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Sword of Sodan (Mega Drive) – uma aula de como não fazer um jogo

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Sabe aquele jogo na prateleira que lembrava Golden Axe na arte da capa e você não deu uma chance para alugar? Tenho boas notícias! Você economizou uma grana e não passou raiva durante o fim de semana todo. Mas caso o tenha alugado, aqui vai os meus sinceros pêsames. Sword of Sodan pode ser facilmente classificado como um dos piores jogos para o Mega Drive já lançados, mesmo oferecendo gráficos relativamente bons para a época de seu lançamento inicial.

“Uau!! Olha os gráficos desse jogo! Deve ser muito bom!!!”

Commodore Amiga x Sega Genesis

Sword of Sodan foi lançado inicialmente em 1988 para o Amiga, sendo portado para o Mega Drive em 1993. A versão original até que recebeu alguns comentários positivos da mídia, mas mesmo assim continua sendo um jogo que você deve manter na sua prateleira… manter bem longe!

Diferenças gráficas e sonoras são visíveis: o Mega Drive possui ausência de trilha sonora e os efeitos são inferiores; em compensação, pode-se discutir sobre a qualidade gráfica, deixando a preferência de alguns para o console da Sega. Um upgrade é notável: as cores do Mega Drive são bem mais vivas em comparação à versão de PC. Os sprites no console também são menores, deixando o jogador com uma visão mais periférica do ambiente.

Versão de Amiga de Sword of Sodan

Com todos esses downgrades e upgrades entre as versões, qual seria a melhor para jogar? A resposta é muito simples: NENHUMA! As duas versões, embora discutíveis sobre qual é menos pior, são horríveis.

Está com a cabeça cheia e precisa se distrair um pouco? Jogue par ou ímpar com seu cachorro, mas não jogue Sword of Sodan.

Heróis com a agilidade da minha avó

Pode-se comparar Sword of Sodan em alguns aspectos com Golden Axe: o estilo gráfico dos heróis, os cenários, a narrativa baseada em fantasia medieval, o chamado à aventura para salvar uma terra ameaçada. Não ouse fazer qualquer outra comparação além dessas para não ofender um dos jogos mais icônicos que jogamos na infância.

Selecione seu idoso

Em Golden Axe, você claramente controla heróis dignos de respeito, cheios de vitalidade, força e destreza em cada movimento. Os personagens de Sword of Sodan aparentam sofrer de distrofias musculares. O ritmo do jogo é extremamente lento, marcado por movimentos “duros” e animações horríveis. Parece que os designers ficaram com preguiça e resolveram que 2 ou 3 sprites é o suficiente para representar um movimento. Até o Kirby segurando uma espada é um cavaleiro mais digno de respeito se comparado aos dois heróis principais deste jogo.

Hitboxes e falta de movimento vertical

Será que essa situação pode piorar? A resposta é: pode, e muito!

Logo no começo, o jogador se depara com alguns inimigos empunhando lanças enquanto o herói possui uma espada curta que mais parece um palito de dentes sem ponta (talvez um palito fosse mais útil). Nesse momento percebe-se claramente que os inimigos possuem maior alcance de ataque que você, tornando a tarefa de atacá-los mais difícil. Além disso, as hitboxes dos personagens não são bem definidas. Não há clareza na definição de uma distância segura de ataque ou de como acertar o alvo. Você vai passar a maior parte do tempo dando cutucadas com sua espada no ar.

Olha o tamanho da lança do cara!!! Que coisa desleal pra uma primeira fase!

Após alguma familiaridade com o sistema de ataque, é possível perceber que o meio mais fácil de não tomar dano e garantir uma maior acurácia de movimentos é abaixando e espetando a espada no inimigo, acertando… sua região genital! (Sério… gostaria que essa parte fosse mentira, mas não é. Neste jogo você vai matar muita gente “espetando” suas genitálias.)

Outro fator contribuinte para a total falta de sentido no jogo é a presença de inimigos em ambos os lados da tela, ao mesmo tempo que não é possível movimentar-se verticalmente para desviar deles ou driblá-los, como na maioria dos beat ‘em ups. O contato físico com os inimigos pode ou não provocar dano no herói, mas também não há clareza em como as colisões funcionam. Em alguns casos, você vai perceber que algum objeto acertou o personagem e nada aconteceu; em outros, que nada o acertou e o personagem tomou dano. É uma loucura!!!

Poções

Logo no início do jogo, é possível perceber que há poções no chão que podem ser coletadas. O sistema é até interessante: poções possuem diferentes cores (vermelha, laranja, azul e transparente) e efeitos, podendo também ser combinadas para gerar um efeito melhor. Entretanto, nada nesse jogo pode ser bom, não é mesmo? Os desenvolvedores tiveram que implementar um sistema para estragar essa boa ideia. Um jogador comum vai demorar alguns minutos para entender que ele deve recolher a poção do chão, apertar Start para selecioná-la e depois apertar A durante o jogo para consumí-la. Podia ser algo mais fácil, não?

Tenho 3 poções… mas como eu uso?

Contudo, vamos dar um pequeno ponto positivo para o sistema de poções. Embora seja um pouquinho complicado descobrir como funciona à primeira vista, é muito mais divertido misturar as diferentes bebidas e ver quais são seus efeitos do que ficar alfinetando órgãos genitais medievais.

Inversão de level design

Como é possível ver em alguns estudos sobre level design, o objetivo dos primeiros minutos de jogo é proporcionar um cenário onde o jogador possa identificar de modo seguro e interativo todas as principais mecânicas que serão utilizadas durante o gameplay.

“Os caras tão de machado agora? Tá me zoando!!!”

Um erro grotesco que Sword of Sodan comete nesse aspecto é colocar inimigos com machados na terceira fase, enquanto nas duas primeiras eles possuem lanças. Ou seja, ao invés de enfrentar inimigos com menor alcance no começo para que o jogador se familiarize com o sistema de ataque, esse papel é totalmente invertido, deixando jogadores frustrados no primeiro nível e uma “folga” no terceiro para aqueles que passaram por toda a dor de cabeça de experienciar batalhas difíceis nos primeiros minutos de gameplay. Sacanagem!!!

PERIGO: NÃO JOGUE!

Será que todo o projeto de implementação de Sword of Sodan foi feito por crianças? Ou pior ainda: será que ninguém testou o jogo antes de definir se estava bom o suficiente para ser lançado? Será que os desenvolvedores sentem vergonha hoje em dia de terem feito um jogo tão abominável?

“Morri de tédio aqui.”

Se você chegou até aqui, peço desculpas por perder cerca de 10 minutos da sua vida descobrindo detalhes inúteis sobre um dos piores títulos de todos os tempos. Pense pelo lado bom: é melhor perder 10 minutos lendo sobre essa monstruosidade em 16 bits do que jogando.

Se ainda tiver vontade de conferir essa abominável narrativa medieval mesmo após todos os comentários neste texto, boa sorte! Não diga que não avisei!

Vídeo

Caso não tenha nada melhor para fazer neste momento, perca mais alguns minutos da sua vida assistindo ao gameplay de Sword of Sodan.

Sword of Sodan – Gameplay (Fonte: World of Longplays)

Picture of Lucas Rodrigues

Lucas Rodrigues

Gamer desde que tem memórias de sua infância, a paixão pelos videogames iniciou-se no Mega Drive e teve seu ápice no PS1 com os JRPGs (a franquia Final Fantasy foi a protagonista). Trabalha como analista de sistemas e designer de jogos. Possui mestrado em Imagem e Som em andamento pela Universidade Federal de São Carlos, onde desenvolve pesquisas sobre o mercado independente de jogos brasileiros. Sempre escolheu o Squirtle como pokémon inicial e possui alinhamento Neutral Good.

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