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Alguns podem imaginar que folclore japonês, microprocessadores e geometria espacial são coisas totalmente desconexas, ou simplesmente coisas de nerd. Se você pensou isso, certamente não conhece Star Fox, um jogo lançado para o Super Nintendo (SNES) em 1993 que trouxe inovações tecnológicas colossais para os Nintendistas e foi parar em mais de 4 milhões de lares por todo o mundo, consagrando-se como o oitavo game mais vendido para o console. Esta deidade da era 16 bits trouxe algo jamais visto em um jogo da Nintendo anteriormente: polígonos em três dimensões.

Como todos sabem, inovação exige evolução; e, nessa época, um empurrãozinho da falecida Argonaut Games foi essencial para trazer os efeitos da Lei de Moore para a empresa, tornando o projeto viável.

Isometria gráfica

Não precisa se assustar com o subtítulo desta seção! A isometria gráfica, mesmo sendo extremamente complexa, pode ser explicada de forma fácil: é a maneira que se usa uma pequena rotação da câmera para produzir efeitos de profundidade no ambiente gráfico. Desta forma, temos o famoso “pseudo-3D”. Na década de 80, jogos com gráficos isométricos já eram comuns para diversas plataformas. Entretanto, mesmo com uma jogabilidade atrativa para a época, o visual desses jogos não era dos melhores. O poder de processamento dos consoles ainda era relativamente fraco para oferecer jogabilidade e gráficos bons ao mesmo tempo.

Mas uma coisa naquela época já era certa: o poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses, como previa Gordon Earl Moore. Desta forma, em curtos espaços de tempo, novas tecnologias foram surgindo e tornando os vídeo games mais potentes, trazendo os tão desejados jogos em 3D.

Em 1981, 3D Monster Maze foi lançado para o computador Sinclair ZX81, sendo reconhecido hoje como o primeiro jogo do estilo survival horror. Já no começo da década de 90, a garotada se divertia com títulos como Wolfenstein 3D e Doom em seus computadores.

A busca por novas tecnologias

O rápido aumento do poder de processamento dos computadores era eminente, assim como a constante necessidade de trazer inovação nos games para se manter vivo na “Guerra de Consoles”. A Nintendo lança o seu primeiro jogo em 3D para o Game Boy em 1992, denominado X. O jogo pode ter sido uma novidade para os gamers, mas trazia apenas figuras construídas com vetores e um frame limit baixo, devido ao uso excessivo dos recursos do limitado aparelho portátil. Outra coisa para adicionar à lista de contras da Nintendo é que o seu arquirrival – o Mega Drive – possuía hardware superior, e já contava com alguns jogos em 3D que usavam polígonos ao invés de vetores, como Hard Drivin’ e Steel Talons.

Para não ficar para trás, a Nintendo, em parceria com a Argonaut Games, resolve trazer um protótipo inspirado no jogo Starglider (que por sua vez foi inspirado no Star Wars de Atari). Um dos programadores do projeto, Jen San, disse que se hardware novo não fosse desenvolvido para ajudar o SNES com os gráficos, o projeto seria apenas outro jogo do mesmo estilo. Com a autorização da empresa, Jen reuniu um grupo de engenheiros para desenvolver um acelerador gráfico para o jogo, que ficou conhecido como Super FX.

Conhecendo o Super FX

Este chip foi o primeiro acelerador gráfico a ser desenvolvido e comercializado em um bem de consumo. Alguns diziam que seu poder de processamento era tão grande que o SNES virou apenas uma caixa para ligá-lo. Durante seu desenvolvimento, ele foi chamado de “Super Mario FX” e “MARIO”, um acrônimo de “Mathematical, Argonaut, Rotation & Input/Output”. O chip original veio com a palavra MARIO impressa sobre ele.

Vários outros jogos utilizam a capacidade de renderizar gráficos em duas ou três dimensões deste microprocessador, como Dirt Racer, Dirt Trax FX, Stunt Race FX e Vortex. Uma segunda versão foi desenvolvida (Super FX 2) e utilizada em jogo como Doom, Super Mario World 2: Yoshi’s Island e Winter Gold, além de ter sido utilizado em vários outros games que nunca chegaram ao mercado.

Star Fox não é apenas um jogo de ficção científica convencional

Com o problema do acelerador gráfico resolvido, a Nintendo pôde focar apenas no desenvolvimento do jogo novamente. Em 21 de fevereiro de 1993, Star Fox foi lançado no Japão, chegando também à América do Norte em 26 de março e à Europa em 3 de junho do mesmo ano. Foi o primeiro game da Nintendo a utilizar polígonos em 3D, trazendo em seu enredo o perveso vilão Andross aterrorizando o sistema solar Lylat.  A equipe de pilotos de aviões de combate Star Fox Team é chamada para combatê-lo. Os personagens principais são Slippy Toad, Peppy Hare, Falco Lombardi e Fox McCloud (ver na foto abaixo).

Os desenvolvedores de Star Fox não quiseram que o game tivesse apenas outra abordagem comum das histórias de ficção científica da época, com robôs, humanos e monstros. Ao invés disso, decidiu-se utilizar animais como personagens principais. A lebre e o pássaro foram tirados do folclore japonês; o sapo veio de um dos membros da equipe, que o utilizava como mascote; e a ideia de trazer uma raposa para o game foi de Miyamoto, pois ela lembrava-o de Fushimi Inari-taisha, um santuário perto das instalações da Nintendo japonesa. Os outros personagens do jogo são basicamente cães e macacos, que também tiveram sua inspiração em uma expressão japonesa: brigando como cães e macacos (obviamente).

As fotografias de capa do jogo trazem fantoches dos personagens, pois Miyamoto era fã de teatro de fantoches, como a série britânica Thunderbids. Contando com seus gráficos poligonais, excelente jogabilidade e personagens carismáticos, este clássico do SNES tornou-se um dos mais famosos rail shooters de todos os tempos.

O jogo conta com diferentes níveis de dificuldade em diferentes planetas. Assim, os jogadores que quiserem testar seus limites no game não só terão que ser mais ágeis e derrotar mais inimigos como na maioria dos shoot ‘em up, mas também passar por diferentes ambientes. Isso faz com que o jogo não fique repetitivo e atraia ainda mais a atenção dos véios que adoram passar por fases difíceis! Outra grande diferença dos jogos convencionais da época é que a nave possui um escudo, que enfraquece conforme você recebe dano.

Durante o jogo, além de ter que destruir dezenas de objetos no cenário e desviar de outros, alguns de seus companheiros solicitarão sua ajuda. Caso resolva não ignorá-los, estes poderão ter suas naves destruídas e não mais lhe acompanharão em sua aventura.

Quando jogar, tente descobrir como acessar as duas fases secretas também.

Super Weekend

Além das mais de 4 milhões de cópias vendidas por todo o mundo, os fãs de Star Fox contaram com aproximadamente dois mil cartuchos de uma edição especial chamada Super Weekend. A ideia principal foi promover uma competição divulgando o jogo em alguns países (principalmente nos E.U.A. e Reino Unido). O título “Official Superweekend Cartridge” (Cartucho Oficial do Superweekend) aparecia na tela principal do game e os jogadores passavam por diferentes fases modificadas, testando todas as suas habilidades. Uma fase bônus também foi adicionada a esta edição de Star Fox.

O Super Star Fox Weekend (E.U.A.) e Star Wing Challenge (Reino Unido) contou com dezenas de milhares de competidores por várias lojas ao longo destes países e distribuiu camisetas, jaquetas ou até mesmo viagens internacionais, dependendo de sua pontuação.

Continuidade da série

Em 1993, Star Fox foi apontado como o melhor jogo de tiro do ano pela revista Electronic Gaming Monthly, além de ser considerado um dos 200 melhores jogos da época. Com o majestoso sucesso do game, sucessores foram aparecendo. Hoje temos Fox McCloud e seus companheiros em Star Fox 64 (Nintendo 64), Star Fox Adventures (Game Cube), Star Fox Assault (Game Cube), Star Fox Command (Nintendo DS), Star Fox 64 3D (Nintendo 3DS) e Star Fox Zero (Wii U), além de aparições em outros games, como Super Smash Bros., WarioWare: Smooth Moves e Super Mario Maker. Vários outros jogos da franquia foram cancelados, como Star Fox 2.

Clássicos nunca morrem

Se você nunca jogou este clássico, está esperando o que?

Este não é apenas um dos jogos mais vendidos para SNES, mas um jogo que quebrou barreiras tecnológicas e trouxe avanços significativos para as próximas gerações de consoles, além de ser um dos mais divertidos e com jogabilidade incontestavelmente superior aos outros rail shooters da época, graças ao processamento gráfico do Super FX.

Se você já jogou, jogue novamente para experimentar a nostalgia de ser um membro da Star Fox Team ou confira outros jogos da franquia. Vale a pena!

Vídeo

Star Fox – Longplay – Fonte: World of Longplays


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Lucas Rodrigues

Gamer desde que tem memórias de sua infância, a paixão pelos videogames iniciou-se no Mega Drive e teve seu ápice no PS1 com os JRPGs (a franquia Final Fantasy foi a protagonista). Trabalha como analista de sistemas e designer de jogos. Possui mestrado em Imagem e Som em andamento pela Universidade Federal de São Carlos, onde desenvolve pesquisas sobre o mercado independente de jogos brasileiros. Sempre escolheu o Squirtle como pokémon inicial e possui alinhamento Neutral Good.

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