em 1991. Ambos notadamente conhecidos como bons jogos do gênero, mas sem grande impacto. International Superstar Soccer (ISS, daqui pra frente) foi uma continuação indireta, herdando e aprimorando mecânicas, adaptando-as ao hardware 16-bit.
O mercado estava animado após a Copa do Mundo de 1994, vencida pela Seleção Brasileira, comandada por Bebeto e Romário. Aproveitando o embalo, a Konami criou jogadores com nomes que lembravam vagamente os jogadores originais. Vieram daí pérolas como Redonda, Beranco, Allejo, Gomez e Sieke, todos inspirados em jogadores reais, mas que sem as licenças apropriadas, não poderiam ser representados devidamente. Se hoje isso é um grande problema, pra época isso era um mero capricho. Mesmo assim, resolvido com maestria pela cena de rom hacking.
O sucesso de ISS trouxe bons números para a Konami: cerca de 280.000 cópias vendidas no Japão (segundo o site VGChartz), que logo motivaram o lançamento de uma sequência direta e aprimorada.
International Superstar Soccer Deluxe
O novo título chegou ao mercado japonês cerca de dez meses depois do original, aprimorando as animações, times e jogabilidade. A movimentação também havia melhorado: correr de um lado ao outro do campo apertando o botão de corrida já não parecia mais algo tão bizarro. A diferença era notável, apesar do curto espaço de diferença entre os jogos.
Os “truques” para fazer os gols ainda estavam lá: o rebote forçado, o chute na diagonal de fora da área, o carrinho na quina da grande área… Só que, apesar de seguir fórmulas, a experiência se completava em partidas disputadas a dois, quando ambos os jogadores conheciam o campo e todos os seus “segredos”. Virava uma guerra de mentes, carrinhos e ombradas. Sim, esse jogo tinha ombradas! Vai entender…
Os times
Era possível escolher entre 36 seleções e 6 times secretos, totalizando 42 esquadrões. São eles:
E os secretos:
African Stars
All American Stars
All Stars
Asian Stars
Euro Stars A
Euro Stars B
Dica: Para habilitar os times secretos, basta entrar com o seguinte comando na tela título, usando o controle 2:
R, Cima, Baixo, L, X, B, Esquerda, A, Direita, Y. O latido de um cachorro vai confirmar que a dica deu certo!
Dica 2: Para transformar o juiz e os auxiliares em cachorros, basta entrar com o seguinte comando na tela título, usando o controle 2:
Cima, Cima, Baixo, Baixo, Esquerda, Direita, Esquerda, Direita, B, A. Ou seja, o clássico Konami Code!
Modos de Jogo
A bola rola em 6 modos de jogo distintos, adaptando a jogatina entre partidas casuais e campeonatos mais longos. Para dar uma variada, temos ainda as disputas de penalidades e o excelente modo ‘Scenario’.
Open Game: Partidas amistosas que podem ser disputadas de 1 a 4 jogadores, usando o adaptador multitap. Possibilidades loucas como 4 jogadores contra a máquina e 2 contra 2 estão disponíveis. Pena que o acessório era difícil de ser encontrado nas lojas brasileiras.
International: Segue o formato da Copa do Mundo, com os times divididos em grupos de 3 seleções.
World Series: Modalidade mais complexa e desafiadora, com rodadas de turno e returno. É pra quem quer esquecer da vida e jogar até os dedos caírem.
Penalty Kick / Training: Auto-explicativas. Bom pra aprimorar as técnicas na hora da jogatina.
Scenario: Modo composto de partidas pré-determinadas pela máquina, geralmente com um placar adverso e pouco tempo para virar o jogo. Não conseguiu? Vai tentando infinitamente, até conseguir fechar todas as partidas disponíveis. Genial!
Aspectos técnicos
Considerado o melhor jogo de futebol da geração em todos os aspectos, ISSD dá uma lavada em outros bons jogos como Soccer Shootout, Super Soccer e Fifa International Soccer.
Sprites grandes, animações em momentos específicos do jogo (por exemplo, quando você consegue virar a partida) e até mesmo o cuidado com as condições climáticas mostram que a Konami queria entregar um produto caprichado, que conseguisse reproduzir o futebol do mundo real.
A parte sonora é funcional, com vozes digitalizadas para simular uma narração durante as partidas: Throw in, Corner Kick, Foul, Red Card, Yellow Card! Mais uma vez: capricho!
E pra não dizer que elogiamos em tudo, o sistema de passwords era horroroso. Três linhas de símbolos confusos que podem colocar uma jogatina de um dia inteiro a perder por puro preciosismo. É perfeitamente compreensível que o password precisava ser longo para simular a quantidade de possibilidades que ele oferece, mas dava pra usar um sistema mais simples.
Sintetizando tudo isso: ISSD é um marco. Mostrou que jogar videogame e futebol poderiam andar lado a lado, com capricho. Até hoje rende excelentes jogatinas, seja em sua versão tradicional ou através dos inúmeros hacks lançados como Campeonato Brasileiro, Ronaldinho Soccer e afins.
O jogo foi lançado inicialmente para Super Nintendo, com versões para Mega Drive, PlayStation e Game Boy Advance. Posteriormente, continuações foram lançadas para PlayStation e Nintendo 64, até a série ser sucedida pela franquia Pro Evolution Soccer, viva até hoje.
Para saber mais sobre a franquia, ouça esse episódio do nosso podcast!